22/11/2006
José Reinaldo Marques
24/11/2006
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Receber Menção Honrosa no 28º Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos pela série “Herdeiros da miséria”, que fez para a reportagem “Vidas ainda secas”, foi uma surpresa para Kiko Charret, do jornal O São Gonçalo:
— Não costumava participar desse tipo de concurso, ainda mais em nível nacional. Mas serviu de incentivo não só para mim, como para toda a equipe de fotógrafos de O São Gonçalo. Todo jornalista sonha conquistar o Prêmio Herzog. E espero que seja o primeiro de muitos.
O ano passado também foi bom para Kiko: teve dois trabalhos sobre meio ambiente selecionados para uma mostra do Festival de Inverno de Bonito, em Mato Grosso do Sul, e foi escolhido para freqüentar um curso de trabalhos jornalísticos em ambientes hostis, na Argentina:
— Foi um curso patrocinado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para jornalistas de todo o Brasil. Anualmente, eles fazem uma seleção de repórteres e fotógrafos, baseado na rotina diária de trabalho desses profissionais. Passamos uma semana num quartel do Exército, em Buenos Aires, fazendo um treinamento supervisionado por militares argentinos e observadores da ONU. Durante a capacitação, fomos submetidos a situações reais de guerra e conflitos armados.
Vocação
Kiko Charret começou a fotografar em 1999, quando aceitou o convite de um de um sobrinho, então estagiário de Jornalismo, para acompanhá-lo na cobertura de um treino do Botafogo, em Niterói-RJ. Ele ficou tão impressionado com o trabalho dos repórteres-fotográficos que estavam no local, que retornou ao clube no dia seguinte com uma máquina emprestada:
— Foi através do futebol que descobri minha vocação para a fotografia. Hoje, sou editor, posso escolher melhor, mas com certeza o esporte continua sendo uma das minhas pautas prediletas.
Seja na Chefia ou nas editorias de Esporte ou Polícia, Kiko sempre foi chamado pelos colegas de “poeta das imagens”:
— Deve ser porque digo com freqüência que fotografar é escrever um poema com a lente da câmera — justifica.
Acaso
“Vidas ainda secas”, segundo Kiko, foi uma pauta que surgiu por acaso, num plantão de fim de semana em que ele e o estagiário Patrick Guimarães saíram para cobrir um homicídio em Itaboraí-RJ:
— Na volta, vimos umas barracas plásticas na beira da estrada e pensamos que fosse um acampamento de ciganos. Resolvemos parar e encontramos a família do Seu Antônio. Acabei me sensibilizando com a história dele e de sua família e levando uma bronca da chefia de Redação, preocupada em fechar a edição do dia.
Quando teve tempo de contar a história para o chefe de Redação, ele acabou conseguindo “vender” a pauta:
— Elaboramos o roteiro da matéria e ele (Ari Lopes), juntamente com a repórter Marcele Bessa e o estagiário Patrick Guimarães passaram três meses apurando a matéria, vivendo o dia-a-dia da família do Seu Antônio. Foi uma experiência incrível, que rendeu premiação também de reportagem.
Como quase todo jornalista que faz cobertura de Cidade, mais de uma vez o fotógrafo se viu em situação de risco durante uma reportagem. Uma delas — que considera a mais marcante — aconteceu no Morro do Estado, em Niterói, quando ele e uma repórter cobriam a chegada de Papai Noel e a distribuição de presentes no local:
— Os traficantes me confundiram com um policial e me renderam. Fui levado para o alto da favela com uma pistola encostada na cabeça. Negociei com o chefe do bando para fazer a cobertura da festa das crianças e me mandaram voltar à tarde. Quando retornei, fui rendido novamente, porque o cara havia esquecido de avisar os “soldados”. Fiquei cerca de três horas sob o poder deles.
No mesmo morro, viveu nova situação delicada durante uma operação policial:
— Passei a noite toda e a madrugada acompanhando os policiais que caçavam os traficantes, até que um grupo invadiu uma casa e manteve uma família refém. Pela manhã, o Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio) foi chamado e negociou com os criminosos.
Referência
Dizendo-se sempre aberto a novos desafios profissionais, o repórter-fotográfico teme cometer injustiças ao citar os colegas que mais admira, mas diz que, se fosse fazer uma lista, não poderiam faltar nela Severino Silva, Custodio Coimbra e Luiz Alvarenga. Quanto às qualidades exigidas pela profissão, diz:
— Claro que é preciso ter dedicação, aprimoramento técnico… Mas também sempre achei que uma grande foto tem que ser acompanhada de um belo texto. Então, considero cada vez mais importante o aperfeiçoamento geral, para que possamos exercer a profissão na plenitude. Hoje é muito comum o fotógrafo ir sozinho para a rua cumprir uma pauta.
O fotógrafo avalia que a imprensa regional tem sido a saída para o crescimento do mercado de trabalho, e aconselha:
— Fazer um curso de Fotografia e confiar no próprio talento é o melhor caminho para começar. A grande foto pode estar passando na nossa frente a qualquer momento. Basta que estejamos na hora certa, no local certo e, claro, com a máquina preparada.
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