Opinião do The Guardian sobre a COP27: não é hora para apatia ou complacência


15/11/2022


Editorial do The Guardian, publicado por mais de 30 organizações de mídia de mais de 20 países

Tradução: Geraldo Cantarino, conselheiro da ABI

A mudança climática é um problema global que requer cooperação entre todas as nações. É por isso que hoje mais de 30 jornais e organizações de mídia em mais de 20 países têm uma visão comum sobre o que precisa ser feito. O tempo está se esgotando. Em vez de abandonar os combustíveis fósseis e entrar na energia limpa, muitas nações ricas estão reinvestindo em petróleo e gás, falhando em reduzir as emissões com rapidez suficiente e regateando a ajuda que estão preparadas para enviar a países pobres. Tudo isso enquanto o planeta dispara rumo ao ponto de não retorno – em que o caos climático se torna irreversível.

Desde a 26ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática (COP26), em Glasgow, há 12 meses, os países prometeram fazer apenas um quinquagésimo do que é necessário para limitar o aumento da temperatura em até 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais. Nenhum continente conseguiu evitar desastres climáticos extremos este ano – de enchentes no Paquistão a ondas de calor na Europa, de incêndios florestais na Austrália a furacões nos Estados Unidos. Considerando que esses eventos são consequências da elevação da temperatura em cerca de 1,1°C, o mundo pode esperar o pior daqui para a frente.

Enquanto muitas nações procuram reduzir sua dependência da Rússia, o mundo está passando por uma “corrida do ouro” por novos projetos de combustíveis fósseis. Esses projetos são lançados como medidas temporárias de abastecimento, mas correm o risco de causar danos irreversíveis ao planeta. Tudo isso ressalta que a humanidade precisa acabar com o seu vício em combustíveis fósseis. Se a energia renovável fosse a norma, não haveria emergência climática.

As pessoas mais pobres do mundo sofrerão o impacto da destruição causada pela seca, pelo derretimento das camadas de gelo e pelo fracasso na colheita. Proteger esses grupos da perda de vidas e de meios de subsistência exigirá dinheiro. De acordo com um relatório influente, os países em desenvolvimento precisam de 2 trilhões de dólares, anualmente, para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e lidar com o colapso climático.

Os países ricos respondem hoje por apenas uma em cada oito pessoas no mundo, mas são responsáveis por metade dos gases de efeito estufa. Essas nações têm uma clara responsabilidade moral de ajudar. As nações em desenvolvimento devem receber dinheiro suficiente para lidar com as condições perigosas que pouco fizeram para criar – especialmente quando uma recessão global se aproxima. As nações ricas deveriam cumprir a promessa de fundos previamente prometidos – como os 100 bilhões de dólares por ano a partir de 2020 – para sinalizar sua seriedade. No mínimo, deveria ser aplicado um imposto extra sobre os lucros combinados das maiores empresas de petróleo e gás – estimados em cerca de 100 bilhões de dólares nos primeiros três meses do ano. As Nações Unidas estavam certas em pedir que o dinheiro fosse utilizado para apoiar os mais vulneráveis. Entretanto, tal taxa seria apenas o começo. As nações pobres também carregam dívidas que impossibilitam a recuperação após desastres relacionados ao clima ou a proteção diante de futuras catástrofes. Os credores devem ser generosos no cancelamento de empréstimos para aqueles que se encontram na linha de frente da emergência climática.

Essas medidas não precisam esperar por uma ação internacional coordenada. Os países poderiam implementá-las em nível regional ou nacional. As emissões acumuladas de uma nação devem ser a base de sua responsabilidade de agir. Embora o financiamento privado possa ajudar, o ônus para desembolsar o dinheiro recai sobre os grandes emissores históricos.