Bolsonaro mente nos EUA e indígenas procuram Bruno e Dom na floresta


11/06/2022


Carlos Tautz

Enquanto o Presidente da República, Jair Bolsonaro, mentia na Cúpula das Américas (Los Angeles, EUA), dizendo que seu governo busca “incansavelmente” o antropólogo basileiro Bruno Pinheiro e o jornalista inglês Dom Philips, no Vale do Javari (AM), organizações indígenas e indigenistas se viravam na floresta com a pouca ajuda oficial para encontrar os dois desaparecidos desde o dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). A região é coalhada de grupos armados ilegais e vazia de instituições do Estado brasileiro.

No plano institucional, foi uma organização indígena que instigou o Supremo Tribunal Federal (STF) a se pronunciar sobre a perversa lerdeza e irresponsabilidade com que o governo diz que apóia as buscas por Bruno e Dom.

Por isso, ontem, o Ministro do STF, Luis Roberto Barroso, determinou que a União adote “imediatamente todas as providências necessárias à localização de ambos os desaparecidos, utilizando-se de todos os meios e forças cabíveis”. A decisão do ministro atende à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), de número 709, impetrada no STF pela Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib).

No Amazonas, as organizações que se responsabilizaram pelas buscas em campo precisaram solicitar ao Embaixador do Peru “cooperação para realizar ações de busca e salvamento nas áreas fronteiriças no (sic) território peruano”. Região contígua à fronteira com o Peru, o Vale do Jaguari é uma imensa floresta única, onde os marcos divisórios nacionais são difíceis de discernir.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e os Observatórios dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) afirmam em correspondência endereçada ao embaixador peruano Rómulo Acurio que “a solicitação foi realizada em função da atuação transnacional dos agentes criminosos potencialmente envolvidos nas circunstâncias do desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips. Transmitimos nosso profundo agradecimento ao governo peruano pela sua cooperação neste momento dramático”.

Até então hibernando, a Fundação Nacional do Índio (Funai) – chefiada por um delegado, que fechou seus postos na região e que persegue politicamente Bruno Pinheiro, seu funcionário (licenciado) -, aderiu à abjeta mitomania de Bolsonaro. Em vez de procurar os desaparecidos, assumiu o papel de inimiga de quem assume a responsabilidade pelas buscas: “A Funai irá acionar o Ministério Público Federal (MPF) para que seja apurada a responsabilidade da Univaja quanto à possível aproximação com indígenas de recente contato sem o conhecimento da instituição e, aparentemente, sem a adoção das medidas sanitárias cabíveis, entre elas, a realização de PCR e de quarentena de 14 dias”.

Sete organizações sociais (Artigo 19 Brasil e América do Sul, Instituto Vladimir Herzog, Alianza Regional por la Libre Expresión e Información, Repórteres sem Fronteiras, Associação Brasileira De Jornalismo Investigativo, TORNAVOZ, Washington Brazil Office) encaminharam à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), pedido de medidas cautelares sobre o governo do Brasil “para resguardar a vida e a integridade de Dom Phillips e de Bruno Araújo Pereira”.

As quatro medidas solicitadas são a localização e salvaguarda da vida e integridade de Dom e Bruno; a adoção de medidas para que eles desenvolvam suas atividades sem sofrerem ameaças; investigação dos fatos que deram origem à solicitação; e que o governo brasileiro “se abstenha de realizar declarações atribuindo a responsabilidade do acontecido às vítimas, ou mesmo à região e às dificuldades de locomoção relacionadas”.