Prêmio Abdias Nascimento é lançado no Rio


10/05/2011


O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro lançou na tarde desta terça-feira, 10 de maio, a primeira edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, que visa a estimular anualmente a cobertura jornalística qualificada sobre temas relacionados à população negra.
 
 
Criado pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio), o prêmio é uma das atividades da agenda carioca de eventos 2011, declarado Ano Internacional dos Afrodescendentes pela Organização das Nações Unidas (ONU).  O lançamento foi realizado no auditório do Sindicato, Rua Evaristo da Veiga, nº 16, 17º andar, Centro do Rio. 

A mesa de abertura do evento contou com as presenças de Luiza Barrios, Ministra Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir);

Ana Toni, representante da Fundação Ford; Elisa Larkin, mulher de Abdias, doutora em psicologia, professora e diretora do Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afrobrasileiros); Suzana Blass, Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro; e Angélica  Bahsti, coordenadora do Prêmio e da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (Cojira-RJ). 

Segundo Angélica Bahsti, um dos objetivos da Comissão e da Premiação é “provocar os jornalistas a repensar qual é o seu papel enquanto profissional de imprensa, e qual o papel que a mídia tem no combate ao racismo”. Elisa Larkins reafirmou o compromisso da premiação, e criticou também o papel assumido atualmente pelo negro na mídia:
— Há uma grande resistência e um grande quadro de desigualdade e de invisibilização, não de invisibilidade, é o processo de se tornar invisível o negro na mídia brasileira. Porque este mesmo negro é muito visível na sociedade brasileira, se alguém quiser enxergar. O problema é que a imprensa brasileira, a mídia brasileira em geral tende a não enxergá-lo.
Após a mesa de abertura, Abdias foi homenageado com uma placa em homenagem à sua filiação ao Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, em 1941, recebida por seu filho, Henrique Abdias e por Elisa, das mãos do ex-Senador e ex-Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio e membro da ABI, Carlos Alberto de Oliveira, o Caó. Em seguida, foi exibido um filme sobre a vida de Abdias Nascimento, que apresentou toda sua trajetória na militância pelos direitos dos negros, como político e jornalista. Ao término da exibição, todos os presentes homenagearam e desejaram melhoras a Abdias (que encontra-se internado e não pôde comparecer à homenagem) com um minuto de silêncio.
A segunda mesa, composta pela jornalista Miriam Leitão e pelo professor de Comunicação da Ufrj e sociólogo Muniz Sodré discutiu o papel do negro na mídia. Miriam fez um apanhado histórico, e criticou a abordagem de alguns meios de comunicação a temas como as cotas nas universidades. A jornalista considera que muito já foi feito pelos negros, mas que ainda há um longo caminho a percorrer. Já Muniz Sodré acredita que a situação atual da representação do negro nos veículos de comunicação, salvo raras exceções, ainda está longe do ideal. O comunicólogo criticou a “visão colonizada” de muitos jornalistas, que costumam esconder o racismo que existe no Brasil, para que não se combata, e frisou que “não é preciso existir raça para existir racismo”.
 

Batizado em homenagem a este ativista histórico pela igualdade racial e dos direitos humanos, o Prêmio destacará a produção de conteúdos jornalísticos que contribuam para a prevenção, o combate às desigualdades raciais e a eliminação de todas as formas de manifestação do racismo.  De acordo com o Sindicato dos Jornalistas, o principal objetivo da premiação é “estimular a prática de um jornalismo plural com foco na promoção da igualdade racial”.

 
 
Para Miriam Leitão, o Prêmio “vai incentivar o País a falar de um assunto que é sempre tratado como não existente: o racismo. Quanto mais falarmos das nossas desigualdades, mais conheceremos o problema. Quanto mais o conhecermos, mais perto estaremos da sua solução”, aposta a jornalista. Já Muniz Sodré acredita que o recorte não é racial, mas sim axial: “O negro é o eixo novo de uma mudança nas relações sociais, porque, como o proletário em Marx, tornou-se classe histórica no País”, disse o professor.
 
 
Na opinião de Miriam e Muniz, a homenagem a Abdias Nascimento contribui para a construção de uma mídia mais plural e igualitária, o que ajuda, segundo Miriam Leitão, a ampliar o debate sobre democracia racial no Brasil:
— Abdias Nascimento tem uma vida inteira de coerência na mesma luta, da qual é precursor no Brasil, de apontar a desigualdade racial como uma das chagas nunca curadas, afirma a jornalista.
 
 
Muniz Sodré complementa, afirmando que homenagear Abdias Nascimento com um prêmio de jornalismo é restituir ao jornalismo de hoje, tão empenhado em serviços de consumo: “Algo da pública voz cívica que ele tinha no passado. A exemplo da imprensa abolicionista e republicana, Abdias é voz de pulmão cheio”, declarou o professor.
 
 
 
Inscrição e premiação
 
 
 
O Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento contempla sete categorias: Mídia impressa; Televisão; Rádio; Mídia alternativa ou comunitária; Fotografia; Internet; e categoria especial de gênero, com destaque para as reportagens com foco nas demandas femininas. A melhor reportagem de cada categoria receberá o prêmio de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Os vencedores serão anunciados em uma grande festa que ocorrerá em novembro, mês de comemoração da Consciência Negra.

As inscrições para o Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento estarão abertas no período de 11 de maio a 19 de agosto de 2011. Estão aptos a participar do Prêmio jornalistas profissionais em todo o País. As reportagens inscritas devem ter sido veiculadas ou publicadas entre 1 de janeiro de 2009 e 30 de abril de 2011.

 
 
Entre os temas sugeridos para concorrer ao Prêmio, estão: saúde da população negra, intolerância religiosa, juventude negra, ações afirmativas, empreendedorismo, desigualdades, direitos humanos, relações raciais, políticas públicas, populações e comunidades tradicionais e discriminação racial.
 
 
 
Abdias Nascimento
 
 
 
O ex-Senador Abdias Nascimento é um ícone no combate ao racismo no País. Nascido em 1914, desenvolveu vasta produção intelectual como ativista, político, pintor, escritor, poeta, dramaturgo. Natural de São Paulo, participou dos primeiros congressos de negros lançados no Brasil.
 
 
No Rio de Janeiro, criou o Teatro Experimental do Negro (TEN) na década de 1940. Como jornalista, fundou o Jornal Quilombo e atuou como repórter do Jornal Diário, além de ter trabalhado em vários periódicos. Desde 1947 é filiado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
 
 
Pressionado pela ditadura militar do golpe de 1964, exilou-se nos Estados Unidos durante 13 anos. De volta ao Brasil, ocupou os cargos de deputado federal e senador. Hoje, aos 97 anos, é professor emérito da Universidade de Nova York e Doutor Honoris Causa por várias instituições de ensino superior, entre elas, a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
 

Cojira-Rio
 
 
Criada em 2003, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Rio de Janeiro lida com questões relacionadas a discriminação racial no mundo do trabalho secundada pela educação. Atualmente, a equipe é formada por Angélica Basthi (coordenação), Sandra Martins (coordenação), Miro Nunes (coordenação), Isabela Vieira (integrante) e Camila Marins (integrante).