Diploma-2: Uma voz dissonante, do DF


19/06/2009


Além das manifestações de apoio à posição que adotou no caso da cassação da obrigatoriedade de diploma de conclusão de curso de Comunicação Social para exercício da profissão de jornalista, a ABI recebeu umas poucas mensagens de contestação à sua decisão, entre elas a do Senhor Mário Drumond, professor universitário em Brasília, que atribui a reação da Casa a “uma combinação de grosseria e desinformação”. O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, respondeu ao Professor Drumond, convidando-o a ler o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição da República.
Dizem as duas mensagens:

1) A do Professor Mário Drumond

Senhor Presidente,

Imagino que Vossa Senhoria saiba que o Governo Lula adota como prática política a compra de setores da sociedade civil: UNE, MST, sindicatos, ONGs, associações. Estas e outras entidades da sociedade civil venderam-se ao aparelho do petismo: são marionetes de um governo corrupto. Silenciam diante da corrupção que infesta os gabinetes do Executivo Federal. Faz sentido, pois recebem dinheiro da União. A ABI, ao contrário, não é e nunca foi uma entidade vendida. A ABI é um orgulho para a consciência brasileira, uma fortaleza no cenário devastador da podridão nacional. Por isso mesmo, não consigo compreender o silêncio da ABI em relação à corrupção. Não vejo um comentário, uma palavra, uma manifestação, nada que venha da ABI como referência ética num momento tão grave. Os escândalos do Senado não mereceram nenhum posicionamento firme da ABI nos últimos meses. Que pena.

Agora vem a ABI, por meio de declaração de 17 do mês corrente, assinada por Vossa Senhoria, afirmar que a entidade “lamenta e considera que esta decisão expõe os jornalistas a riscos e fragilidades e entra em choque com o texto constitucional e a aspiração de implantação efetiva de um Estado Democrático de Direito, como prescrito na Carta de 1988.” Francamente, dizer que a decisão do STF “entra em choque com o texto constitucional” é uma combinação de grosseria com desinformação, pois compete justamente ao STF interpretar a Constituição. Sugiro que Vossa Senhoria respeite o STF, principalmente quando a decisão em tela foi legitimada por virtualmente todos os membros da Corte (8 X 1). Em bom português, uma goleada.

Sugiro, finalmente, com o respeito que Vossa Senhoria merece, que a ABI saia às ruas para gritar contra a corrupção que apodrece o parlamento brasileiro, a corrupção que apodrece o legislativo nacional, a corrupção que apodrece o judiciário da nação. Basta de silêncio da ABI, pois a ABI não é e nunca foi uma Associação Brasileira de Ineptos.

Atenciosamente (a) Mario Drumond (*).” 

2) A resposta do Presidente da ABI

“Prezado Professor Mário Drumond,

Acuso o recebimento de seu e-mail expedido às 2h35min37s de hoje, 19 de junho, e quero felicitá-lo pela indignação com que o Senhor acompanha a vida nacional. Sua preocupação com a ética na gestão da coisa pública é digna de aplausos, pois demonstra o seu interesse pela observância de métodos limpos na vida pública. 

Devo dizer-lhe, para desfazer incompreensões, que a ABI não é um partido político, que tenha a obrigação e o direito de se pronunciar contra as mazelas que infestam a vida nacional. Se admitisse agir assim, não lhe sobraria tempo para cuidar de suas obrigações institucionais, tantos são os flagelos, como arrolado em sua mensagem, que exigiriam sua intervenção. Ela também não é palmatória do mundo, instituição que possa arrogar-se a qualidade de árbitro sobre o que ocorre na vida pública do País. 

Quanto à posição da ABI em reação à derrubada da obrigatoriedade de diploma de Comunicação Social pelo Supremo Tribunal Federal, devo repelir a deselegância de sua afirmação de que tal decorreria de “uma combinação de grosseria com desinformação”. Grosseiro foi o Senhor, ao cometer tal agressão, e desinformação é a sua, ao contestar que a decisão do Supremo não colide com a Constituição e ao atribuir poderes divinos ao Supremo Tribunal Federal, que também erra, como demonstram decisões recentes, inclusive algumas emanadas do Ministro Gilmar Mendes, relator dessa matéria. Infalível, só Deus; na Terra, o Papa, seu representante. A esse respeito será útil a leitura do artigo 5º, inciso XIII, da Constituição, o qual dispõe que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. 

Por fim, agradeço e dispenso a sugestão de que a ABI saia às ruas para gritar contra a corrupção etc. etc., porque esse papel não lhe cabe, e sim ao Senhor e a todos os cidadãos que, com a indignação de que falava Darci Ribeiro, estão a reclamar o fim do estado de coisas a que chegou o País. 

A ABI não se mantém em silêncio, como prova a sua mensagem. Ela é há 101 anos Associação Brasileira de Imprensa. Inepto é quem ignora isso. 

Por fim: estou transcrevendo sua mensagem e esta resposta no Site da ABI. (a) Atenciosamente, Maurício Azêdo, Presidente da ABI” –