Diretor do jornal Hora H é morto em Nova Iguaçu


Por Igor Waltz*

12/06/2013


José Roberto de Ornelas de Lemos, diretor do Jornal Hora H, vinha sofrendo ameaças. (Crédito: Gustavo Azeredo/ Jornal Extra)

José Roberto de Ornelas de Lemos, diretor do Jornal Hora H, vinha sofrendo ameaças. (Crédito: Gustavo Azeredo/ Jornal Extra)

O empresário José Roberto Ornelas de Lemos, diretor financeiro e filho do dono do jornal Hora H, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi assassinado a tiros na noite desta terça-feira, 11 de junho. O empresário foi morto com pelo menos 44 tiros, o que indicaria um crime encomendado, segundo os investigadores da 58ª Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Bentinho, como era conhecido, havia recebido várias ameaças por suas atividades, segundo José Lemos, pai da vítima e proprietário e fundador do jornal que circula na região da Baixada. “O jornal é muito forte na região. A gente vinha batendo muito em alguns assuntos”, disse Lemos, que admitiu que usa um carro blindado devido às ameaças.

A hipótese foi corroborada pelo irmão da vítima, Luciano Ornelas de Lemos, que esteve presente nesta quarta-feira, 12 de junho, no Instituto Médico-Legal para reconhecer o corpo. “O jornal é bastante polêmico. Fala mal de polícia, de bandido e de político. As ameaças contra ele eram freqüentes. Havia sempre carros suspeitos rondando por perto”.

O jornal, de perfil popular, é conhecido por estampar em sua capa fotos de pessoas mortas. Também faz denúncias de crimes contra policiais e bandidos, além de supostos casos de corrupção em órgãos públicos da região.

A edição do Hora H desta quarta-feira não traz qualquer reportagem sobre a morte de seu administrador. Funcionários disseram que o jornal fecha diariamente às 20h30 (hora do crime), e que por isso não houve tempo para noticiar o fato.

O caso

O empresário foi baleado por um grupo de pistoleiros encapuzados quando estava em uma padaria na Avenida Eduardo Pacheco Vilhena, no bairro de Corumbá, à qual costumava comparecer no final do expediente. Os assassinos atiraram de dentro de um Gol cinza e fugiram em seguida.

Com a vítima, segundo a polícia, foi encontrada uma pistola calibre 380, municiada e numerada, mas nenhum projétil chegou a ser disparado.

Quando os criminosos fizeram os disparos, apenas três funcionárias estavam na padaria. Nenhuma delas foi atingida. Apesar da quantidade de tiros, amigos ainda levaram Betinho para o Hospital da Posse, mas ele já estava morto.

“Vamos tentar apurar como tudo aconteceu e qual foi a motivação do crime. Temos informações de que o jornal dele era combativo e fazia muitas denúncias”, afirmou a Delegada de Polícia Tércia Amoedo, diretora do Departamento-Geral de Polícia da Baixada Fluminense.

O estabelecimento tem sete câmeras de segurança, e as imagens foram encaminhadas à Delegacia. O local foi periciado.

A Polícia, no entanto, não descarta qualquer hipótese em relação ao crime devido a que o empresário se tinha envolvido em algumas polêmicas. De acordo com levantamento da Delegacia, Betinho já havia sido indiciado por dois homicídios, extorsão e formação de quadrilha. Os processos foram arquivados ou o acusado acabou absolvido.

Lemos foi detido em 2003, acusado de financiar os pistoleiros que assassinaram o então subsecretário de Governo de São João de Meriti, Kennedy Jaime de Souza, em um crime que foi atribuído a disputas por um desvio de recursos públicos. O empresário respondia às acusações em liberdade. Ao ser preso, José Roberto negou a participação no crime e ganhou na Justiça o direito a liberdade.

Crimes contra comunicadores

Segundo estatísticas da organização internacional Campanha Emblema de Imprensa (PEC, na sigla em inglês), que defende a liberdade de imprensa, o Brasil foi um dos países mais perigosos para os comunicadores no primeiro trimestre deste ano, período no qual ocorreram três assassinatos.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), por sua vez, classificou o Brasil como o quarto país mais perigoso do mundo para a imprensa em 2012 devido ao aumento dos assassinatos, da impunidade que cerca os crimes e das medidas de censura judicial.

Segundo a CPJ, dos oito jornalistas assassinados no Brasil entre 2011 e 2012, seis tinham feito denúncias sobre corrupção ou sobre grupos criminosos e todos trabalhavam fora dos grandes centros urbanos.

*Com informações da Agência EFE, jornais Extra, O Dia e O Estado de S. Paulo e portais UOL e G1.