Renda e escolaridade afetam mercado fluminense


22/11/2007


    João Carlos Rabello

Contribuir para que os jornais do interior fluminense alcancem o sucesso dos gaúchos é uma das metas da Associação dos Jornais do Interior do Rio de Janeiro (Adjori-RJ), segundo o Diretor da entidade João Carlos Rabello:
— Este é meu sonho, mas lá há um mercado bem estruturado cultural e economicamente. O Rio Grande do Sul é a experiência de maior sucesso no segmento. Tanto que o Zero Hora, líder no estado, perde leitores em muitos municípios, como Novo Hamburgo, onde o NH tem 41 mil assinantes. Supondo que cada família da cidade — de cerca de 240 mil habitantes — tenha quatro pessoas, o veículo está atingindo cerca de 70% da população.

No Rio de Janeiro, diz João Carlos, os maiores problemas são culturais e econômicos:
— Com base nos dados de escolaridade e renda do IBGE, o interior fluminense é mais pobre cultural e economicamente que o do Rio Grande do Sul. Outro fator relevante: o gaúcho é mais identificado com suas raízes e o jornal da cidade é patrimônio da população. No nosso estado, isso só acontece nos pólos onde a economia avançou. É o caso de Campos, onde circula o excelente Folha da Manhã. Já Duque de Caxias, na Baixada, apesar dos royalties da Petrobras, não tem diários próprios e virou mercado dos periódicos populares do Rio, sem identidade específica com a região.

Incentivo

Uma das primeiras iniciativas da Adjori-RJ, fundada em 1983, foi trabalhar pela profissionalização dos jornais, organizando seminários e congressos sobre a dinâmica operacional dos veículos. O segundo passo foi propor ao Governo do estado uma cota de publicidade de 30%, a título de incentivo, para a imprensa interiorana:
— Esta foi uma defesa institucional, para que todos os veículos tivessem acesso aos recursos de mídia dos órgãos públicos, com base em critérios técnicos. Como os jornais sem circulação regular não podem fazer parte da Adjori, também não teriam o direito de se beneficiar do repasse da verba publicitária proveniente do possível acordo com o Governo estadual — diz João Carlos. — O interior fluminense tem mais de 200 veículos, dos quais cem são jornais que empregam 10 mil pessoas. Se a imprensa tivesse financiamento para comprar máquinas e equipamentos, cresceria mais e ampliaria a oferta de empregos.

Tradição

Um dos periódicos fluminenses mais tradicionais, a Folha da Manhã, de Campos dos Goytacazes, também é encontrada em outros 25 municípios, inclusive da Região dos Lagos. Fundado em 8 de janeiro de 1978, tem cerca de 50 jornalistas, fotógrafos e estagiários na redação e tiragem de 10 mil exemplares nos dias úteis — aos domingos, são 12 mil. No conteúdo, os assuntos locais têm espaço privilegiado, mas o jornal não abre mão dos temas mais gerais, de acordo com a editora-executiva Suzy Monteiro:
— A posse do Governador Sérgio Cabral, a Copa do Mundo, a morte do Papa João Paulo II são alguns exemplos de notícias que foram manchetes da Folha, com direito a arte especial na capa.

Suzy diz que a Folha da Manhã não encontra dificuldades para contratar mão-de-obra local, pois investe na qualificação dos jornalistas e paga salários de mercado. Sobre a relação do jornal com seus leitores, afirma:
— Atendemos aos interesses comunitários; muitas vezes somos a ponte entre a população e as autoridades. Uma grata conseqüência desse modelo são os jornalistas interioranos virarem fontes riquíssimas de pesquisa histórica sobre seus municípios.

Bairrismo, solidariedade e amizade também se destacam nas relações entre jornalistas e leitores no interior, mas Suzy garante que isso não interfere no trabalho:
— Qualquer prática jornalística tem que primar pela investigação. Não pode haver diferença.

Porta-voz

Ser porta-voz da comunidade é o lema do jornal A Voz da Serra, de Nova Friburgo, segundo o Diretor de Redação Laércio Ventura:
— A Voz da Serra está sempre engajado em campanhas sociais e assistenciais e na divulgação maciça dos eventos que marcam o cotidiano da cidade. Buscamos sempre fazer com que o leitor tenha em cada edição um resumo completo de Friburgo sob a ótica de profissionais e colunistas.

Laércio assumiu a Direção em 1973, após a morte do pai, Américo Ventura Filho, que fundou o jornal em 7 de abril de 45 e o dirigiu durante 28 anos. Para ele, apesar de todas as dificuldades — como ser muitas vezes preterida pelos grandes anunciantes —, a imprensa do interior presta um serviço de grande valor e qualidade:
— Ela cumpre seu papel de informar com precisão um grande universo de leitores e clientes, oferecendo sempre um registro e uma análise dos fatos de interesse de sua comunidade.

Em Nova Friburgo, o mercado é considerado pequeno para os jornalistas, pois há poucos veículos em atividade — entre os impressos, A Voz da Serra é o único diário. Existem quatro emissoras de rádio, duas de TV aberta e três de TV por assinatura — mas apenas duas têm produção jornalística:
— O nível salarial é compatível com a realidade da região e segue o piso proposto pelo sindicato da categoria. Como há duas faculdades de Comunicação Social no município, a oferta de profissionais recém-formados é farta — diz Laércio.

Ele afirma ainda que, ao longo de 62 anos de circulação ininterrupta, A Voz da Serra sempre se pautou pela ética e a imparcialidade:
— O jornal também nunca se calou na hora de apurar e denunciar o que está errado. Acreditamos que a crítica, quando é responsável e bem-feita, tem a intenção de alertar os governantes, não de prejudicá-los.

Laércio diz que nenhum dos profissionais da Voz da Serra foi alvo de qualquer tipo de violência, mas conta que ultimamente, com a proliferação da chamada “indústria dos danos morais”, o veículo tem sido alvo de alguns processos judiciais:
— São pessoas levianas que recorrem ao Judiciário a fim de conseguir indenizações financeiras, alegando ter tido a imagem abalada, por suas identidades terem sido citadas em matérias policiais. Mas o jornal só publica nomes de pessoas comprovadamente envolvidas em ocorrências registradas na delegacia local.