Ataque de Derrite é afronta à liberdade de imprensa, dizem entidades


27/10/2023


Com informações da Folha de São Paulo

Duas das principais associações de defesa do jornalismo brasileiro criticaram as falas do secretário da Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, que, durante evento, declarou que parte de imprensa é canalha, publica fake news e trabalha a favor do crime.

“Canalha, de baixo nível, é a declaração do secretário [Derrite]. Pela falta de argumentos, parte para xingamentos. Se a notícia não agrada, ataca o mensageiro, que é a imprensa”, afirmou Octávio Costa, presidente da ABI.

Para Cecília Oliveira, diretora da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), as afirmações feitas pelo secretário são uma afronta à liberdade de imprensa e uma incitação aos ânimos de alguns policiais diante do trabalho de jornalistas.

“Apesar de não nomear os órgãos que criticou, e [se nomeasse] prestaria um grande serviço para que esclareça suposta relações com o crime. Se está ciente de algum crime cometido, precisa denunciar, porque senão está prevaricando. Assim como acusados poderiam se defender”, afirmou ela.

Ainda segundo a diretora, os jornalistas passaram por um período no governo de Jair Bolsonaro (PL) em que os ataques à imprensa foram estimulados. Derrite, afirma, é simpático ao ex-presidente e usa a mesma tática. “Permanece no modus operandis que agita uma base radicalizada e pode ser útil em sua ambição [política]”, afirma Cecília.

Conforme levantamento da Abraji, os ataques a jornalistas saltaram de 130 casos, em 2019, para 557, no ano passado. A associação diz que, em 41,6% desses casos, há ao menos um integrante da família Bolsonaro envolvido.

Os ataques feitos por Derrite ocorreram durante palestra em evento privado, o 3º Congresso de Operações Policiais (COP), realizado na capital, cuja plateia era formada por policiais e por empresários ramo de armas e tecnologia voltadas às operações policiais.

O secretário fazia um balanço dos dez meses de gestão e destacou o combate ao tráfico de drogas, em especial no enfrentamento na cracolândia, na região central, e também ressaltou a Operação da Escudo, na Baixada Santista, que deixou ao menos 28 mortes.