ABI quer novo Centro de Memória


21/02/2006


José Reinaldo Marques

A Associação Brasileira de Imprensa entrou com um pedido de apoio financeiro na Caixa Econômica Federal — por meio do Programa Caixa de Adoção de Entidades Culturais — para o projeto de recuperação de seu antigo Centro de Memória do Jornalismo Brasileiro. Este passará a se chamar Centro de Pesquisa e Documentação do Jornalismo e da Vida Contemporânea e já está sendo desenvolvido com a ajuda do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), da Fundação Getúlio Vargas.

Para o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, a recuperação do Centro de Memória da ABI é uma iniciativa de fundamental relevância para a entidade no sentido real da sua importância e da sua missão institucional. Fundada por Gustavo de Lacerda em 7 de abril de 1908, a Associação tem como objetivo principal assegurar à classe jornalística os seus direitos sem, contudo, ignorar o interesse público. (Veja em História da ABI)
— A ABI — destaca Maurício Azêdo — tem esperança de obter recursos para dotar seu Centro de Documentação de uma estrutura e de meios para conduzir um trabalho da significação para a vida nacional, qual seja a documentação da trajetória da História da Imprensa no Brasil sem a qual é impossível conhecer, em toda a sua plenitude, as origens e as lutas pelas transformações econômicas, políticas e sociais no País.

Por meio do patrocínio da CEF, a ABI pretende realizar a preservação e o tratamento do seu patrimônio documental formado por documentos textuais, iconográficos e sonoros — estes incluem um acervo de cerca de cem horas de entrevistas gravadas com expoentes do jornalismo brasileiro.

Personalidades como Carlos Lessa, Pompeu de Souza, Barreto Leite Filho, Raimundo Magalhães Júnior, Adão Pereira Nunes, Álvarus, Prudente de Moraes, neto, Ferreira Gullar, Odylo Costa, filho, Joel Silveira, Breno Caldas, Edmundo Moniz, Samuel Wainer e Alberto Dines estão entre os que deram depoimento à ABI — algumas gravações estão armazenadas no Museu da Imagem e do Som.

O projeto é assunto prioritário para a Diretoria da ABI, que vem se empenhando na busca das condições necessárias para a preservação e difusão do acervo, processo que deverá ser executado em várias etapas, começando com o tratamento do arquivo sonoro. A tarefa caberá ao CPDOC, que ficará responsável pela análise da documentação, a descrição e o acondicionamento adequado das peças documentais:
— Nossa proposta de trabalho prevê, inicialmente, a recuperação da história oral, que precisa ser tratada. Além disso, propomos a adoção de medidas de preservação e a produção de instrumentos de consulta e acondicionamento desse acervo importante da História do Brasil e do jornalismo — diz a Coordenadora do Setor de Documentação do CPDOC, Suely Fraga. 

Registro permanente 

           Joseti Marques

A definição da linha de acervo do novo Centro de Pesquisa e Documentação da ABI é uma atribuição da Diretoria da entidade, que encarregou a Diretora de Jornalismo, Joseti Marques, para cuidar do assunto. A jornalista diz que se sente muito honrada em participar do projeto com Maurício Azêdo e assinar, por determinação estatutária, este esforço de reativação do antigo Centro de Memória:
— Ele foi idealizado por grandes jornalistas — entre eles o próprio Azêdo — para ser um registro permanente dos fatos e personagens da imprensa brasileira, mas, infelizmente, foi deixado ao abandono. Pretendemos reafirmar a importância deste espaço e reconstruí-lo de forma a que se torne refratário à ação do descaso ou de más administrações, o que também esperamos que nunca mais venha a ocorrer na ABI.

O Centro de Pesquisa e Documentação do Jornalismo Brasileiro e da Vida Contemporânea será uma versão atualizada do antigo Centro de Memória do Jornalismo Brasileiro, criado em 1978 como parte do processo de reorganização da Biblioteca Bastos Tigre, desativada na gestão de Celso Kelly, nos anos 60, devido à crise financeira vivida pela ABI, e hoje instalada no 12º andar do edifício-sede da entidade. 

A biblioteca ocupava todo o 8º andar, que foi então alugado para gerar receita para a Associação, ainda que com grave prejuízo cultural e renúncia à idéia dos fundadores da ABI. Com novos recursos, foi implantado o Centro de Memória, cujo primeiro trabalho registrou “A imprensa na década de 20”, tema escolhido, entre outros motivos, pela possibilidade de se obter depoimentos de jornalistas que haviam trabalhado em publicações daquele período. São preciosidades como essa que agora precisam ser recuperadas e digitalizadas, para que não se perca parte importante da História do Brasil.