Fascínio pelo ineditismo do dia-a-dia


01/10/2008


Aline Sá
10/10/2008

O pernambucano Felipe O’Neill diz que, da mesma forma que sempre buscou ser uma pessoa sincera, tenta obter sinceridade do próximo — bem como mostrá-la por intermédio de suas fotos. Aos 21 anos, considera-se “casado” com a fotografia, mas é “amante” da arte cinematográfica. O gosto pela profissão começou ainda na infância e o levou a ingressar na faculdade de Jornalismo, onde teve a oportunidade de se aproximar da arte que o apaixonava:
— Sempre fui interessado por imagens e já pensava em fazer um curso específico quando, no primeiro semestre de 2006, descobri a cadeira de Introdução à Fotografia no currículo da faculdade. As aulas práticas com a máquina de película Nikon FM2 traziam todo aquele mistério, se aquela “simples” combinação entre diafragma e obturador daria certo, sem nunca esquecer o foco, é claro. As aulas no laboratório p&b também foram fundamentais. O momento em que vemos aquele papel branco ganhar vida é realmente algo fascinante e fez com que eu escolhesse de vez a fotografia para a minha vida.

A carreira começou logo em seguida, quando ainda estudava, a partir de uma oportunidade de estágio no Departamento de Artes Fotográficas da própria faculdade:
— Ali dei meus primeiros passos, aprendi mais sobre o laboratório, o estúdio, a técnica e a prática da arte de fotografar. As pessoas que trabalhavam comigo sempre me ensinaram e incentivaram muito, o que me fez pegar uma câmera e começar a me pautar. Fotografava festas religiosas, carnaval e qualquer evento que estivesse mobilizando a cidade. Foi assim que percebi que queria ser um repórter-fotográfico e a idéia de que, neste trabalho, você entra em contato com coisas diversas todos os dias e nunca sabe o que vai fazer, com quem vai lidar, me fascinava e me fascina até hoje.

Teste

Apesar das dificuldades que enfrentou ao tentar ingressar no mercado de trabalho, o jovem recém-formado não abandonou a perseverança e a dedicação para conquistar seu primeiro emprego:
— Após quase um ano de estágio, montei um portfolio, fui a alguns jornais do Rio e não dei a sorte de conseguir uma chance. Mas continuei fotografando e, uns meses depois, fui chamado para fazer um teste no Dia e o sonho de trabalhar num veículo impresso foi concretizado. Passei a ser parte daquele universo que, por uns tempos, pareceu tão distante.

Segundo ele, uma boa fotografia, a busca pelo melhor ângulo, a melhor imagem e um assunto coerente não depende somente do fotógrafo, e muito menos da máquina fotográfica, mas sim da combinação dos dois, mesclada com talento e uma boa percepção:
— Há uma soma de fatores: o fotógrafo, o que ele está fotografando, o que ele deseja transmitir, o equipamento… Sem contar que o tempo, a sorte e a persistência acompanham diariamente os fotojornalistas, que, diante de uma mesma situação, reagem de maneiras distintas. Acho que a sensibilidade é essencial para a construção da imagem e busco isso toda vez que estou com uma câmera na mão: ser tão arisco e sensível quanto um pássaro. A ousadia também tem que estar sempre presente, é preciso fugir do clichê e buscar enxergar além, impor o seu olhar.

Fidelidade

Ainda que pareça uma contradição, Felipe afirma que, ao mesmo tempo, o profissional não pode interferir nos fatos:
— O repórter-fotográfico tem que ser o mais fiel possível à realidade e buscar a invisibilidade. Afinal, documentamos e eternizamos os acontecimentos. Cada passo no processo de elaboração e captura de uma imagem confere uma sensação de poder de decisão e abstração que às vezes vai tornando um corpo só o ato de fotografar, o profissional, o equipamento, o cenário… A fotografia sempre teve a capacidade de me isolar do mundo, de me fazer esquecer os problemas e me deixar em paz. Hoje, não vejo mais o mundo com ingenuidade, tudo que nos rodeia pode ser uma boa foto, pode virar uma matéria. Tudo passa a ser uma boa desculpa para fotografar e se pautar.

Para Felipe, além de informar, uma boa foto tem a capacidade de tirar também o observador de seu mundo, fazê-lo esquecer seus problemas, criar expectativas e esperanças, cativá-lo e mesmo motivá-lo, gerando um interesse que o induza a aproveitar seu tempo apreciando aquela imagem:
— É um trabalho que envolve sutileza e objetividade. A foto ideal é aquela que fala por si só, que fica nos extremos de ser simples mas eficaz ou de encher os olhos e fazê-los viajar por uma grande quantidade de elementos. E cada uma é como um filho, tem aquele caráter sentimental e pessoal: pode até não ser maravilhosa, mas quem fez sabe o que passou para conseguir aquilo. Até nessas coisas que a gente que aconteceram está também o caráter histórico do trabalho.

Mesmo sendo ainda muito jovem, Felipe acha que já pode dar algumas dicas para quem quer seguir sua carreira:
— Primeiramente, a pessoa tem que lutar por aquilo em que acredita, se dedicar ao seu objetivo, ser persistente e não parar no primeiro “não” — isso tudo vale para qualquer profissão. Mais especificamente, recomendo estudar, ler jornais e beber de todas as fontes possíveis de cultura. Garanto que vai ajudar na hora de pensar ou fazer uma fotografia.

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