Pioneirismo na época certa


07/02/2007


Quando a Veja foi lançada, em 11 de setembro de 1968, o clima no Brasil, com a ditadura militar, talvez não fosse o mais propício para investir num novo veículo de comunicação. Isso, porém, não intimidou os donos da Abril, Victor e Roberto Civita. Na opinião de Eurípides Alcântara, Diretor de Redação da revista, o que favoreceu o lançamento foi o fato de o Brasil passar então por um período de intensa urbanização, ampliação de infra-estrutura e aumento da população com acesso à universidade:
— Esboçava-se o que viria ser chamado mais tarde de milagre econômico, o crescimento acelerado do País que chegou a dois dígitos em alguns anos da década de 70. A Abril avaliou que em um cenário assim cresceria a necessidade de uma revista semanal de informação nos moldes das americanas Time e Newsweek. O conceito demorou alguns anos para pegar e a empresa teve prejuízos continuados até que Veja se tornasse indispensável, termo que mais tarde seria seu slogan.

Eurípides Alcântara diz que a Veja aparece como quinta colocada no ranking mundial e primeira no Brasil entre as revistas semanais de informação:
— Temos quase o dobro de leitores que as duas concorrentes somadas. Em conteúdo, a meu ver, a distância é ainda maior. As outras revistas vivem em constante mutação e ainda não se estabilizaram a ponto de oferecer base sólida para uma comparação. Nossas pesquisas mostram que nosso público não lê outras semanais, mas os leitores delas têm a Veja como referência. Nossos concorrentes são, pela ordem, a internet e a televisão. Também nos destacamos pela capacidade de apuração de notícias exclusivas e pela vigilância constante sobre o poder público. Esta é uma missão que se impõe como prioridade em um país onde os cidadãos entregam aos governos 40% de seus ganhos, na forma de impostos, e pouco recebem em troca.

No cargo desde fevereiro de 2004, Eurípides enumera as funções do Diretor de Redação da Veja: cuidar de aspectos legais, definir a linha de atuação e cuidar da manutenção “dos níveis de qualidade e da inatacável credibilidade” da revista — muitas vezes questionada pelos leitores — e reafirmar os princípios da publicação para seus jornalistas:
— Ocasionalmente, repórteres e até alguns editores da revista se confundem sobre esses princípios e como eles orientam o que publicamos. Não nos vemos obrigados a nenhuma operação de soul-searching a cada vez que editamos as matérias. Mas quem está ligeiramente fora do processo de fechamento tem todo o direito de nos questionar.

Para ele, a defesa desses princípios — bem como dos princípios básicos de uma sociedade democrática — não põe a revista “necessariamente à direita ou à esquerda no espectro ideológico”:
— Ela nos coloca contra o racismo, contra a corrupção, contra a tortura, sejam seus autores de um lado ou de outro. Coloca-nos na defesa da propriedade privada, não por vê-la como instrumento de preservação de injustiças materiais historicamente determinadas, mas como sinalização de maturidade jurisdicional e de respeito às leis e aos contratos. Essa é uma primeira tentativa de esboçar com mais clareza o que nos move e como decidimos.

 Eurípides Alcântara

Etapas de produção

As reuniões de pauta da Veja acontecem às segundas-feiras, às 11h, com a participação do Diretor e dos editores-executivos. Definidos os assuntos que virarão matérias, inicia-se a distribuição de tarefas entre as editorias (Brasil, Geral, Internacional, Economia & Negócios, Guia e Artes & Espetáculos). A Coordenação de Produção — que abrange os setores de Revisão e Editoração — encarrega-se da revisão dos textos e de fazê-los casar com as páginas diagramadas.

Sobre a escolha da capa, Eurípides diz que “não existe uma regra de ouro, o próprio assunto se impõe”:
— Como o mundo não entra em recesso, até a noite de sexta-feira, quando o material vai para a gráfica, as notícias quentes vão expulsando as frias e, quanto mais isso ocorre, mais incandescente fica a revista.

Os repórteres participam ativamente do fechamento (que acontece mais cedo em editorias como Artes & Espetáculos) e muitos integrantes da equipe foram selecionados no Curso Abril de Jornalismo, como Paula Neiva, contratada há quatro anos:
— Sem dúvida o curso ajuda a entender como se faz uma revista e o que é uma revista bem-feita. No meu caso, foi também a porta de entrada para a Veja. Ainda durante o curso, colaborei numa matéria sobre um surto de dengue no Rio e estou até hoje na editoria de Saúde.

Paula afirma que o nível de qualificação da equipe de reportagem é muito alto. A revista preza a qualidade e a precisão das informações, bem como o ineditismo. Na sua área, em especial, é necessário estudar muito e falar outras línguas com fluência. Além disso, os temas, na maioria das vezes, são áridos e incluem muitos termos técnicos:
— Quanto ao funcionamento da editoria, nosso fechamento, geralmente, é às quartas-feiras. Então, uso as quintas e sextas para pesquisar pautas que, na segunda seguinte, fico sabendo se foram aprovadas ou não. Em caso positivo, parto para a apuração. É preciso ter o olho treinado para reconhecer uma pauta em potencial, curiosidade para descobrir fatos novos e vontade de extrapolar o factual — diz a repórter. — E estudar o assunto. Porque, além de “vender” a pauta, temos que estar preparados para os questionamentos do editor, que avalia a importância do tema em questão e sua relevância para o leitor.

Camila Pereira, por sua vez, diz que não há um padrão para mensurar o volume de matérias que cada repórter tem sob a sua responsabilidade:
— Varia muito de acordo com a editoria e com a época. Pode acontecer de pegarmos em uma matéria especial que exija três semanas de cuidado exclusivo. Ou, na semana quente de notícias, termos que produzir várias matérias.

Também selecionada no Curso Abril, ela afirma que o conhecimento que adquiriu na faculdade não seria suficiente para ser repórter em qualquer redação:
— Além disso, o curso é uma espécie de selo de qualidade que abre portas nas revistas da editora. No meu caso, foi ainda mais importante, porque, na parte prática do curso, eu trabalhei na Veja e a jornalista que é hoje minha editora foi minha orientadora durante o curso. Então, foi realmente uma espécie de ensaio. Não tenho dúvidas de que o grande aprendizado acontece no dia-a-dia da redação. Aprende-se muito aqui. Trabalho com profissionais muito experientes e competentes e tenho acesso aos principais especialistas de cada área como fontes. A grande repercussão das matérias e a visibilidade do trabalho também são gratificantes — diz Camila.