Uma sinfônica, sua história e um grande maestro


18/04/2008


Em 7 de abril de 2008, na festa do centenário da Associação Brasileira de Imprensa, no Theatro Municipal do Rio, a Orquestra Petrobras Sinfônica foi uma das principais atrações. Sob a regência do maestro Isaac Karabtchevsky, ela dividiu com a homenageada e o sambista Paulinho da Viola as honrarias de grande vedete da noite. Com irretocável execução de obras de Villa-Lobos, Francisco Mignone e Guerra-Peixe, a Opes mostrou por que vem sendo considerada uma das melhores sinfônicas em atuação no País. A solenidade, que foi organizada para ser uma exaltação do jornalismo, acabou se transformando em destaque da música erudita nacional e do virtuosismo dos músicos da orquestra.

 O fundador Armando Prazeres

Armando Prazeres, assassinado em 1999, criou o grupo inicialmente conhecido como Orquestra Sinfônica Petrobras Pró-Música (OPPM). O nome surgiu quando, ao fim de um concerto, o regente pediu à estatal adotasse o conjunto que já vinha acompanhando os corais da empresa em missas e gravações de discos. O fato ocorreu em 7 de setembro de 1986, quando o maestro regeu o tradicional Concerto da Independência. O então Presidente da Petrobras, Ozires Silva, acatou de imediato a solicitação e a orquestra passou a fazer, em média, 12 concertos anuais — hoje são mais de 40.

A orquestra, de 88 integrantes, tem um compromisso: levar música erudita a pessoas com pouco acesso a eventos culturais. Por isso, muitas de suas apresentações acontecem em ambientes públicos e são gratuitas ou com ingressos a preços populares. 

Divisão 

                    Maestro Isaac Karabtchevsky

Em 2003, Isaac Karabtchevsky assumiu a direção da Opes. Com a experiência de 26 anos na regência da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), ao comparar os dois grupos ele diz que há diferenças na abordagem do repertório, além da forma de expor as idéias e discuti-las com os músicos. Tal relacionamento faz com que a responsabilidade dos acertos, ou fracassos seja dividida por todos e não recaia apenas na figura do maestro, como acontecia anteriormente:
— Vivenciei enormes avanços na vida musical carioca e brasileira nos anos em que estive à frente da OSB. Foi uma época de descobertas, como o Projeto Aquarius, que conseguiu desvincular a música clássica dos modelos austeros. Fizemos com que ela saísse das salas de concerto e fosse ao encontro do povo. Entre as coisas que ainda não consegui concretizar, e para o qual buscamos mais patrocinadores, está a criação de projetos alternativos para as favelas, um grande movimento de resgate social que daria à orquestra uma missão para além da música.

Perceber a música como um elemento pedagógico é também uma das funções do líder de uma orquestra, segundo Karabtchevsky:
— O regente tem uma missão educativa, especialmente num país carente como o nosso. É necessária uma visão do todo, a consciência de que não podemos restringir o processo musical, tão rico e diferenciado, a um único público pagante e com alguma formação cultural. A um regente cabe a ousadia de desprender-se do convencional e de buscar, mesmo no que poderia parecer insólito aos puristas, formas de comunicação mais arrojadas.

Incluem-se aí a televisão, os concertos em regiões não beneficiadas, programas que insiram também a música popular e outros elementos que marcam a trajetória da Opes, como ressalta o maestro:
— Contamos com o apoio incondicional da Petrobras para empreender esse processo revolucionário. Ouso falar no termo revolução porque, recentemente, foi eleita pela assembléia dos músicos uma nova Diretoria (Fernando Pereira, Carlos Mendes e Felipe Prazeres), que se notabiliza por uma visão da orquestra inserida dentro das formas mais atuais de marketing, aquela que irá levar o conjunto a novos patamares nessa história tão rica de projetos e formas de interação com a comunidade.

 Antiga Petrobras Pró-Música

Garra

Um dos predicados da Orquestra Petrobras Sinfônica destacados por Isaac Karabtchevsky é o entusiasmo do grupo:
— Não posso falar de um ponto forte, isto acarretaria a visão de que talvez outros fossem fracos, o que seria uma penalização injusta. O importante a realçar na Opes é que se trata de uma orquestra jovem, que toca com garra e entusiasmo, com vontade de acertar e de tocar bem. Coisas que não são tão evidentes em outras orquestras espalhadas pelo mundo, embora tenhamos que levar em conta que não se pode comparar uma orquestra com duas décadas de existência, em fase de amadurecimento artístico-musical, com instituições muito mais antigas.

Quando o grupo é jovem, diz o maestro, a música é tocada de maneira diferente, sem que haja comprometimento da qualidade da execução:
— Ela é mais vibrante, mais engajada e provoca a imediata vibração das platéias. Dou como exemplo a Orquestra Juvenil Simon Bolívar, de Caracas, que vou dirigir no fim do mês de abril. Ela suscita admiração pela forma perfeita e entusiasta com que executa as obras do repertório sinfônico. E, em se tratando de jovens que oscilam entre 10 e 25 anos de idade, podem levar regentes e ouvintes às lágrimas. Foi o que aconteceu quando Claudio Abbado e Simon Rattle a dirigiram, recentemente.