Artigo: “Brasil reescreve a sua história”


Por Mário Augusto Jakobskind

25/11/2013


“No último dia 14 de novembro, o Estado brasileiro promoveu uma reparação histórica. Depois de quase 37 anos de sua morte e 49 anos e oito meses de ter sido derrubado, o presidente João Goulart recebeu honras de chefe de Estado. Quando da morte de Goulart, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina, os governos ditatoriais brasileiro e argentino não permitiram sequer a realização de autopsia. E como há fortes indícios de que Goulart pode ter sido assassinado com troca de remédios, a Comissão da Verdade decidiu fazer a exumação dos restos mortais do presidente deposto por um golpe empresarial militar que contou com o apoio do governo dos Estados Unidos.

Nestes quase 50 anos da derrubada, a figura de Jango, como era também conhecido João Goulart, foi desfigurada pelos detentores do poder de fato e por alguns historiadores. Depois do reconhecimento oficial como presidente da República, para se fazer justiça é necessário rever uma série de estereótipos negativos divulgados ao longo de todos estes anos. Para começar, é importante lembrar que a principal bandeira de Goulart, as reformas de base, continuam vigentes, porque o Brasil ainda não conseguiu incrementar a maior parte das propostas apresentadas pelo governo de então, que pode ser considerado o mais progressista da história do país. A reforma agrária é uma delas.

Torna-se mais atual do que nunca comentário do professor Darci Ribeiro sobre a derrubada de Jango ao afirmar que ele caiu por suas qualidades e não por seus defeitos. Na verdade, no auge da Guerra Fria, Goulart tentou levar adiante reformas sociais que o Brasil necessitava e ainda necessita, mas foi impedido por setores retrógrados que contaram com o apoio financeiro dos Estados Unidos, para não falar da chamada Operação Brother Sun, deslocamento de navios de guerra norte-americanos nas costas brasileiras que entrariam em ação para dar cobertura aos golpistas. O Brasil, portanto, reescreve a sua história”.

* Mário Augusto Jakobskind é jornalista e escritor