A Voz do Brasil: espaço democrático


05/04/2011


“Desde sua criação, em 22 de julho de 1935, e sua inserção no sistema radiofônico nacional, com transmissão simultânea em todas as emissoras de rádio, de Norte a Sul, de Leste a Oeste do País, A Voz do Brasil serve primordialmente para tornar público, de maneira abrangente e clara, o que pensam e o que fazem todos os agentes sociais e políticos que estão dentro ou fora do Governo, do Congresso Nacional e também do Judiciário. É um espaço democrático da política e da informação. Embora tenha como matriz geradora uma emissora pública, o uso desse espaço não é um privilégio de quem está no Governo.
O mais importante é que o maior beneficiário desse espaço é o cidadão. Não o cidadão urbano. Não é o ricaço, endinheirado, que dispõe de outros meios para se manter informado. O maior beneficiário desse espaço democrático da informação é o cidadão comum, o homem do campo, da roça, da “Vila dos Confins”, de Mário Palmério, de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, de “A Bagaceira” e “Boqueirão”, de José Américo de Almeida, de “Canaã”, de Graça Aranha, de “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa, de “Menino de Engenho” e “Bangüê”, de José Lins do Rego, de “O Mulo”, de Darcy Ribeiro, e até mesmo de “O Cortiço” e “O Mulato” de Aluísio de Azevedo, do “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto e de “O Quinze”, de Rachel de Queirós. 
Esses homens comuns, simples, humildes, sofridos, e que ainda existem nos dias atuais, dependem do radinho de pilha para se manterem informados. Muitos deles não têm televisão e quando a têm em casa é para diversão da família. Ver um filme, acompanhar uma novela, com a mulher e os filhos. É através do radinho de pilha que essa legião de trabalhadores, que carrega o radinho a tiracolo, pendurado no pescoço, se insere na sociedade ou aldeia global, no mundo, e se sente, com imensa alegria ou imensa tristeza, parte desse mundo. O homem do campo é sério e muito responsável, meticuloso à sua maneira e afeito à habitualidade. Ele sabe que das 19h às 20h A Voz do Brasil está no ar. Liga o radinho, sentado na varanda da casa, na porta do casebre ou debaixo da mangueira, do oitizeiro ou da jaqueira, para ouvir as novidades e as brigas de suas excelências por cargos e posições no Governo.
Portanto, é muito oportuna a advertência feita pelo nosso Mário Augusto Jakobskind, quando diz, em artigo publicado no Jornal da ABI, que “querem sufocar A Voz do Brasil”.  Não querem sufocar. Querem acabar mesmo. Varrer do mapa radiofônico um dos mais tradicionais programas noticiosos do rádio brasileiro, com uma abrangência e valores excepcionais, onde não há qualquer tipo de discriminação, nem de política partidária nem ideológica.
Por isso, é um crime que se pretende consumar com a tal da flexibilização do horário d’A Voz do Brasil. Essa tal de flexibilização, conforme chama a atenção o Conselheiro da ABI, é muito grave, pois trata-se de criar obstáculos a um inalienável direito do povo, o de ser informado. Um outro problema grave é o do acompanhamento e fiscalização da transmissão do programa. Há várias questões a serem observadas, tanto econômicas quanto políticas, mas uma sobressai das demais que é a do horário de transmissão d’A Voz do Brasil.
Com a flexibilização o horário de transmissão perde a referência, ou seja, o cara que está trabalhando de sol a sol vai ouvir A Voz do Brasil como? Não tem como. É bem provável que o aspecto econômico tenha um peso específico nessa estripulia do Congresso Nacional, mas acredito que o peso maior seja o político. É sabido que no interior deste imenso Brasil o horário da matina, das 6h às 8h, e noturno, das 18 às 20h, são sagrados para o homem do campo. No primeiro, ele está arribando pra roça, vai amainar a terra, preparar o terreno e semear; no segundo, ele está chegando em casa, quando não estacionado na bodega do “Seu” Zé. Em qualquer hipótese, ele sempre ouve A Voz do Brasil.
É importante frisar que, também é sabido, tanto na cidade quanto no interior, um considerável número de emissoras de rádio está na posse de vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores. O próprio Senador José Sarney, hoje Presidente do Senado Federal, lembra em sua biografia autorizada, da jornalista Regina Echeverria, que quando no exercício do cargo de Presidente da República encarregou o então Ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, de negociar a concessão de emissoras de rádio com os políticos com mandato e foram distribuídas emissoras em todo o território nacional. 
E a esses políticos não interessa ver os seus adversários falando nas suas emissoras. Falar até pode, mas o problema é ser ouvido. Com a flexibilização, cada proprietário de rádio vai colocar no ar, se colocar, no horário mais conveniente para seu grupo político. Esta é uma questão. No Estado do Rio, por exemplo, é grande o número de políticos, dos grandes e dos menos graduados, que aparecem ligados ou com influência junto dos proprietários de emissoras de rádio, das quais se utilizam para autopromoção e promoção dos seus amigos e aliados. Nessas emissoras, os adversários não têm vez nem voz.
O Conselheiro Mário Augusto Jakobskind sugere que a sociedade seja mobilizada para impedir a flexibilização do horário d’A Voz do Brasil. A sugestão é uma boa e deve começar pela sociedade organizada, os sindicatos de trabalhadores, rurais e urbanos, de todas as categorias.”
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“Pereira da Silva (Pereirinha) é Conselheiro e Presidente da Comissão de Sindicância da ABI.”