Rio conquista título de Patrimônio Mundial


02/07/2012


A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(Unesco) aprovou neste domingo, dia 30, o ingresso do Rio de Janeiro na Lista de Patrimônio Mundial da entidade. O título foi concedido durante a 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, reunido em São Petersburgo, na Rússia, desde o dia 25 de junho.
 
O Comitê, órgão independente formado por 21 estados-partes da Convenção do Patrimônio Histórico de 1972, prossegue até 6 de julho, para analisar 33 propostas de novos sítios como Patrimônio Mundial.
 
Esta é a primeira vez na história do título em que uma cidade passa a integrar a Lista de Patrimônio Mundial da Unesco. Até o momento, os sítios reconhecidos mundialmente como paisagem cultural referem-se a áreas rurais, a sistemas agrícolas tradicionais, a jardins históricos e a outros locais de cunho simbólico religioso e afetivo. O conceito de paisagem cultural foi adotado pela Unesco em 1992, e incorporado como uma nova tipologia de reconhecimento de bens culturais, conforme a Convenção de 1972.
 
O documento para a candidatura do Rio de Janeiro foi aceito em 2009. A primeira tentativa de inscrição aconteceu em 2002, quando uma avaliação indicou a necessidade de se alterar o enfoque e a delimitação da proposta, além da abordagem técnica para que a inclusão de vários sítios da cidade.
 
—Desde então, o escritório da Unesco no Brasil não perdeu de vista a possibilidade da inscrição do Rio e estimulou os sucessivos dirigentes dos órgãos do governo brasileiro a retomar os estudos e reapresentar o dossiê, explica a Coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Jurema Machado.
 
Em 2008, sob a coordenação da arquiteta Cristina Lodi, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico(Iphan) conseguiu somar esforços em torno do projeto com representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade(ICMBio), Governo do Estado do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio, Fundação Roberto Marinho e a Associação de Empreendedores Amigos da Unesco.
 
Intitulada “Paisagens cariocas entre o mar e a montanha”, a proposta se baseou nos princípios de identificação de paisagens culturais, envolvendo os critérios de paisagem intencionalmente desenhada, paisagem organicamente evolutiva e paisagem vinculada à história e indissociável do imaginário do país ao longo de séculos.
 
O sítio aprovado pelo Comitê reúne o Jardim Botânico, o Corcovado e a estátua do Cristo Redentor, as colinas ao redor da Baía de Guanabara, incluindo as paisagens urbanas projetadas na área, a entrada da Baía de Guanabara, com suas fortificações e elevações dos Morros do Pão de Açúcar e Cara de Cão, enseada de Botafogo, a orla de Copacabana, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o Parque do Flamengo, o Forte e o Morro do Leme, o Forte de Copacabana e o Arpoador. O Comitê também reconhece a relevância da inspiração artística que o Rio de janeiro oferece a músicos, paisagistas e urbanistas.
 
A partir dessa conquista, os locais da cidade valorizados com o titulo da Unesco serão alvos de ações integradas de preservação. 

—O título conseguido pelo Rio em São Petersburgo representa o olhar da comunidade internacional sobre os valores da cidade, ampliando ainda mais o compromisso de se consolidar uma prática de gestão compartilhada pelos três entes federativos, que seja apoiada e constantemente monitorada pela comunidade, disse Luden Muñoz, representante da Unesco no Brasil.

  
Presentes ao evento, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que apresentou em português a candidatura do Rio, e o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, comemoraram a decisão da Unesco:
—A nomeação do Rio de Janeiro, síntese do Brasil, agora declarado Patrimônio Mundial, expõe para todos nós esse desafio. Agradeço a confiança depositada e pelo avanço conceitual que juntos construímos e que queremos celebrar.
 
Para Luiz Fernando, trata-se de um reconhecimento muito importante, mas os locais que embasaram o documento precisam ser preservados para que a cidade não perca o título e harmonize ainda mais a paisagem e a rotina dos moradores.
 
