Vida jornalística marcada pelo destino


26/06/2007


Rodrigo Caixeta
29/06/2007

Há 12 anos Wania Corredo é repórter-fotográfica. Segundo ela, a escolha da profissão é, em parte, conseqüência da vocação da família, que sempre teve forte ligação com o mundo das artes. Inspirada em uma tia artista plástica, Wania resolveu desenhar. E saiu-se muito bem — “desenhar e pintar era bem bacana!”, diz. Só que faltava alguma coisa:
— A fotografia! Entrei num laboratório pela primeira vez na faculdade de Publicidade. Foi paixão total, porque tinha plástica, composição, luz e um ingrediente a mais: a velocidade! Expus em Santa Teresa e minha primeira oportunidade de trabalho surgiu lá. Fui trabalhar como correspondente de vários veículos nacionais e internacionais em uma agência chamada Frilas. Depois, trabalhei por três anos no Dia e estou há nove no Extra.

Wania gosta de coberturas com as quais possa se envolver e em que não precise “ficar parada esperando uma determinada foto acontecer”:
— Gosto de poder andar, sentir e entrar no mundo das pessoas que estou fotografando. A mais importante cobertura da minha carreira foi do saque à Ceasa, em 2003, depois de um grande incêndio em um dos galpões. Quando cheguei, descobri que centenas de miseráveis estavam chegando das várias partes da cidade para pegar comida podre, molhada e queimada. Pedi ao jornal para ficar até que a última chama se apagasse. Durante uma semana, fotografei jovens, crianças, velhos e até mesmo grávidas nos escombros, que ferviam como um grande forno. Estas fotos me renderam vários prêmios.

A estréia na imprensa aconteceu de forma inusitada. Sem ter idéia de como era uma redação, um dia Wania chegou em casa, pegou a lista telefônica e anotou o telefone do Dia, na esperança de trabalhar lá. Dois dias depois, fez o primeiro frila para o jornal, cobrindo um tiroteio no Andaraí:
— Foi nessa primeira pauta que senti o cheiro da morte. Tive que fotografar dois jovens assassinados, vítimas da guerra do tráfico. Vi mães desesperadas em busca de seus filhos, precisei correr de tiros e ainda fui agredida. Tudo isso na primeira saída. No dia seguinte, minha foto estava na primeira página. Emocionante, né? Era o momento de optar por continuar ou abandonar a carreira. Resolvi ficar. A minha vida jornalística é muito marcada pelo destino.

Prêmios

Wania acumula diversos prêmios na carreira. Em 2002, ganhou o Esso, o Embratel e o Líbero Badaró, com a foto “Execução numa rua em Benfica”, flagrante do assassinato de um empresário em plena luz do dia, na Zona Norte do Rio. Em 2004, ganhou o Prêmio Caixa Econômica de Jornalismo Social e uma Menção Honrosa no Prêmio Wladimir Herzog por duas imagens diferentes das pessoas desesperadas, catando comida nos escombros do incêndio na Ceasa. Naquele mesmo ano, recebeu o Prêmio Internacional Rei de Espanha, com a foto “Os invasores”. Venceu ainda o XXI Prêmio de Fotografia de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, com “Guerra na Rocinha”, e agora, em 2007, ganhou o Prêmio Senai de Jornalismo Social por “O Rio será a cidade do aço”.

Exposições também não faltam no currículo. Participou de “Mulheres de Vinicius”, no Museu da Imagem e do Som do Rio; “Viagens”, na Galeria Cavé de Paris; “Sobrevivendo no Rio de Janeiro”, no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo; “Fotógrafos brasileiros — Rio de Janeiro: um álbum da cidade feito por fotojornalistas”, no Centro Cultural Banco do Brasil; “50 anos de fotojornalismo do Prêmio Esso”, no Centro Cultural da Justiça Federal; e “Outro Rio. Mesmo Rio”.

Wania também fotografa o carnaval da Sapucaí há nove anos, mas segue participando de coberturas nada festivas, que já a puseram muitas vezes em situações de risco:
— Quando fotografei a execução em Benfica, por exemplo, estava pendurada na janela do carro do jornal e passei pelos assassinos. Estou sempre em coberturas policiais, no meio de tiroteio — conta a fotógrafa, que tem integrado a equipe que cobre a megaoperação da polícia no Complexo do Alemão.

Para Wania, o fotojornalismo brasileiro está passando por um processo de mudança — “a tecnologia veio para mudar muita coisa, estamos em um momento de transição”, afirma. Com relação ao perfil do repórter-fotográfico ideal, ela diz:
— O fotógrafo deve estar sempre atento, com o equipamento preparado, e ter o maior número de informações sobre o assunto que está cobrindo. Além disso, precisa ser rápido e dinâmico, mas também saber esperar o momento certo para acionar a máquina. 

 

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