A bandeira é nossa e a padroeira também


12/10/2022


Por Octávio Costa, em Ultrajano

Foi muito bom ver o ex-presidente Lula discursar em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, com uma enorme bandeira brasileira no fundo do palco. Antes, na carreata, também se viam as cores nacionais. Daqui para a frente, tem de ser assim mesmo. O vermelho que simboliza o socialismo vai se misturar com o verde e amarelo. Chegou a hora de dar um basta à apropriação indébita dos símbolos nacionais por Bolsonaro e seu gado.

Quando vejo carros à minha frente com pequenas bandeirolas do Brasil penduradas no teto ou no retrovisor, fico revoltado. O rebanho e os milicianos de Bolsonaro decidiram que esse símbolo de nossa terra lhes pertence. Cometem um erro rotundo. A bandeira e as cores verde e amarela pertencem a todos os brasileiros e brasileiras. Com uma diferença: nós, do campo democrático e das legendas de esquerda, não confundimos nacionalismo com fanatismo. Isso é coisa de fascistas.

Como bem disse o escritor e pensador inglês Samuel Johnson (1709-1784), “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. O respeitado doutor Johnson não se referia ao amor pela pátria, mas sim ao “pretenso patriotismo que tantos, em todas as épocas e países, têm usado como um manto para os próprios interesses”. É exatamente essa a atitude dos bolsonaristas. Escondem-se por trás dos símbolos da pátria para mostrar qualidades que não têm. Além de canalha, trata-se de um nacionalismo falso, de fachada. São tão hipócritas quanto o “mito” que seguem.

Além da bandeira, citam com frequência o lema do integralismo, “Deus, Pátria e Família”. Incluem a palavra liberdade para disfarçar o ideário fascista. Mas não enganam ninguém: inspiram-se em Plínio Salgado. Em entrevista ao site em português da Deutsche Welle,  o historiador e sociólogo Wesley Espinosa Santana, da Universidade Mackenzie, faz uma analogia direta entre o uso da camisa da Seleção em manifestações de direita e a farda verde dos integralistas.

“Temos uma situação muito parecida: o Bolsonaro dizendo que é o dono do verde-amarelo, que quem é adepto dele é Brasil e quem é contra não é Brasil. Isso é integralismo puro, psicológico e simbólico. O discurso é: ‘Ou você está ao meu lado ou é contra a pátria’. O fascio italiano e a AIB previam isso, em meio à tríade Deus, pátria, família”, explica o professor Wesley. Só há uma resposta aos fascistas de Bolsonaro: usar de forma intensa daqui até o dia 30 de outubro a bandeira e os hinos nacionais.

O ex-governador Leonel Brizola tinha o hábito de cantar o trecho mais conhecido do Hino da Independência em comícios e também na despedida de companheiros. Na alegria e na tristeza, o carismático líder trabalhista, de lenço maragato vermelho no pescoço, entoava o hino com ênfase emocionada no refrão “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Este, sim, é um exemplo de nacionalismo de verdade, sem outro objetivo a não ser o de despertar o sentimento de união e solidariedade na brava gente brasileira. Fica aí a sugestão para a campanha de Lula.

Em outra tentativa de apropriação indébita, Bolsonaro estará hoje em Aparecida para participar da homenagem a Nossa Senhora Aparecida, no dia que nosso povo dedica à Padroeira do Brasil. Mas levou um chega pra lá da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que condenou o uso do tema com finalidade eleitoral. Adverte a nota da CNBB: “Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno”. É um acinte o ex-capitão que se diz “terrivelmente evangélico” ir a Aparecida reverenciar a santa, alvo de chutes e impropérios de seus aliados. É muita hipocrisia.