Desagravo do Exército aos cadetes mortos


22/10/2012


Em cerimônia com muita emoção, o Exército Brasileiro pediu oficialmente desculpas aos familiares do cadete Márcio Lapoente da Silveira, morto há 22 anos, em 9 de outubro de 1990, devido a torturas e maus tratos durante curso na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). O Comandante do Exército, General Enzo Martins Peri, presente ao ato de reconhecimento, saudou Márcia Lapoente da Silveira, a mãe de Márcio, em nome da corporação, e afirmou que o ato enfatizava o pedido de desculpas oficiais do Estado nacional pela ocorrência.
 
Ao discursar antes de descerrar uma placa alusiva ao filho e demais cadetes mortos, Márcia Lapoente da Silveira lembrou que a sua família adotou o lema “Esqueçamos o luto e vamos à luta”, que resultou no reconhecimento oficial do excesso cometido pelo Exército. Ela exortou os militares a respeitarem os direitos humanos e darem ênfase a essa matéria nos currículos de formação dos oficiais.
 
Márcia Lapoente homenageou também o marido, Sebastião Alves da Silveira, pai de Márcio, já falecido, que junto com ela participou da mobilização para que a morte do filho e dos demais cadetes não fosse esquecida. Ela lembrou os anos de luta para que o Exército reconhecesse o que tinha sido feito ao filho e demais cadetes, campanha assumida pelo Grupo Tortura Nunca Mais, cujos integrantes, entre os quais a Presidente, Victoria Grabois, e a Diretora Cecilia Coimbra, participaram da cerimônia, que elas classificaram como “um ato histórico de suma importância”.
 
Na placa descerrada consta que “O Exército brasileiro e a Academia Militar de as Agulhas Negras homenageiam o cadete Márcio Lapoente da Silveira e demais cadetes falecidos quando estavam em instrução decorrente da Formação de Oficiais”.
 
Foi enfatizado no pedido de desculpas do Exército que cabe ao Estado brasileiro assegurar a vida dos que estiverem em dependências sob sua responsabilidade e que tais fatos não se repitam mais. Com isso foi admitida a ilegalidade cometida contra Márcio Lapoente da Silveira e demais cadetes. Não foi informado o total de cadetes mortos em circunstâncias idênticas àquelas de que resultou da morte de Márcio.
 
Além do Comandante da Aman, General-de-Brigada Julio Cesar de Arruda, estiveram presentes dezenas de oficiais de várias patentes, alguns dos quais chegaram às lágrimas. André Saboia representou a Ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.
 
Ao final da cerimônia foi rezado um Pai Nosso pelo capelão militar da Aman, que abençoou as placas em homenagem a Márcio e demais vítimas da reconhecida truculência. Em seguida houve o toque de silêncio.
 
Apesar de informados sobre a cerimônia na Aman, nenhum órgão de imprensa cobriu o ato de pedido de desculpas do Exército.
 
A ABI foi representada no ato pelos Conselheiros Mário Augusto Jakobskind e Arcírio Gouvêa Neto, Presidente e Secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos.