ABI: ‘Fiz questão de ajudar”, diz Othília, aos 93 anos


25/01/2021


Crédito: Acervo pessoal

Quando a doação chega em uma caixa de afetos

Assim como na época em que era casada com o jornalista Roberto Pompeu de Sousa, Othília Pompeu se une à luta pela sobrevivência da ABI

Por Bete Nogueira, jornalista

Mesmo em períodos de perseguição e injustiças, a grandiosidade do jornalismo brasileiro se sobressai. No meio de uma campanha para arrecadar fundos para a ABI – que precisa modernizar suas instalações e honrar pagamentos–, a associação recebeu uma doação de alguém que ajudou, nos bastidores, a escrever a história da Casa do Jornalista. É a psicóloga Othília Pompeu de Sousa Brasil, que foi casada com o jornalista Roberto Pompeu de Sousa Brasil (1916-1991), e com quem teve quatro filhos; entre eles, a também jornalista Sônia Pompeu.

“Quando soube da situação da ABI, fiz questão de ajudar. Sou mulher e mãe de jornalista, e já vivi outra época em que a associação precisou de doações para continuar defendendo os profissionais”, conta dona Othília, de 93 anos, que doou R$ 2 mil (veja abaixo sobre as campanhas da ABI).

No início dos anos de 1970, Pompeu de Sousa foi designado por Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da ABI, para ser o representante da instituição em Brasília. Missão: equipar e, depois, garantir o espaço aberto com poucos recursos, ao mesmo tempo que deveria ter jogo de cintura para reverter cada caso de prisão dos colegas de ofício.

“Senti no dia a dia as dificuldades de se montar um escritório. Ele pedia doações aos amigos para colocar o projeto para a frente. Agora, não poderia ser diferente”, conta dona Otília, que fez doações, ajudou a montar uma biblioteca no espaço e até atuou, algumas vezes, como secretária da ABI Brasília.

Em casa, a cada jornalista solto, a vitória era comemorada pelo casal. Mas quando Pompeu chegava contando casos de novas prisões, a apreensão tomava conta do ambiente. “Ele me contava tudo. Como católica, fazia minhas orações aos jornalistas que iam presos, enquanto apoiava o meu marido quando era preciso que ele procurasse alguém do Governo para conseguir a liberdade dos profissionais.”

Antes disso, o próprio Pompeu, quando respondia pela sucursal da revista Veja, chegou a passar uma noite na prisão, por causa de uma matéria que não agradou muito os homens no poder. Mesmo assim, o jornalista via a política como um instrumento para a cidadania, tornando-se senador constituinte pelo PMDB. É de sua autoria o parágrafo do artigo 220 da Constituição que prevê a liberdade de imprensa.

Reclusa em seu apartamento por causa da pandemia, a matriarca divide o seu tempo entre ouvir música clássica e ler. Do passado, fala com serenidade. “Não tenho do que me queixar da vida, apesar do sofrimento daquela época. Lutamos sempre pelo lado certo, vinha uma energia que nem sei de onde surgia. Ele teve uma vida muito bonita e eu estive junto. ”Foram 41 anos de muita cumplicidade. Eu era muito apaixonada pelo Pompeu. No hospital, pouco antes de falecer (por causa de um infarto), ele me agradeceu por tudo.”     Nós também agradecemos, dona Othília.

Motivo nobre para colaborar

A ABI precisa de ajuda e há várias formas de contribuir. O motivo para apoiar a causa é nobre: são 112 anos de luta pela democracia e liberdade de expressão. A situação da Casa do Jornalista, que apresentava problemas de caixa em 2019, quando assumiu a nova diretoria, se agravou com a pandemia. Grande parte dos recursos da entidade vinham dos aluguéis de salas e lojas no seu prédio histórico. Com a crise, muitos inquilinos ficaram impossibilitados de pagar o previsto em contrato. A renda com aluguéis caiu para um terço.

Ainda em 2019, o grupo fez movimentos para buscar doações, pelo SOS ABI. O Circo Voador abrigou um show com mais de 30 atrações, como Geraldo Azevedo, Jards Macalé, Monarco e Cordão do Boitatá, e toda a receita foi destinada à causa. Em 2020, o publicitário Lula Vieira entrou na luta, criando uma campanha para arrecadar recursos, com anúncios em diversos veículos, mas o retorno foi aquém do esperado.

A principal preocupação da entidade, honrar pagamentos dos funcionários, tem acontecido com essas campanhas, com a contribuição mensal dos associados, de R$ 40, além das doações únicas, como a de Othília Pompeu de Sousa e do Galo da Manhã, instituto de investimento social.

“Arrecadamos pouco mais de R$ 40 mil, mas continuamos buscando alternativas, mesmo diante do esvaziamento do Centro. Estamos negociando com os inquilinos para começar uma redução escalonada dos descontos concedidos ano passado, até voltarmos aos valores anteriores à pandemia”, explica Marcus Miranda, diretor financeiro da entidade.

As doações diretas podem ser feitas por depósito no Banco do  Brasil (agência 3520-3, conta corrente 10918-5). Outra forma de ajudar é comprar a estilosa camiseta assinada pelo cartunista Paulo Caruso, por R$ 120, ou contribuir através da campanha lançada na plataforma Catarse, de colaboração coletiva (www.catarse.me/abi).

Publicado em: 22 de jan de 2021 às 11:45