O “Expresso” conquista a América (I)


14/03/2008


       Time do Vasco campeão carioca invicto de 1947

O grande time do Vasco que ficou conhecido pelo nome de “Expresso da Vitória” começou a ser formado em 1944. Seu reinado no futebol carioca se estendeu até 1953. Sua maior conquista aconteceu em gramados chilenos há 60 anos, quando se sagrou Campeão dos Campeões ao empatar com o River Plate por 0 a 0, no dia 14 de março de 1948. O título representou a primeira conquista do futebol brasileiro no exterior. A campanha do Vasco da Gama no Torneio dos Campeões será contada aqui, em três partes, pela transcrição do capítulo escrito pelo companheiro e jornalista Roberto Sander no seu excelente livro “Anos 40, viagem à década sem Copa”, páginas 239, 240, 241, 242, 243, 244 e 245 — “O Expresso rompendo fronteiras”:

“Em 1948, quando a construção do Maracanã engatinhava, um título conquistado pelo Vasco trouxe a confirmação de que nosso futebol poderia alçar vôos mais altos, mesmo longe de nossas fronteiras. No entanto, foi um titulo que, por quase cinco décadas, caiu num profundo esquecimento. Somente em 1997 — exatos 49 anos depois — a Confederação Sul-Americana de Futebol reconheceu, depois de um recurso impetrado pelo Vasco, que aquele torneio, disputado no calor do verão chileno de 1948, representava oficialmente a primeira conquista internacional de clube no continente, tendo hoje o mesmo valor da Taça Libertadores da América.

E o tempo, às vezes, faz com que se perca a dimensão dos grandes feitos. No cenário do futebol da época, o Vasco era uma zebra entre os que participavam do primeiro Campeonato Sul-Americano de Clubes. Fora convidado por ter sido campeão carioca invicto no ano anterior — uma ironia se pensarmos no peso de um título estadual atualmente. O fato é que o brilhantismo do Expresso da Vitória ainda não havia atravessado fronteiras.

O time que reunia Barbosa, Augusto e Rafanelli (Wilson); Eli, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Friaça, Ademir e Chico jogava por música, encantava e fazia tremer qualquer adversário, mas ainda dentro de um contexto restrito. Fama e glamour tinha o fortíssimo River Plate, base da seleção argentina — considerada a melhor do continente. O River era uma máquina de fazer gols. Não à toa era a ‘La Maquina’ liderada pelo jovem, mas genial, Di Stéfano e pelo cerebral Angel Amadeo Labruna. Os números do time eram extraordinários. No Campeonato Argentino de 1947 marcou 90 gols — 27 feitos por Di Stéfano. O River foi a grande equipe de seu país na década, conquistando os títulos de 1941, 1942, 1945 e 1947. Sem dúvida, um dos maiores times da história do futebol mundial. O sucesso levou Di Stéfano para o milionário futebol colombiano e depois para a Europa, onde transformou o Real Madri em outra fábrica de produzir espetáculos.

 Os craques do River Plate, ou “La Maquina”

E não era apenas o clube portenho o desafio para o Vasco. Havia o perigoso Nacional do Uruguai — mal sabia Barbosa o que viria pela frente na trágica Copa de 1950. Mas, naquele momento, não era Gighia o terror do goleiro do Vasco, e sim Atilio García, craque do esquadrão celeste, que se orgulhava de pertencer ao futebol de um país bicampeão mundial. Participava também da disputa, com ambição de chegar à vitória, o Colo-Colo. O anfitrião, evidentemente, contava com o apoio da torcida e ainda se reforçara com os melhores jogadores de outras equipes chilenas.

O Vasco, teoricamente, era somente a quarta força. Tinha pela frente, portanto, o talento dos argentinos, a já conhecida raça dos uruguaios e o sentimento patriótico dos chilenos. Muita coisa para quem ainda não trazia na bagagem a atual tradição vencedora do futebol brasileiro. Foi assim que o Vasco fez as malas para viajar para Santiago. A síndrome de fraquejar em decisões, principalmente as disputadas longe de casa, ainda estava presente e o sentimento de que o titulo era possível parecia distante.”