Ubuntu, Gustavo de Lacerda!


19/01/2024


Por Marcos Gomes, presidente do Conselho Deliberativo, e Luiz Paulo Lima, Diretor de Igualdade Étnico-Racial da ABI

Gustavo de Lacerda, o jornalista negro catarinense que há 115 anos fundou a Associação Brasileira de Imprensa, completaria 170 anos neste domingo, 21 de janeiro. A sua contribuição marcante para a imprensa e para a nossa sociedade é inegável. Ao reconhecer e celebrar a herança cultural, social e política deixada por Gustavo de Lacerda nós, jornalistas, devemos reforçar cotidianamente o compromisso com a preservação da história e da memória desse nosso ancestral.

A palavra Ubuntu tem origem africana no idioma banto e pode ser traduzida como “eu sou porque nós somos” e, nesse artigo é bom que fique assinalado: “Nós somos, porque Gustavo de Lacerda foi.”
Lacerda e seus companheiros, ao fundarem a ABI no dia 7 de abril de 1908 objetivavam “criar e manter uma caixa de pensões e auxílios para os sócios e suas famílias, manter um serviço de assistência médica e farmacêutica, instituir o Retiro da Imprensa para velhos e enfermos”, além de “manter no centro da cidade, a sede social com biblioteca, salões de conferência e diversões.”

Para lembrar a data de nascimento do Gustavo de Lacerda, a diretoria de Igualdade Étnico-Racial da ABI promove neste domingo (21), às 16h, no canal ABITV, no Youtube, a entrevista com o historiador Fabio Garcia, autor do livro Gustavo de Lacerda: Vida e obra de um jornalista negro catarinense (1854-1909). As jornalistas Jamile Barreto e Marielli Patrocínio apresentam este programa que contará também com a participação do aluno do curso de Comunicação da PUC-Rio, Lucas Adeniran.
Filho de Maria das Dores, escravizada e de pai não identificado, Gustavo de Lacerda teve três irmãos: Frederico, Luisa e Maria. Todos nasceram em Desterro, atual Florianópolis, em Santa Catarina. Sua sobrinha Celuta Maria Fagundes trabalhou na biblioteca da ABI.

Trabalhar nos principais jornais que circulavam no Rio de Janeiro – entre eles O Paiz e o Jornal do Brasil – desde a época em que fixou residência na antiga capital – demonstra a dimensão de Gustavo de Lacerda. Além de sua carreira na imprensa, também teve atuação destacada na política ao criar, em 1890, o Centro Operário Radical, uma organização de tendência socialista.

A luta incansável de Gustavo de Lacerda por melhores condições de trabalho e garantias sociais refletia-se nas propostas do Centro Operário Radical, que posteriormente influenciaram na criação de leis trabalhistas no Brasil. Além disso, suas contribuições estendiam-se à Arte e à Educação ao sugerir, em 1892 a criação do Instituto de Educação Popular e estimular a produção de peças teatrais e recitais de poesia.

Vale destacar que Gustavo de Lacerda também serviu ao Exército brasileiro por 12 anos. O historiador Fabio Garcia relata em seu livro que “Lacerda e seus companheiros republicanos de farda não resistem à repressão do grupo monarquista e são excluídos do Exercito.”

Lacerda morreu aos 55 anos na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, no dia 4 de setembro de 1909.

A vida do jornalista Gustavo de Lacerda foi marcada por uma busca incessante por justiça social. O seu exemplo deve servir de inspiração para os jornalistas e comunicadores de hoje e também para as futuras gerações.