A Igualdade Étnico-Racial e os Jornalistas do Século XXI


05/06/2023


Aos 86 anos, dos quais 41 vividos como sócio da Associação Brasileira de Imprensa, o jornalista, radialista e compositor Rubem dos Santos, o Rubem Confete abriu nesta segunda-feira (5), a série de depoimentos para o Acervo Digital dos Jornalistas Negros, que está sendo construído pela ABI em parceria com a PUC-RJ, abrange os profissionais que passaram a atuar no mercado das Comunicações no Século XXI.

O objetivo do projeto é colher depoimentos em vídeo de profissionais indicados pela Diretoria de Igualdade Étnico-Racial da ABI, em gravações que serão realizadas nas instalações da PUC-Rio. Os depoimentos serão editados usando a estrutura do Departamento de Comunicação e, após a finalização de cada episódio, os vídeos serão postados e compartilhados nas redes das duas instituições.

O presidente da ABI, Octavio Costa, enalteceu a iniciativa em torno da construção do Acervo dos Jornalistas Negros (as) do Século XXI e ressaltou a importância do papel desempenhado pelo jornalista Rubem Confete, que há 45 anos milita na ABI.

Para Luiz Paulo Lima, diretor de Igualdade Etnico-Racial da ABI, Rubem Confete inaugura esse encontro institucional “com sua trajetória singular, humana e potente, uma clássica identificação como um legítimo ‘ Griot”. Mas ele vai além desse reconhecimento, por sua relação com a natureza política, um “Baobá”. Uma árvore de grande porte, que dá flores e frutos. Uma árvore sagrada, que representa a luta e a espiritualidade do povo negro das Áfricas, O substantivo vai além da etimologia. Conhecido como a árvore do esquecimento, quando davam 9 voltas no entorno da “barriguda” como ficou carinhosamente conhecida nas poucas espécies encontradas no Brasil. Confete metaforicamente se assemelha a essas simbologias. Mesmo com todas as tentativas de apagamento, resiste forte e resiliente”.

Após uma intensa luta das gerações que os precederam, os novos profissionais colhem os frutos e se posicionam de maneira assertiva contra o racismo naturalizado na sociedade, em geral, e nas redações, em particular, na busca de espaço igualitário de atuação, algo que deveria pautar sempre uma categoria que, por princípio, é destinada a lutar sempre pela Democracia, Igualdade e Direitos Humanos.

Consciência Negra

Ninguém duvida que Rubem Confete é um “griot”. Ao contar histórias, narrar acontecimentos, cantar as lutas de um povo e evocar suas entidades protetoras, está resgatando e transferindo tradições para as gerações futuras. Por isso, ele descreve a sabedoria, a solidariedade, a cidadania e a resistência como pilares da valiosa herança construída pela civilização africana. Uma origem, uma consciência negra que não podem ser abandonadas por seus filhos.

Militante do movimento negro no Brasil, Rubem Confete, em 1977, esteve no Festival Mundial de Arte Negra, na Nigéria. Ao falar sobre preconceito racial, ele aposta que o caminho para a conquista do respeito está na busca da ancestralidade.

Assim que se tornou referência no jornalismo especializado em samba e carnaval na mídia impressa e falada, Rubem Confete alcançou também o público de TV. Entre 1981 e 1982, participou, ao lado de José Ramos Tinhorão e Fernando Pamplona, do “Programa Mesa Redonda”, da TV Gazeta que tinha como tema a Música Popular Brasileira. De 1988 a 1990, fez os comentários para os desfiles de carnaval transmitidos pela TV Globo. Em 1992, integrou o Júri Paralelo de Carnaval na Rede Manchete. Mas os tempos foram difíceis para o jornalista nos impressos e nas emissoras de rádio. Continental e Roquete Pinto foram as primeiras, até o fim dos anos 70. O trabalho do talentoso colunista era prestigiado, mas não remunerado. Atualmente, o Ponto do Samba vai ao ar pela rede Nacional de Rádios (RJ, SP, Brasília, Recife e São Luís/MA), sábados, uma da tarde, com reprise aos domingos, 11 horas, para o Rio de Janeiro.

Entre 1975 e 1992, escreveu para vários jornais e revistas, entre eles Pasquim, Jornal Lampião (jornal da comunidade gay editado pelo novelista Aguinaldo Silva), Revista Nacional, Revista Panorama, Jornal Tribuna da Imprensa, Revista Unidos da Tijuca. O jornalismo foi um divisor de águas para o cidadão negro a partir do momento em que ele se tornou um profissional da imprensa

O Acervo Digital dos Jornalistas Negros do Século XXI começa a ser organizado com o depoimento dos profissionais que atuam no Rio de Janeiro, sendo que a ABI e a PUC-RJ planejam a obtenção de patrocínio ou apoio para realização desse levantamento em todo o País.