O fascínio da imagem descoberto em sala de aula


04/12/2008


Aline Sá
05/12/2008

Carioca de Irajá, 24 anos e recém-formado em Jornalismo, Fernando Souza foi há pouco efetivado no Jornal do Brasil, com o qual já colaborava há muitos meses. Feliz com a escolha profissional, ele afirma ter paixão pelo que faz e muita disposição para aprender e trabalhar melhor a cada dia:
— A fotografia é uma das poucas coisas que, com toda a certeza, vão me acompanhar para o resto da vida — diz ele, com entusiasmo. — A maioria dos profissionais, quando se aposenta, deixa de exercer as atividades que o faziam parte de sua rotina de trabalho. O fotógrafo, ao contrário, continua sempre registrando imagens, pois tem uma das poucas profissões do mundo que, além de fonte de renda, é um hobby. Nunca ouvi falar de um profissional vivo que tenha parado de fotografar. E eu fotografo o tempo todo, em qualquer lugar, até mesmo sem a câmera, pois já olho para as coisas medindo a luz, fazendo enquadramentos… Vai ser assim pelo resto da vida!

A descoberta de que a fotografia seria sua opção profissional e não apenas um passatempo aconteceu há quatro anos:
— Eu estava começando o 3º período da faculdade de Jornalismo e logo na primeira aula de Introdução à Fotografia fiquei encantado com o processo de captação das imagens, a relação entre o diafragma e o obturador, os diferentes tipos de lentes… Quando o professor levava fotos tiradas por profissionais, eu adorava descobrir os detalhes: a luz, a lente escolhida para cada imagem, a técnica usada em cada registro. Lembro que, na primeira aula prática da turma, formamos equipes de quatro pessoas e cada grupo tinha que dividir uma única câmera analógica FM2. Minha vontade de fotografar era tanta que praticamente roubei a câmera dos colegas e, numa postura bastante egoísta, fotografei praticamente sozinho a maior parte do tempo. (risos)

Confirmação

Fernando acha de suma importância o estágio durante o período universitário — “é ele que orienta o estudante quanto à sua afinidade e capacidade numa determinada área da profissão”, diz. Foi estagiando na Divisão de Artes Fotográficas da universidade onde estudava que ele confirmou que queria se tornar fotojornalista:
— O curioso dessa história é que consegui a vaga de estágio graças à minha mãe. O tema da prova prática no processo seletivo era “Lazer na Quinta da Boa Vista”. A Dona Penha arrumou uma câmera semiprofissional, mas disse que eu só podia usá-la se ela fosse junto na “pauta” Pois não é que a idéia da melhor foto que eu fiz naquele dia partiu justamente dela? Havia um homem dormindo no meio-fio, ao lado de uma bicicleta, e consegui um ângulo em que o corpo dele, enquadrado pelo veículo, parecia estar numa moldura. A foto foi elogiada pelo Coordenador do Departamento e me garantiu a melhor nota na prova prática e a vaga no estágio. Daí em diante, não parei mais.

Os colegas veteranos também ofereceram significativa contribuição no seu crescimento profissional:
— Quando comecei a trabalhar na Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual de Segurança Pública, tive a oportunidade de ficar lado a lado com os fotógrafos que, até então, eu só conhecia pelos créditos nas fotos. Passei a acompanhar de perto a rotina deles e, principalmente, passei a ver como eles se comportavam nas pautas, como se posicionavam. No dia seguinte, olhava as fotos publicadas nos jornais e na internet para ver o resultado do trabalho que havia acompanhado na véspera. Comparar meu material com o dos “coleguinhas” foi a maneira que encontrei de ver onde eu tinha acertado e onde tinha errado, o que podia melhorar… Acho que foi então que eu decidi que também queria trabalhar num jornal.

Aprendizado

Um dos truques que Fernando aprendeu em relação ao equipamento foi sempre deixar a máquina com a fotometragem pronta. Já na área pessoal, o melhor é ter um toque de audácia, especialmente se quiser ganhar lugar na primeira página:
— Quando chego pra cobrir uma pauta, minha primeira preocupação é com o posicionamento. Seja um factual ou o simples registro de um personagem, procuro observar bem o ambiente e ver os lugares que possam render a melhor foto. Sou tão exigente com isso que cheguei a ser detido algumas horas certa vez, fotografando um depósito de carros da Polícia Civil que estava cheio de focos de dengue. O lugar estava fechado e, do lado de fora, havia muitas árvores atrapalhando meu campo de visão. Como não vi ninguém por perto, resolvi arriscar e pulei a cerca. Só que havia sim um policial de guarda, que flagrou minha invasão. O saldo da aventura foi um chá-de-cadeira de umas cinco horas na delegacia, seguido de uma bronca monumental do delegado. Mas o susto valeu pela primeira página no dia seguinte.

Lições

Embora ainda se considere um foca, Fernando arrisca dar alguns conselhos para quem quiser ingressar no fotojornalismo:
— Tudo pode ser resumido em três palavras: estudar, praticar e observar. Às vezes uma técnica pouco utilizada pode ser útil no momento em que a gente menos espera. Por isso, devore todos os livros de fotografia que puder. Depois, pegue a câmera e experimente o que aprendeu. Veja muitas fotos, as boas e as ruins, e aprenda a diferenciá-las, até mesmo para editar seu material mais tarde. Quando comecei a fotografar, recortava quase todas as imagens dos dois jornais que lia diariamente, separava por editoria e estudava. Imaginava que lente o fotógrafo tinha usado, como havia se posicionado, como estava a luz, tentava adivinhar se tinha sido fácil ou difícil fazer a foto, se fora sorte ou fruto de uma pesquisa, essas coisas. Tinha centenas recortes em fichários, que consultava sempre.

Fernando, porém, volta a lembrar que a prática é tão importante quanto o estudo:
— Até porque é só fotografando que se monta um portfólio, seu cartão de visitas em qualquer lugar. Procure fazer um material bem variado. Como tudo na vida é “fotografável”, o mais legal é fotografar de tudo um pouco: registre uma festa, um dia chuvoso, uma passeata, vá à igreja, ao futebol… Lidando com as mais diferentes situações, você começa a se adaptar e a enxergar onde estão as boas fotos. Como dizem no jornal: lugar de fotógrafo é na rua! 



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