Uma vida dedicada ao jornalismo


07/04/2006


Rodrigo Caixeta
7/4/2006

                                    Rodrigo Caixeta

O jornalista Hélio Fernandes, dono da Tribuna da Imprensa, abriu a temporada dos Cursos Livres de Jornalismo da ABI, na tarde desta sexta-feira, na Sala Belisário de Souza, no 7º andar do edifício-sede da entidade. O Presidente da Casa, Maurício Azêdo, deu boas-vindas ao público e convidou o palestrante à mesa, onde também estavam a Diretora de Jornalismo da ABI, Joseti Marques, e as jornalistas Cecília Costa e Ilza Araújo, professoras, respectivamente, dos cursos de Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa. Maurício destacou a densa biografia profissional do convidado:
— Ele é um dos mais antigos repórteres e, depois de Barbosa Lima Sobrinho, o jornalista que há mais tempo assina textos na imprensa. Foi perseguido na ditadura militar e resistiu aos atentados ao seu jornal.

Concordando com Maurício, Hélio fez apenas o seguinte adendo: é também “o jornalista mais antigo em idade”.
— Este ano, completo 70 anos de jornalismo diário e ininterrupto e 50 de coluna, iniciada no Diário de Notícias.

Em seguida, Hélio recordou sua estréia na imprensa, aos 12 anos, quando entrou na redação de O Cruzeiro, em 1936, quando ela ainda não vivia seus tempos áureos — mesmo assim, tinha o que considera uma das redações mais extraordinárias que já existiu. Na revista, ele trabalhava ao lado do irmão Millôr Fernandes, 11 meses mais jovem e editor das páginas do Pif Paf:
— Naquela época, o jornalismo era apenas um bico, a maioria dos profissionais tinha cargo público e não se dedicava integralmente à atividade.

Segundo Hélio, uma de suas principais coberturas foi a da Assembléia Nacional Constituinte, em 1945, quando, aos 21 anos de idade, foi “testemunha de um dos grandes momentos da democracia brasileira”.
— Havia 17 jornalistas pautados, entre eles Prudente de Moraes, neto, Osório Borba e Oswaldo Costa. Apenas eu estou vivo.

Outro dado biográfico interessante lembrado por Hélio Fernandes: ele é também “o jornalista que mais foi preso e desterrado”.
— Fiz muitas conferências pelo Brasil e, normalmente, saía delas diretamente para uma cela. No entanto, mesmo na época da ditadura, nunca fui torturado. Era uma figura pública e, caso acontecesse algo comigo, certamente o Governo seria derrubado. O Herzog, infelizmente, só ficou famoso depois de sua morte, porque até então ele era conhecido apenas em São Paulo.

O jornalista recordou ainda a época em que se candidatou, pelo antigo MDB, a Deputado federal, em 1966:
— A eleição seria o início de um projeto político que chegava à Presidência da República. No entanto, poucos dias antes das eleições, fui cassado. O partido faria um último discurso de encerramento da campanha, na PUC, mas, o então Reitor, Padre Laércio Dias de Moura, me advertiu sobre a presença de dois coronéis na instituição. Ele me disse, porém, que me garantiria que nada aconteceria a mim ali dentro, então fiz o discurso mais violento da minha vida. Como já estava cassado — e não podia nem assinar meus textos — criei o pseudônimo de João da Silva e continuei com os meus discursos.

Prestes a completar 83 anos, Hélio diz não se arrepender de nada. E avisa:
— Meu último artigo será escrito entre a Rua do Lavradio (onde fica a Tribuna da Imprensa) e o Cemitério São João Batista.