Adeus a Victor Passos, o ‘goleiro’ das notícias 


23/08/2021


Por Jorge Antonio Barros, jornalista do QuarentenaNews

O jornalista Victor Passos entrou para a história de vários jornais impressos como aquele repórter extremamente cuidadoso com a apuração e o texto. Essa característica o levou a ocupar o cargo de secretário de redação dos jornais O Dia, Jornal do Brasil e Extra, do Grupo Globo. Nesse posto, ele atuava como uma espécie de goleiro, que fechava o gol para que não passasse nenhum erro de português ou de informação.

 O jornalista Bruno Thys, do QUARENTENA, que trabalhou com Victor por dez anos no Extra, do qual foi diretor de redação, lembra uma frase cunhada por Victor sobre erros em jornal:

— São como sacis, estão na nossa cara, rindo da gente e não os vemos – dizia Victor Passos, que morreu ontem à noite, aos 75 anos, de diabetes e complicações resultantes de um AVC.

Victor Passos foi sepultado neste sábado, 21, no Cemitério do Catumbi, na região central do Rio. 

Nascido em Santos (SP) em 10 de março de 1946, Victor Passos radicou-se no Rio de Janeiro a partir dos anos 1970. Filho de Nadege Valente Passos e de Victorino Duarte Passos, tenente-coronel do Exército, Victor admirava muito o pai, e acabou ingressando na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, onde concluiu o curso de oficial, mas não seguiu a carreira militar. Formado em jornalismo pela USP, em São Paulo, trabalhou no extinto “Jornal da Tarde”, uma publicação do Grupo Estado de S. Paulo. No Rio, ingressou no “Jornal do Brasil”, na redação dirigida por Alberto Dines. Ali foi um dos melhores repórteres de cidade. Excelente profissional, dedicado, caráter irrepreensível, querido por todos. Trabalhou também no jornal O Dia e no Extra.

Bruno Thys, que dirigiu o jornal Extra e a Unidade de Jornais Populares do Grupo Globo, lembra com carinho do colega:

— Trabalhamos juntos desde a criação do jornal Extra, em 1998, até a aposentadoria dele; mais de dez anos de convivência diária. Era um homem de alma refinada, inteligente, culto. Bom de garfo e de copo. Excelente papo. Paulista de nascimento, carioca por opção, amava Santa Tereza, bairro onde morava. Cunhou uma expressão que adotamos no Extra para erros que passavam, mesmo após a releitura das páginas do jornal: “São como sacis, estão na nossa cara, rindo da gente e não os vemos”.

O jornalista Dacio Malta relembra que o talento de Victor o levou a ocupar os cargos de secretário de redação em jornais como O Dia e Jornal do Brasil. Quando ocupou a direção daqueles jornais, Dacio convidou Victor Passos para ocupar a secretaria, um posto essencial para fazer a ponte entre a redação e a gráfica, na hora da impressão do jornal. Era o homem que, sempre que havia uma notícia importante para ser publicada, ligava para a gráfica e dizia a tradicional frase: “Parem as máquinas!”. 

Romildo Guerrante, que é colunista do QUARENTENA, conhecia Victor Passos há cerca de 50 anos, e publicou em seu Facebook um texto em memória do amigo e vizinho em Santa Teresa, bairro bucólico do Rio de Janeiro:

“Soube agora à noite que perdemos o jornalista Victor Passos, meu amigo há quase 50 anos, meu vizinho em Santa Teresa e até bem pouco tempo companheiro de botequim no Bar do Gomez e, ultimamente, no Bar do Serginho. Victor tinha sofrido um AVC há alguns anos e, desde então, vinha tendo dificuldades crescentes de mobilidade. Tinha um filho, o fisioterapeuta Daniel, com sua segunda mulher, Gardênia, que cuidou dele nos últimos dias. É mais um dos muitos que se vão e nos deixam com buracos na alma. Tenho fé que o Senhor guardou pra ele lá em cima um lugar especial.

Que vá na paz!”

Guerrante lembra de um episódio, em que ele fez um texto de abertura (lidão) para matéria escrita por Victor Passos e Sérgio Fleury sobre a limpeza da Baía de Guanabara, publicada no Jornal do Brasil. 

— Só que o copidesque (redator) pensou que a matéria fosse minha e acabei assinando sozinho o texto. O Victor ficou revoltado e sempre me cobrava, achando que eu tinha roubado a matéria dele. Nada disso. Eu apenas havia ajudado para que a matéria feita por eles tivesse mais sentido – relembra Romildo.

A morte de Victor também abalou amigas como Christine Ajuz e Lívia Ferrari, que conviveram de perto com o jornalista. 

“Estou arrasada”, comentou Christine, no grupo de amigos do extinto JB no WhatsApp.

Lívia relembrou que Victor foi excelente repórter de cidade, que acompanhou as transformações urbanísticas do Rio de Janeiro ao longo das décadas de 1970 e 1980, assim como cobriu as obras do Metrô do Rio, inaugurado em 1979. “Ele vibrava com esses temas”, conta Lívia Ferrari, viúva de outro grande amigo de Victor, José Luiz Alcântara, já falecido. 

Victor Passos deixou mulher, um filho e um sobrinho, Eduardo Passos, homenageou o tio no Facebook:

“Hoje perdi o meu querido tio Victor Passos, irmão caçula do meu pai, Joel Passos, e do irmão mais velho de ambos, Paulo Passos. Mas hoje eles estão novamente juntos com a mãe, Nadege Passos e Victorino Passos, lá onde não há mais choro ou ranger de dentes. Obrigado, tio Victor, por sua generosidade, inteligência e carinho, foi a pessoa que me ensinou muitas coisas, foi o tio que me deu presentes inesquecíveis, desde álbuns quase completos de figurinhas de futebol, como o meu primeiro LP do Elvis. 

Tricolor fervoroso, tinha uma inteligência acima da média, conhecia o mundo, falava e escrevia muito bem em português, espanhol, inglês e francês. Exerceu sua profissão como jornalista sempre de forma coerente com as suas convicções, nunca as traiu. Como fui o seu sobrinho mais velho, pude curti-lo muito, e aprender também. Meu filho caçula tem no nome dele o seu, quis homenageá-lo à época. E enquanto estive doente no ano passado, durante minhas várias internações, você sempre tinha uma palavra de encorajamento e me abraçava através do seu filho (meu primo) Daniel Faro. A saudade já é grande, vai em paz, tio querido, até breve!”

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