Além da Paisagem Cultural do Rio de Janeiro, o Brasil conta hoje com outros 18 bens culturais e naturais na lista de 911 bens reconhecidos pela Unesco. Os bens culturais são: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto, Minas Gerais(1980); Centro Histórico de Olinda, Pernambuco(1982); Ruínas de São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul(1983); Santuário do Bom Jesus de Matosinhos e Congonhas, Minas Gerais(1985); Centro Histórico de Salvador, Bahia(1985); Conjunto Urbanístico de Brasília, Distrito Federal(1987); Centro Histórico de São Luis, Maranhão(1997); Centro Histórico de Diamantina, Minas Gerais(1999); Centro Histórico de Goiás, Goiás(2001); Praça de São Francisco em São Cristóvão, Sergipe(2010).
 
Na lista dos bens naturais estão o Parque Nacional do Iguaçu, Paraná(1986); a Costa do Descobrimento, Bahia e Espírito Santos(1997); o Parque Nacional da Serra do Capivara, Piauí(1998); a Reserva Mata Atlântica, São Paulo e Paraná(1999); o Parque Nacional do Jaú, Amazonas(2000); o Pantanal mato-grossense, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul(2000); as Reservas do Cerrado: Parque Nacional dos Veadeiros e das Emas, Goiás(2001); o Parque Nacional de Fernando de Noronha, Pernambuco(2001).

Mídia 

A conquista do Rio de Janeiro como Patrimônio Mundial foi destaque do noticiário nacional e internacional. Jornais e emissoras de TV de todo o mundo veicularam matérias e imagens da cidade, entre os quais o inglês Daily Teleghaph; EM>os australianos Herald Sun e Sky News; a agência de notícias Bernama.com, da Malásia; o NZHerald, da Nova Zelândia; os portugueses Público, Diário de Notícias, e RTP. 
 
Integra do discurso da ministra Ana de Hollanda na 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco:
 
“Em nome do Governo brasileiro, cumprimento todos os presentes e agradeço aos membros do Comitê a inscrição da paisagem cultural do Rio de Janeiro na Lista do Patrimônio Mundial.
 
Esta inscrição preenche uma lacuna, porque não se pode pensar no patrimônio do Brasil sem visualizar o cenário da cidade do Rio de Janeiro.
 
Também representa um avanço nas políticas públicas do Brasil, que cada vez mais se voltam para o desafio de compreender o patrimônio cultural como uma dimensão essencial para a nossa gestão territorial.
E é também um marco para esta Convenção, uma vez que se trata da primeira área urbana em uma metrópole inscrita como paisagem cultural.
 
Por tanto ineditismo, acompanhado por desafios da mesma grandeza, desejamos compartilhar este momento com a comunidade internacional.
 
Para nós, do Brasil, esta Convenção tem duas dimensões claras para o seu futuro: a da paisagem e a da cooperação.
 
Em primeiro lugar, a paisagem, porque não é possível avançar nas políticas culturais sem compreender que as relações entre o homem e o meio constituem um novo campo de formulações; que, por um lado, aproxima a política de patrimônio das discussões mais relevantes que ocorrem no campo multilateral, como as relacionadas ao desenvolvimento sustentável; e, por outro, possibilita a criação de uma nova cartografia patrimonial, rompendo com uma visão predominantemente historicista, e substituindo-a por abordagens mais amplas de compreensão do mundo.
 
Em segundo lugar, a cooperação, porque é a única maneira de enfrentarmos os desequilíbrios entre os países, o que também se verifica no desequilíbrio da Lista do Patrimônio Mundial.
 
Ademais, a cooperação é o instrumento que responde aos princípios que devem prevalecer na nossa Convenção: o patrimônio rompe barreiras, o patrimônio é um direito de todos nós.
 
A nomeação do Rio de Janeiro, síntese do Brasil, agora declarado Patrimônio Mundial, expõe para todos nós esse desafio. Obrigada ao Comitê pela confiança depositada e pelo avanço conceitual que juntos construímos e que queremos celebrar. Estão todos convidados a desfrutar conosco desta maravilhosa cidade que é o Rio de Janeiro.
 
Ana de Hollanda
Ministra de Estado da Cultura”
 
*Com informações da Unesco e Ministério da Cultura.