Atrás das celebridades


03/03/2006


Os jornalistas de revistas e sites de celebridades têm muito trabalho durante os desfiles na Marquês de Sapucaí. Os astros multiplicam-se ao longo das alas e nos camarotes e frisas que circundam a avenida. E, para dar conta da cobertura de tudo o que envolve os famosos, os repórteres se dividem por todos os setores do sambódromo.

 Flávia: Conta Mais e Fuxico

Alguns desses jornalistas, no entanto, ainda conseguem encontrar tempo para se divertir e dar conta de outras funções além do que está previamente pautado. É o caso de Flávia Cirino, repórter da revista Conta Mais e do site O Fuxico, casada e mãe de um menino de 1 ano. Além de cobrir toda a festa na avenida, no sábado à noite ela desfilou no Salgueiro e, ao final, correu para a sala de imprensa para redigir um release sobre a apresentação da escola e distribuí-lo aos veículos, sem descuidar do trabalho:
— É uma correria, mas muito prazerosa. Assisto um pouco aos desfiles, vejo quem são os famosos, observo-os e corro para o computador, para dar notícia em tempo real. Faço carnaval a vida inteira e acabei unindo o útil ao agradável.

Ana, da Quem Acontece

Ana Braga, repórter da revista Quem Acontece, está em seu quarto ano de Sapucaí. Já foi pautada exclusivamente para cobrir o que acontecia nos camarotes, mas hoje prefere a pista, principalmente a área da concentração:
— Nesses dias é muito fácil encontrar os artistas, principalmente porque eles estão sempre cercados pela imprensa, são alvos fáceis. Para estar aqui nessa correria, porém, é preciso gostar de carnaval e do trabalho, porque se não, no fim da noite, você está esgotado.

No domingo de carnaval, antes de a segunda escola entrar na avenida, Ana já tinha entrevistado Carol Castro, Luana Piovani, Adriane Galisteu, Luciana Gimenez, Angélica, Luciano Huck e Sandra de Sá. Isso tudo num dia fraco, segundo ela:
— A segunda-feira é sempre o melhor dia, pois é quando acontecem os desfiles da Mangueira, da Mocidade e de outras escolas preferidas do público. Nossa revista tem equipes espalhadas nos camarotes e na concentração. Depois, juntamos todo o material e sai a edição de carnaval.

Márcia, freelancer

Jornalista há quase 30 anos, Márcia Penna Firme foi freelancer da Quem nos dias de carnaval. Ela diz que a cobertura de celebridades tem muitos obstáculos, pois, ao mesmo tempo em que elas não querem falar, sentem-se também envaidecidas por serem procuradas:
— No entanto, é sempre um encontro muito rápido, em que você tem muito pouco tempo para explorar o que essas pessoas têm a dizer. E a celebridade está muito vinculada ao espetáculo em si, seja o carnaval, ou um show etc. É uma cobertura muito pontual, porque não fazemos uma história da estrela, o gancho é que ela é uma celebridade naquele momento.

Segundo Márcia, é um trabalho difícil e cansativo porque todos os repórteres cobrem as pessoas de destaque. Assim, para obter algum ponto diferencial na cobertura, é preciso observar a celebridade:
— Todos entrevistam ao mesmo tempo. Fiquei fixada na concentração, porque aqui é o único momento em que você consegue falar com alguém com mais tempo. Não dá para acompanhar cada um a noite toda.

Para Márcia, carnaval é uma cachaça:
— Parece que não sai da sua veia. Por mais que digamos estar cansados, sempre voltamos e somos contagiados pelo clima de euforia. Quem faz carnaval se empolga sempre, ainda que o ritmo da cobertura seja sempre o mesmo. É muita ralação, são muitas horas de trabalho, e quem cobre reclama, mas gosta. É o que permite que fiquemos aqui até o dia raiar. Do contrário, a gente pira.

Clarissa, da IstoÉ Gente

Clarissa Monteagudo, repórter da IstoÉ Gente, diz que o trabalho em sua editoria é basicamente prestar atenção em pessoas que despertem o interesse do público, e não necessariamente que sejam de TV:
— É preciso prestar atenção em atletas, grandes ídolos, rainhas de bateria… O grande termômetro é o setor 1: a pessoa que levanta a arquibancada é quase sempre aquela mais procurada pelas revistas de celebridades.

De acordo com Clarissa, o diferencial desse tipo de cobertura é perceber o inusitado do comportamento do artista:
— É preciso saber tirar a frase divertida, trazer o espírito daquela pessoa para a cobertura. Muita gente acha um trabalho fútil, mas, se você tiver um olho bacana, consegue transformar aquilo em algo interessante. É possível conseguir uma boa frase sobre política ou um comentário bem-humorado que é também uma crítica ao comportamento das pessoas aqui. O Zeca Pagodinho e a Suzana Vieira, por exemplo, são ótimos frasistas. Basta dar um tema que eles saem com uma boa frase, rendem matéria. A cada vez que a Suzana abre a boca sai uma frase divertida, característica do espírito dela.

Clarissa diz que é muito fácil encontrar artistas na Sapucaí, a não ser os que estão passando por alguma situação que não querem comentar. Depois de cobrir muito camarote, este ano ela estreou na concentração:
— É muito mais gostoso, porque nos camarotes você tem o comportamento de uma festa à parte. Aqui, o artista está em festa junto com o povo. Quando entrevistei a Luana Piovani no domingo, ela estava no meio da Presidente Vargas, sendo ovacionada pelo público e se aquecendo, fazendo várias poses divertidas que renderam muitas fotos. São situações de muita espontaneidade. O bom repórter é aquele que tem um olho para o que é diferente.

Com experiência em diversos segmentos do jornalismo, Clarissa diz não ter preconceito contra nenhuma editoria, pois acredita que em todas pode-se fazer um trabalho inteligente, “desde que não se persiga o óbvio”:
— Existe uma relação de amor e ódio entre os artistas e as revistas de celebridades, porque, ao mesmo tempo em que invadem a privacidade deles, elas também levantam a carreira de muitos. Não podemos mais ignorar a cultura de celebridades, ela existe. Agora a questão é discutir como ela será feita com qualidade.