“Defesa da democracia é a principal tarefa”, diz Pagê sobre eleições na ABI


07/04/2022


Redação Portal IMPRENSA

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) realizará neste mês de abril eleições para a escolha de sua nova diretoria. Com Helena Chagas como vice na chapa, a jornalista e escritora Cristina Serra apresentou em fevereiro sua candidatura. Elas vão disputar o pleito com o Movimento ABI Luta pela Democracia, que venceu as eleições de 2019 para a Diretoria e para os Conselhos da ABI e que tem como líder da chapa neste ano o jornalista Octávio Costa, na presidência, e a jornalista Regina Pimenta, na vice.
Para conversar a respeito dessa disputa, o Portal IMPRENSA entrevistou com exclusividade neste Dia do Jornalista o atual presidente da ABI, Paulo Jeronimo de Souza, que recentemente recebeu a Medalha Tiradentes, considerada a maior honraria concedida pelo estado do Rio. Pagê, como é conhecido, foi homenageado após os parlamentares aprovarem a proposta da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ), que justificou a honraria como reconhecimento ao trabalho do jornalista e da ABI na luta em defesa da liberdade de expressão no país.
Na conversa a seguir, Pagê, que já foi assessor de imprensa do BNDES, do Banerj, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura do Rio de Janeiro, ressaltou que, depois de enfrentar uma grave crise nos últimos 20 anos, a ABI não apenas conseguiu resgatar seu protagonismo e sua imagem positiva na sociedade brasileira, como também equilibrou as contas e mantém todos os salários de seus colaboradores em dia.
Portal IMPRENSA – Nos últimos 20 anos, as eleições na ABI tiveram intervenções que geraram crises jurídicas, levando a Justiça a intervir. Essa fase de desordenamento regulatório acabou? Como está sendo o clima para o próximo pleito?
Pagê – Uma das nossas preocupações, como diretoria, tem sido a superação definitiva dessa judicialização que marcou muitas disputas na ABI em tempos recentes. Para tal, temos tido uma preocupação muito grande em não dar margem para reclamações de qualquer tipo. Um exemplo: na eleição passada, na qual foi eleita a atual diretoria, foi preciso que recorrêssemos à Justiça para obter a relação dos associados. Nesta eleição, fornecemos a lista, acompanhada dos respectivos e-mails, endereços e telefones, antes que começasse o processo eleitoral ou mesmo estivesse aberta a inscrição das chapas. A única exigência que fizemos foi que dez associados garantissem, por escrito, que os nomes não seriam usados para outros fins que não o debate sobre a ABI. Este é só um exemplo, mas mostra uma preocupação com a ampliação da democracia. Por termos esse comportamento da diretoria, penso que não teremos nesta eleição a judicialização que marcou disputas anteriores.
Portal IMPRENSA – Qual são as diferenças antagônicas mais visíveis nos planos de ação das chapas que disputam as eleições?
Pagê – Penso que esta pergunta deveria ser feita à chapa de oposição. É inequívoco que a atual diretoria recuperou o protagonismo que a ABI teve em seus melhores dias. Não é à toa que muitas vezes a atual oposição não se apresenta como tal, mas como “a chapa que não é de situação”. Não é fácil se dizer de oposição a uma diretoria que tem o reconhecimento da nossa. De qualquer forma, temos consciência de que a nossa defesa da necessidade de rejuvenescimento dos quadros da ABI e da nacionalização da entidade, que ainda é muito carioca, incomoda muita gente que se considera “dona” da ABI. Mas a ABI não pode ser vista como de A, B ou C, mas dos jornalistas como um todo.
Portal IMPRENSA – Qual o balanço da atual diretoria, cujo mandato encerra-se em abril?
Pagê – É extremamente positivo. Assumimos uma entidade sem presença no cenário político brasileiro, com os salários dos funcionários atrasados, as contas bancárias bloqueadas e o CNPJ congelado. O quadro hoje é inteiramente diferente. Mesmo tendo enfrentado dificuldades adicionais devido à pandemia, hoje temos os salários em dia e a ABI é respeitada na vida política do país.
Portal IMPRENSA – Que leitura têm hoje campanhas como “O petróleo é nosso”, pela exigência do diploma de jornalista, pela anistia, pela Constituinte de 87/88 e o Movimento dos Caras Pintadas, todas do século passado?
Pagê – Elas são parte da história da ABI, uma história da qual nos orgulhamos muito. Costumamos dizer que, em seus 114 anos de vida, a ABI sempre esteve do lado certo da história. Hoje temos um governo que é inimigo da democracia, da liberdade de imprensa e dos jornalistas. A ABI – em abrir mão de seu caráter suprapartidário – está na linha de frente do combate a esse governo e na defesa de um Brasil democrático e soberano.
Portal IMPRENSA – O protagonismo político na ABI junto à sociedade civil brasileira, retomado em seu mandado, é uma das metas nas eleições de 22 na associação? Ou há outros objetivos mais urgentes, dada a conjuntura nacional?
Pagê – Dada a situação política que vivemos, hoje, mais do que nunca, a defesa da democracia é a principal tarefa a ser enfrentada.
Portal IMPRENSA – Qual a possibilidade de a restauração do prédio da ABI, depois do tombamento, entrar nos orçamentos da União, Estado do Rio de Janeiro ou Município?
Pagê – Temos mantido conversações com parlamentares para que determinadas emendas, relacionadas com o financiamento de obras de conservação e modernização de nosso prédio, sejam encaminhadas por eles. A médio prazo poderemos  ter boas notícias.