PM agride jornalista que cobria protestos em SP


Por Igor Waltz*

12/06/2013


Jornalista Fernando Mellis mostra a marca do golpe que recebeu do policial. (Crédito: Daia Oliver/R7).

Jornalista Fernando Mellis mostra a marca do golpe que recebeu do policial. (Crédito: Daia Oliver/R7).

Dois repórteres foram detidos e outro agredido por policiais militares enquanto faziam seu trabalho na cobertura das manifestações contra o aumento abusivo das passagens de ônibus em São Paulo, na noite da última terça-feira, 11 de junho. O jornalista Fernando Mellis, do Portal R7, foi golpeado com um cassetete pelas costas, enquanto o jornalista Leandro Machado, da Folha de S. Paulo, e o fotógrafo Leandro Morais, do portal UOL, foram detidos acusados de “atrapalhar a ação da polícia”. Todos os profissionais estavam identificados com crachás de seus respectivos veículos.

Segundo o relato de Mellis, ele estava na companhia da fotógrafa Daia Oliver, em um viaduto próximo à primeira companhia do 45° batalhão da PM, na região central de São Paulo. Uma viatura estava atrás deles, quando os policiais abriram as portas e correram na direção de um manifestante. Foi então que ocorreu a agressão.

“Empurraram o manifestante contra a parede e começaram a bater nele. A Daia [fotógrafa] foi fazer as fotos e eu fiquei próximo. Um grupo de policiais veio dispersar quem estava vendo e eu me identifiquei, mostrei o crachá. Porém, fui puxado pelo braço por um deles, que me bateu com o cassetete, nas costas”.

Mellis conta que mostrou o crachá novamente, mas o PM agressor foi retirado por um colega “com olhar visivelmente assustado, após perceber que era um jornalista”. “Em seguida, eles começaram a jogar bombas e gás lacrimogêneo, dissipando boa parte de quem estava na rua”, explicou o repórter.

Detenção

Já Leandro Machado e Leandro Morais foram detidos enquanto acompanhavam a prisão de um manifestante. “Chegou um policial com cassetete e disse ‘se você não sair, vou te bater’. Eu mostrei meu crachá, mas ele disse que isso não significava nada para ele”, contou Machado.

O policial então se distanciou, mas voltou e ameaçou novamente o jornalista, pedindo em seguida seus documentos, assim como os de Morais. “Eu perguntei o porquê de ter que entregar meu documento, mas o comandante se aproximou e disse que se não entregasse eu seria preso. Ele então levou meu crachá e meu RG para a viatura e voltou afirmando que eu seria detido”.

Os dois foram levados para o 78º DP (Jardins) num carro da PM. No caminho, foi informado pelos policiais de que estavam sendo detidos por “atrapalhar a ação da polícia”. Tanto Machado quanto Morais foram liberados no fim da noite.

Manifestações

A noite de terça-feira, 11 de junho, foi a terceira de protestos contra o reajustes das tarifas em São Paulo. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, dez pessoas foram detidas na região central da cidade, onde se concentraram os protestos. Ao todo, 20 pessoas foram detidas desde o início do levante, e 13 ainda permanecem detidas nessa quarta-feira, 12 de junho.

A manifestação começou por volta das 17h na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista. Os manifestantes desceram a Rua da Consolação em direção ao Centro. Eles tentaram fechar o Corredor Norte-Sul, uma das principais vias da cidade, mas a Polícia Militar impediu o avanço do grupo em direção à Avenida 23 de Maio.

O grupo de manifestantes se dividiu e passou a realizar protestos simultaneamente na região da Paulista e na região central. Foram quase seis horas de protesto nesta terça. Os manifestantes só dispersaram pouco antes das 23h, quando houve um último confronto com a PM e começou a chover na região da Paulista.

“Acredito que foi o dia mais violento, pela intensidade e pela animosidade dos manifestantes, o ânimo deles, desde o início, de insultar os policiais”, afirmou o tenente-coronel Marcelo Pignatari. Segundo o oficial, os manifestantes atiraram fogos de artifício e coqueteis molotov contra os policiais. “Pessoas que querem defender uma ideia contra o aumento da tarifa não trazem esses acessórios.”

Um integrante do Movimento Passe Livre que se identifica apenas como Marcelo disse que os ataques começaram após a repressão policial contra os manifestantes no Parque Dom Pedro. “Antes disso, houve alguns pequenos focos de conflito sem importância. Não teve nada disso antes de a polícia iniciar a repressão”, afirmou.

Houve protestos contra o aumento das passagens também em Natal, Goiânia e Rio de Janeiro.

* Com informações do Portal R7, G1 e jornal Folha de S. Paulo.