Adeus a Beatriz Bandeira


03/01/2012


Foi enterrado na tarde desta terça-feira, dia 3, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio, o corpo da militante política, poeta e professora Beatriz Bandeira Ryff, viúva de Raul Ryff, Secretário de Imprensa do Presidente João Goulart, e mãe do jornalista Vitor Sérgio Ryff — que morreu em meados da década de 90 —, do economista Tito Ryff e do físico Luiz Carlos Ryff. O corpo foi velado na Capela número 8 do Cemitério São João Batista. 

Símbolo de luta pelos direitos humanos e pela garantia das liberdades democráticas, Beatriz morreu na noite desta segunda-feira, dia 2, na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio, onde estava internada. 

—Com pesar comunicamos o falecimento da querida brasileira, amiga e incansável lutadora pelas causas dos direitos humanos, do pleno exercício da democracia, em nosso País, e em qualquer lugar onde houvesse a opressão política , econômica e social, disse a nora da poetisa, Maysa Machado, que organizou em 8 de dezembro de 2009, uma homenagem ao centenário de Beatriz Bandeira, no edifício-sede da ABI.
 
Beatriz Vicência Bandeira Ryff nasceu no bairro carioca do Méier, em 8 de novembro de 1909, filha dos abolicionistas Alípio Abdulino Pinto Bandeira e Rosalia Nansi Bagueira Bandeira. Alfabetizada pelo avô materno, herdou dele a paixão pelas letras, e da mãe, o gosto pela música. Escreveu os primeiros versos aos 9 anos, e formou-se em piano pela Escola Nacional de Música. 

Nas fileiras do Partido Comunista, na década de 1930, Beatriz conheceu o futuro marido, o jornalista Raul Ryff, com quem foi casada por mais de cinco décadas. O casal exerceu a militância política ao lado de grandes nomes como o líder revolucionário Carlos Marighela, os jornalistas e escritores Eneida de Moraes e Álvaro Moreyra, sua mulher Eugênia, e Graciliano Ramos, que retratou a amizade com Beatriz e Raul Ryff no livro “Memórias do cárcere”. 

Em 1936, Beatriz foi presa e, em seguida, exilada para o Uruguai. 
—Sobrevivente do cárcere da ditadura Vargas, Beatriz compartilhou a “Sala 4”, na Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, com Nise da Silveira, Maria Werneck, Olga Benário e outras corajosas companheiras, relata Maysa Machado.

Ao retornar ao Brasil, a ativista ingressou na Federação de Mulheres do Brasil, e colaborou com diversos jornais e com a revista Momento Feminino.

 
Em 1964, foi demitida do cargo de professora de Técnica Vocal do Conservatório Nacional de Teatro, por ordens do regime militar. Asilada com o marido na Embaixada da Iugoslávia, três meses depois seguiu para o exílio na Iugoslávia e, posteriormente, para a França. Beatriz detalhou esta experiência no livro “A resistência — anotações do exílio em Belgrado”. 

Em 1967, de volta ao Brasil, participou ativamente do processo de organização da luta pela Anistia, tendo sido uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas.

 
Ao longo da carreira, Beatriz Bandeira publicou as obras poéticas “Roteiro” e “Profissão de fé”; “Antes que seja tarde” — que reúne as memórias do pai, escrita em parceria com sua irmã, Dulcina —, e “A resistência — anotações do exílio em Belgrado”.