Repórteres submetidos a cárcere privado no PA


21/10/2020


 

Equipe da TV Liberal

Por Cristina Serra, membro da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos da ABI

No último sábado ( 17/10 ) uma equipe de reportagem da TV Liberal (afiliada da Rede Globo em Belém) foi submetida à cárcere privado enquanto fazia a cobertura jornalística dos estragos causados por um temporal, em um bairro da periferia da capital paraense.

A repórter Nathalia Kahwage e o cinegrafista Wandelei Prestes gravavam imagens de casas destelhadas quando foram avisados por funcionários da Defesa Civil de que um templo evangélico havia sido fortemente atingido pela chuva. A equipe se dirigiu à Assembleia de Deus no Utinga e recebeu autorização de um integrante da igreja que estava no local para entrar e filmar.

Quando os repórteres começavam a filmar o telhado avariado no terceiro andar, chegaram dois homens que os impediram de trabalhar e os obrigaram a descer para o térreo. Um deles se identificou como “presidente” da igreja. No térreo, havia outros integrantes da igreja. A equipe foi submetida a uma série de constrangimentos: gritos, empurrões e ameaças até que o homem auto entitulado presidente trancou a porta de vidro da igreja e fechou a cortina. Também tentaram arrancar a câmera de Wanderlei, que conseguiu filmar alguns dos momentos de tensão.

“Eu entendi que estávamos em cárcere privado e falei que não podiam fazer isso com a gente, que só estávamos ali pra trabalhar. Eu quis conversar, mas algumas pessoas gritavam. Senti que havia um ódio contra nós. Foi surreal. Então, eu e Wanderlei forçamos a saída e depois de muita insistência conseguimos sair”, contou Nathalia ao site da ABI. “Tenho 14 anos de profissão e já passei por situações de hostilidade, mas nada parecido com essa violência do cárcere privado”, relatou a repórter.

Já do lado de fora da igreja, os jornalistas tiveram ajuda de moradores do bairro para chegar ao carro de reportagem e ir embora. A equipe registrou boletim de ocorrência na delegacia do bairro.  A TV Liberal informou que está prestando apoio aos funcionários e que tomará as medidas judiciais cabíveis.

O Sindicato dos Jornalistas do Pará, a Associação Paraense das Emissoras de Rádio e TV e o Sindicato das Empresas de Rádio e TV do Pará manifestaram repúdio ao atentado que viola a liberdade de imprensa e atinge toda a sociedade. A OAB-Pará disse que o caso configura agressão à liberdade de imprensa.

Depois da repercussão do caso, o advogado Joniel Abreu, mandou nota à TV Liberal, em nome da igreja. Ele pediu desculpas à equipe e disse que a liderança da igreja não havia autorizado a entrada dos repórteres no templo “por questões de segurança”.

Cárcere privado é crime previsto no Código Penal e o livre acesso à informação é um direito constitucional. No link abaixo, veja a matéria completa sobre o caso na TV Liberal.