O jornalismo responsável de Procópio Mineiro


03/08/2011


A morte do jornalista Procópio Mineiro, na tarde da última sexta-feira, 29 de julho, deixa uma lacuna no jornalismo brasileiro. Além do seu fecundo trabalho à frente da redação da Rádio JB, nos anos 80, ele ficou conhecido nacionalmente porque foi um dos responsáveis pela revelação do escândalo da Proconsult, nas eleições para o Governo do Estado do Rio de Janeiro em 1982, que quase tirou a vitória do então candidato Leonel de Moura Brizola.
 
 
Ele também foi Diretor de Jornalismo da Rádio Roquete Pinto, em duas ocasiões, e atualmente trabalhava como redator na Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro. O corpo do jornalista foi sepultado no cemitério de Irajá no domingo, dia 31 de julho.
 
 
Procópio foi vítima de um acidente vascular-cerebral sofrido no domingo anterior, dia 24. Nascido em Pernambuco, veio para o Rio de Janeiro com 12 anos, e desde então sempre morou em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
Criou a Revista Ecologia e Desenvolvimento, vencedora de diversos prêmios de reportagem. Na Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, foi um dos fundadores do D.O. de Notícias, existente até hoje.
 
 
Sócio da ABI há 34 anos, foi autor de um dos mais belos textos em homenagem ao Centenário da ABI, publicado na revista O Prelo, da Imprensa Oficial, em abril de 2008. Beatriz Bissio, editora da revista Cadernos de Terceiro Mundo, onde Procópio Mineiro também trabalhou como editor, falou sobre a perda de Procópio:
— É uma perda irreparável, ele era um amigo muito querido, um braço direito e sempre muito positivo. Foi um brilhante jornalista, extremamente culto e preocupado com os rumos do Brasil e com o aprofundamento da democracia. Aqui ele foi uma presença fundamental, a revista sempre teve a marca dele, muito meticuloso como editor, afirmou Beatriz.
 
 
Haroldo Zager, Presidente da Imprensa Oficial também lamentou a morte do jornalista:
— Ele sempre foi um colaborador de primeira hora, um profissional de mão cheia, tinha uma consciência plena e um ótimo caráter, lembrou Haroldo.
 
 
Coragem
 
 
A atuação de maior destaque de Procópio aconteceu quando era Diretor de Jornalismo da Rádio JB, e comandou a equipe que desvendou a fraude nas eleições diretas para Governador do Estado do Rio de Janeiro, em 1982, o conhecido como o “escândalo da Proconsult”.
 
 
Pery Cotta, Presidente do Conselho Deliberativo da ABI e colega de Procópio na rádio na época, lembra de detalhes daquela cobertura histórica:
— Montamos uma estrutura especial para a cobertura, pois sabíamos que havia um esquema de favorecimento às Organizações Globo, então tínhamos que ter um esquema próprio. Botamos repórteres em cada zona eleitoral, que passavam os dados por telefone para nossa central de apuração.
 
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Pery relata que na seqüência da apuração percebeu-se a discrepância entre os números oficiais que estavam sendo divulgados e os que foram apurados pela rádio:
— O Procópio teve uma enorme participação nesse esquema, e nós acabamos descobrindo essa fraude. Os outros veículos davam o resultado oficial que eram os dados da Proconsult, e nós éramos pressionados inclusive pelo Sistema de Informática do JB, que dizia que nós estávamos errados, mas ele (Procópio) foi extraordinário no apoio e no crédito ao trabalho que estávamos fazendo, declarou o Presidente do Conselho da ABI.
 
 
Pery afirma que, sem a influência de Procópio, a fraude naquelas eleições não seriam descobertas:
— Tudo aquilo só foi possível porque o Procópio bancou e suportou a pressão. Graças à firmeza, ao caráter e ao espírito profissional que ele tinha, e em função do espírito de uma equipe que ele montou, disse.  
 
Luiz Erthal, companheiro de Procópio na Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro desde o primeiro Governo de Brizola, comentou sobre as escolhas profissionais feitas por Procópio ao longo de sua vida:
— Ele sempre fez as escolhas na vida a favor dos interesses do povo brasileiro. Por conta da atuação dele em 82, teve que fazer uma escolha, e optou pelo lado certo, o que lhe custou caro, pois passou a ser perseguido e nunca mais conseguiu um cargo de destaque no Jornalismo, afirmou o jornalista.  
 
 
Erthal revelou que Procópio desejava publicar um livro sobre os 30 anos do escândalo da Proconsult, no ano que vem. Sobre as qualidades do colega, ele acrescentou:
— Foi um jornalista que não se rendeu, foi fiel até o fim da vida aos seus princípios, ao bom jornalismo e às causas a favor do povo brasileiro, sintetizou Erthal.