50 anos do Cineclube Macunaíma em ritmo de comemoração


23/03/2023


Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI

Com programa duplo, documentário e curta do diretor Carlos Pronzato que serão exibidos nessa quinta-feira (22) no Cine Teatro Joia, está aberta a temporada de comemoração dos 50 anos do Cineclube Macunaíma dentro do calendário de festividades pelos 115 anos da ABI.

Carlos Pronzato, diretor do documentário Porque não se fala em Manoel Bomfim e do curta La víctima, assim nasceu Los traidores, conversou com a diretoria de Cultura.

“O documentário sobre Manoel Bomfim busca dar visibilidade à vida e obra de um dos principais pensadores brasileiros. Mas se o legado de Manoel Bomfim cumpre papel determinante para o diagnóstico e as buscas de saídas democráticas para o Brasil, por que esse autor se tornou esquecido ao longo do tempo? Essa é uma inquietação presente há algumas décadas na intelectualidade brasileira, desde que Darcy Ribeiro, na metade dos anos 1980, o classificou como ‘o pensador mais original da América Latina’. Exemplo disso são os textos de Gilson Dantas, de 1997, que perguntam o motivo de Manoel Bomfim ficar à margem dos livros escolares, e de Aluízio Alves Filho, que afirma ser Bomfim o ‘ensaísta esquecido’”, observa Pronzato.

Com o título que não deixa dúvida sobre o objetivo de resgatar o pensador, Pronzato acredita que, embora esquecido, Bomfim permanece atual. “A voz deste ‘rebelde esquecido’, mesmo enfraquecida, chegou até nós por meio de várias reverberações em uma contemporaneidade profundamente marcada pela corrupção política, pela descrença generalizada em várias instituições e por inúmeras mazelas mal resolvidas no plano social. Por tudo isso, o conteúdo das reflexões do intelectual sergipano torna-se atual e necessário enquanto instrumento de análise para pensarmos o processo político, bem como as relações entre estado e sociedade no país”, afirma.

O documentário, lançado em 2018 em Aracaju, Sergipe, é construído a partir de documentação histórica e entrevistas com pesquisadores que produziram e continuam a produzir sobre a obra de Bomfim, como Aluízio Alves Filho, Rebeca Gontijo, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autora do livro Manoel Bomfim, José Vieira da Cruz, professor da Universidade Federal de Alagoas e coorganizador do livro Manoel Bomfim e a América Latina: a dialética entre o passado e o presente, e Ricardo Sequeira Bechelli, que escreveu Nacionalismos antirracistas: Manoel Bomfim e Manuel Gonzalez Prada.

Pronzato entende que “a obra de Bomfim está conectada e é influenciada diretamente pelo chão que o moldou”. O documentário conta com depoimento de intelectuais, estudiosos e ativistas de Sergipe, como Terezinha Oliva, historiadora e professora emérita da Universidade Federal de Sergipe; Fernando Sá e Romero Venâncio, respectivamente professores de História e Filosofia da mesma instituição, Aglaé Fontes, integrante da Academia Sergipana de Letras e pesquisadora da cultura local, e Ana Lúcia Vieira Menezes, professora e ex-deputada estadual.

Em seguida ao documentário de 50 minutos será exibido o curta La víctima, assim nasceu Los Traidores, adaptação e direção de Pronzato sobre o original Los Traidores, filme de Raymundo Gleizer, de 1972, clássico do cinema político argentino. Com material recuperado de entrevista a Víctor Proncet, ator protagonista de Los traidores, Pronzato reconta a história do sindicalista Roberto Barrera que de líder de classe passou a ser um dirigente traidor e corrupto. Junto com Raymundo Gleizer e Álvaro Melián, Víctor Proncet assinou o roteiro baseado em seu conto ‘La víctima’. O curta tem legenda em português.

Oscar Zinelli, diretor e responsável pela recuperação do Cine Teatro Joia, que é o último cinema do bairro de Copacabana desde que o Roxy foi fechado no início da pandemia e agora está ameaçado de ser transformado em casa de show, saúda a parceria com a ABI destacando se tratar da união de duas frentes permanentes de defesa e apoio à cultura.

A sessão é às 20h dessa quinta-feira, dia 23, com debate após as exibições. O Cine Teatro Joia fica na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 680, Rio de Janeiro, metrô estação Siqueira Campos. Ingressos a R$ 20.