Em busca da diferença como fotógrafo e cidadão


12/08/2008


José Reinaldo Marques
15/08/2008

Mais que um ofício, muitas vezes a reportagem-fotográfica, pela abrangência e a dinâmica da função, é um portal de acesso a ambientes, histórias e culturas muitas vezes distante do cidadão comum. No caso do carioca André Durão, foi tudo isso e um pouco mais:
— Antes de entrar no JB, não tinha ido nem a cemitério. Com a fotografia, conheci vários países e muita gente interessante do mundo do esportivo, cultural e político. E também perdi a timidez da adolescência.

Depois do Jornal do Brasil, André pelo Globo, IstoÉ Gente e Caras, além de fazer frilas para o Estadão, a Folha, a Agência AP, a Placar, a Contigo e o site Globo.com:
— O que mais me agrada no trabalho — diz ele — é que um dia é sempre diferente do outro. Posso não ter tido um bom dia hoje, mas amanhã é uma nova oportunidade para tentar fazer a diferença, como fotógrafo e como cidadão.

André, que este ano completou 42 anos de idade e 25 de carreira, herdou do pai, Anely Durão, o gosto pela fotografia:
— Ele era um ótimo fotógrafo de casamento e também dono do Hecta 4, o primeiro laboratório voltado para o profissional no Rio. Eu ficava vendo os noticiários da TV e dizia para ele que queria ser fotógrafo, igual àqueles que apareciam às vezes lá no fundo, fazendo cobertura para os jornais. Quando completei 10 anos, meu pai me deu uma Pentax.

Um ano depois, em 77, André se matriculou no curso da Associação Brasileira de Artes Fotográficas (Abaf). O pai o levava às aulas noturnas em Botafogo, na Zona Sul, e ficava esperando para voltarem juntos para a Zona Norte. Em 83, veio o primeiro trabalho: auxiliar de laboratorista no Jornal do Brasil, onde no ano seguinte, já maior de idade, tornou-se fotojornalista.

Esportes

Depois de duas décadas no mercado, André resolveu montar o seu próprio negócio e criou a A. Durão Fotografia, que tem como clientes o site Globo Esporte.com, as revistas Caras e Quem, da Editora Abril, e empresas de eventos. Em todo esse tempo, suas lentes já focalizaram de tudo, mas ele não esconde uma certa preferência pelas pautas de esportes:
— Nos últimos tempos tenho feito muitas fotos de celebridades e gosto do trabalho, mas o esporte é uma paixão. O momento de uma jogada é único, não tem como esperar uma luz melhor ou um horário mais adequado, ou pedir para repetir a cena. Já nas pautas dos famosos, já vi um colega pedir para o artista beijar novamente a noiva no casamento, pois tinha perdido a foto, e ser prontamente atendido. Não há como recuperar um gol perdido, uma cortada, uma cesta.

Oportunidade

Sobre a reportagem que marcou sua trajetória profissional, André relembra um episódio de 1984. O editor de Fotografia do JB anunciou que precisava cortar uma pessoa da equipe — e ele e outro novato eram os mais cotados. A cobertura de um temporal que desabara na cidade decidiria a questão:
— Fui mandado para a Zona Norte e o outro, para a Zona Sul. Confesso que saí da redação desanimado, achando que a Zona Sul tinha um apelo melhor. Quando cheguei ao primeiro viaduto da Av. Brasil, havia uma passarela caída em cima de um automóvel, com uma família presa lá dentro. Fotografei toda a cena do acidente e, na hora de voltar, só tinha mais uma foto e queria fazer uma coisa diferente. De repente, apareceram vários raios no céu e, mesmo sem os ajustes certos na máquina, consegui um registro perfeito. Um raio salvou meu emprego. Fiquei no jornal até 89.

Com várias mostras no currículo, inclusive no exterior, e muitas premiações, principalmente na área esportiva, ele confessa que alguns troféus têm um sabor especial:
— Os prêmios dados pela Arfoc (Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos) me orgulham muito, por ser o reconhecimento de seus pares.

Desejos

Um de seus sonhos profissionais, André diz que já realizou: fazer uma cobertura esportiva “leve”.
— Antigamente era gostoso, mas muito cansativo, pois tínhamos que carregar a maior parafernália, às vezes até um laboratório portátil. Hoje, é só levar um laptop. Meu outro desejo é fazer um livro com fotos de partidas de futebol nos maiores estádios do mundo, principalmente em campos asiáticos.

Para quem está começando a carreira, ele dá um recado:
— Nunca desanime! Já experimentei diversas funções na Fotografia, de repórter a editor adjunto. A Terra é redonda e dá muitas voltas; então, tenha paciência que o seu tão sonhado dia de destaque vai chegar. Trabalhe com seriedade e alegria e, por favor, não afunde o mercado, cobrando pouco para tentar ter um lugar. 

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