A psicanálise nos meios de comunicação


30/08/2010


Encontra-se em fase de elaboração uma importante pesquisa em nível de pós-doutorado da psicóloga Heloisa Seelinger, que visa a historiografar o trabalho de divulgação da psicanálise nos veículos de comunicação realizado pelo jornalista, médico e psicanalista Gastão Pereira da Silva (1897 a 1987), durante a Era Vargas. Um dos objetivos do trabalho é mostrar que a importante militância jornalística do personagem foi uma iniciativa relevante para a disseminação do saber psicanalítico durante o período pesquisado. A tese está sendo desenvolvida no Programa de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Clio-Psyché/UERJ), cuja coordenação é da doutora em psicologia Ana Jacó-Vilela. 

Além da sua atuação na imprensa, com passagens pelas revistas Carioca, Vamos Ler, Dom Casmurro e Seleções Sexuais, Gastão atuou como médico, psicanalista e escritor. Escreveu mais de 50 livros, escritos de modo a tornar a leitura de seus pressupostos teóricos acessível ao leitor leigo, como radialista criou programas de radioteatro e radionovela na Rádio Nacional, tornando-se um nome de referência na introdução da psicanálise no dia a dia de nossa população urbana. Defensor da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, foi sócio e Conselheiro da ABI e membro titular da Sociedade Brasileira de Criminologia (SBC).

 
Segundo Heloisa Seelinger, além de lutar para tornar o debate sobre a psicanálise um tema mais acessível ao público leigo, Gastão foi um crítico severo das normas elitistas da formação em psicanálise:  
— Gastão Pereira da Silva notabilizou-se como combativo crítico das normas e regulações da formação de psicanalista preconizadas pela International Psycoanalytic Association (IPA), por julgá-las elitistas e por ser peremptoriamente a favor da análise leiga, afirma a psicóloga.
 
De suas iniciativas, Gastão Pereira da Silva ainda criou em 1955, um curso de Introdução à Psicanálise por correspondência que se destinava a divulgação da teoria freudiana sem qualquer caráter médico ou terapêutico. Utilizou os Correios como meio de divulgação da psicanálise respondendo inúmeras cartas daqueles que tomavam conhecimento, que Dr. Gastão responderia às suas dúvidas. Dedicou-se a clínica psicanalítica em consultório particular desde os anos 30 até a década de 70.
 
O percurso de Gastão Pereira da Silva se entrelaça com o discurso midiático como andamento da prática social e de uma biografia constituída pela herança dos ideais iluministas da emancipação do sujeito, do projeto de universalização dos saberes, do acesso aos avanços da ciência sob a égide da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Esse trinômio o levou a tomar para si a divulgação da psicanálise como projeto fundamentado nos ideais libertários da modernidade.