Seminário discute liberdade religiosa


01/10/2009


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Joel Zito Araújo, Zezé Motta, Manuela Pinho, Jesus Chediack, Cleidiana Ramos

“Os meios de comunicação e o respeito à liberdade religiosa” foi o primeiro tema discutido no segundo e último dia do Seminário Nacional sobre a Proteção à Liberdade Religiosa, nesta quinta-feira, 1º de outubro, no 9º andar do edifício-sede da ABI, entidade promotora do evento juntamente com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, e apoio da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro(PUC) e Rede Globo de Televisão.
Conduzido por Alexandro da Anunciação Reis, Subsecretário de Políticas para as Comunidades Tradicionais do Seppir/PR, o encontro reuniu representantes de diversas religiões, autoridades, pesquisadores, jornalistas, estudantes universitários, artistas, e o público em geral.

A mesa de abertura foi formada pela jornalista Cleidiana Ramos, repórter especial do jornal A Tarde; o cineasta Joel Zito Araújo, doutor em Comunicação Social; a atriz e cantora Zezé Motta, Superintendente de Promoção da Igualdade Racial do Estado do Rio de Janeiro, o Diretor de Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chediak; e Manuela Pinho, Subsecretária de Planejamento e Formulação Política da Seppir, que, na função de mediadora, introduziu as questões a serem debatidas no evento:
—Vivemos em um estado laico, no qual as TVs são concessões públicas. Como poderemos garantir o princípio da laicidade neste processo, no controle social desta concessão? Temos tido acesso e diálogo junto às redações para que o nosso olhar contra a intolerância esteja incluído nas mensagens? Precisamos refletir sobre o modo como as religiões estão sendo retratadas na mídia.

A atriz Zezé Motta, Superintendente de Promoção da Igualdade Racial do Estado do Rio de Janeiro, recordou, em seguida, suas experiências pessoais relacionadas à diversidade e à intolerância religiosa.
—Minha mãe chegou a frequentar uma casa de umbanda e eu, então adolescente, acompanhei-a, certa vez. Quando meus amigos da vizinhança descobriram, passei a ser hostilizada. Nunca mais comentei este assunto com ninguém. Anos depois, eu estava em Minas Gerais filmando Chica da Silva, quando o cenógrafo Luiz Carlos Ripper, que era espiritualista, sugeriu ao diretor Cacá Diegues que a equipe buscasse a benção dos orixás para as filmagens. Encontramos uma casa de candomblé em Diamantina. Chegando lá, ficamos surpresos, pois, no lugar de cânticos africanos, ouvimos música clássica. Descobrimos, então, que a igreja católica proibira os rituais africanos naquela região. Mais recentemente, em 2008, já na Secretaria, fiquei chocada com o ataque a um centro espírita no bairro do Catete. Precisamos lutar para acabar com a intolerância religiosa e lembrar que todos nós buscamos o mesmo caminho do amor e da fé.

Dando continuidade ao debate, o Diretor de Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chediak, que agradeceu a presença de todos em nome da Associação, destacou o papel da imprensa no resgate da liberdade religiosa.
—Os meios de comunicação têm apresentado um discurso orientado pelo poder econômico, direcionado ao consumo. Neste cenário, a interação humana perde espaço para a ideologia consumista. A religião é o caminho para resistirmos a este assédio Citando Dante, podemos dizer que a fé é a substância do indivíduo para a criação de um novo mundo. Este seminário é fundamental no sentido de buscarmos a participação dos meios da comunicação na luta contra a intolerância religiosa. Uma das minhas sugestões é a criação de um canal de TV ecumênico, que dê voz a todos, sem discriminação.

Repórter especial do jornal A Tarde, o mais antigo em atividade na Bahia, a jornalista Cleidiana Ramos, se especializou em reportagens vinculadas ao tema religião, impulsionada pelo chefe de reportagem que descobriu que ela havia trocado a vocação para ser freira pelo curso de Comunicação Social. Durante o debate na ABI, Cleidiana comentou sobre a relevância do tema religião para a formação do profissional de Comunicação e para a eliminação do preconceito embutido no discurso da imprensa:
—O jornal A Tarde deu crescente destaque ao tema religião em função do reconhecimento do trabalho, que deixou de ser apenas informativo, mas também educativo. A aprendizagem aconteceu no dia-a-dia da redação e não na faculdade.

O estudo das religiões deveria estar incluído na grade dos cursos de Comunicação, até mesmo porque há forte preconceito por parte dos jornalistas em relação a este tema. Acabamos errando por ignorância e vaidade. Além disso, os estudantes de jornalismo e publicidade têm muita curiosidade sobre o assunto.

Para o cineasta e doutor em Comunicação Social José Zito Araújo, a dificuldade do Brasil em reagir à intolerância religiosa está baseada “em aspectos civilizatórios”.
— Isto nos torna coniventes e passivos em relação, por exemplo, à presença das igrejas eletrônicas na mídia”. É necessário compreender que a base de sociabilidade do povo brasileiro tem como matriz as religiões africanas. Precisamos fortalecer e implementar ações políticas e culturais que valorizem as religiões africanas e afastem a vigência do padrão de acumulação individual em detrimento do espírito coletivo e fraterno. Uma das propostas consiste em se estabelecer um código de conduta para os meios de comunicação que reforçam a intolerância. Eles seriam penalizados com a suspensão do patrocínio. Esta e outras idéias podem ser trabalhadas na Conferência de Comunicação.

Sagrado

Luis Erlanger

Após um breve intervalo, a platéia do seminário assistiu ao trailer da série “Sagrado”, que será lançada pela TV Globo no próximo dia 5. A apresentação foi feita pelo Diretor da Central Globo de Comunicação, jornalista Luis Erlanger, Conselheiro da ABI.

Co-produção da TV Globo e do Canal Futura, a série vai mostrar, a partir de temas atuais, a visão e a interpretação das principais religiões sobre diversos assuntos como violência urbana, liberdade de expressão, meio ambiente, novas famílias.

Entre os líderes religiosos que participam do programa, estão o Cônego Antônio Mazatto, professor da Faculdade de Teologia N. Sra. Assunção, de São Paulo; o Pastor protestante Israel Belo, da Igreja Batista de Itacuruçá; o Xeique Armando Hussein Saleh, membro do Conselho Superior da Mesquita Brasil, em São Paulo; o Rabino Nilton Bonder, da Congregação Judaica do Brasil; ), o Diretor da Federação Espírita Brasileira Antonio Cesar Perri de Carvalho; Valdina Pinto, do Terreiro Tanuri Junsara, em Salvador; e o Lama Padma Santem, do Instituto Caminho do Meio, Centro de Estudos Budistas Bodisatva, de Viamão-RS.

O programa, que contará também com a participação de artistas da emissora, vai colaborar para o fortalecimento do debate e a reflexão em torno dos temas relacionados à diversidade e à intolerância religiosa, objetos da discussão proposta pelo seminário.