O feliz acaso que gerou o fotógrafo


24/02/2006


José Reinaldo Marques
10/03/2006

O repórter-fotográfico Jorge Nunes vive um momento especial em seus 40 anos de carreira: prepara-se para lançar o site da Agência Prisma de Fotojornalismo, que criou há 13 anos.

Jorge estreou na fotografia aos 16 anos, quando era office-boy da Rio Gráfica Editora e queria conseguir outro trabalho:
— Precisava complementar meu salário, perguntaram o que eu queria fazer e escolhi a fotografia, mas não tinha noção do que poderia acontecer. Comecei como carregador de bolsa dos profissionais, preparador das fórmulas para a revelação dos filmes e das cópias fotográficas e executor do trabalho de administração do departamento. Aprendi rapidamente todas as etapas do processo e em pouco tempo passei a ser o laboratorista da empresa.

Logo estava apto a ganhar um dinheiro extra:
— Mal tinha aprendido os primeiros passos e com Olimpus Penn, comprada em cinco prestações na Tonelux, passei a ter a tão sonhada complementação salarial. Aos sábados, domingos e feriados, percorria de bicicleta todos os campos de futebol de várzea próximos à minha casa, fotografava os atletas e faturava com a venda de monóculos.

Com uma Rolleyflex, Jorge deu seus primeiros cliques profissionais:
— Foi para as revistas da Rio Gráfica Garotas e Destino, que à época se dedicavam às fotonovelas, mas publicavam também contos e algumas matérias.

De lá, Jorge foi sucessivamente para a Manchete, a Editora Vecchi e os jornais Tribuna da Imprensa e O Dia. Com o golpe militar, abandonou temporariamente o trabalho em redação:
— Era duro ser pautado para uma cobertura, chegar ao local e acabar sendo impedido de registrar o assunto por intervenção de agentes do regime ditatorial. Isso me incomodava tanto que eu resolvi trabalhar em estúdio, fazendo fotografia comercial. Só retomei o fotojornalismo em 86, convidado pelo Alcyr Cavalcanti para voltar à Tribuna

Agitador

No ano seguinte, Jorge retornou também ao Dia, até ser afastado em 94, acusado de promover agitação devido às atividades sindicais, e tornar-se freelancer.

Para ele, o padrão de qualidade dos repórteres-fotográficos brasileiros é um dos melhores do mundo, “com profissionais históricos como Nicolau Drey, Juvenil de Souza, Indalécio Vanderley, Walter Firmo, Evandro Teixeira e Sebastião Salgado”.
— Nosso fotojornalismo é de vanguarda, apesar do difícil acesso à tecnologia que já tivemos que enfrentar. Houve um tempo em que era impensável o aproveitamento de muitas fotos que hoje são consideradas obras-primas. O profissional tinha que dominar o processo de produção em todas as suas etapas. A menor abertura de diafragma tinha que ser 8 e a menor velocidade, 125; os filmes eram de baixa sensibilidade e os fotógrafos precisavam usar tripé e muita luz, cuja intensidade era medida com o velho fotômetro Weston Master II.

Ex-diretor da ABI e do Sindicato dos Jornalistas, Jorge destaca também colegas especialistas na operação de filmes coloridos, como Fernando Seixas, Gervásio Batista, Sebastião Barbosa, Antônio Rudge, Nilton Ricardo, Luiz Garrido, Fernando Abrunhosa, Adir Mera, Hugo de Góes, Klaus Meyer, Jader Neves, Gil Pinheiro e muitos outros da Manchete e de O Cruzeiro:
— Havia também o Joel Maia e o velho Veneziano, da Abril no Rio. Tínhamos o privilégio de trabalhar sem temer o desemprego. As demissões eram raras. Geralmente, só se deixava uma empresa a convite de outra.

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Fui cobrir
uma invasão
do prédio…”

“É difícil fotografar crianças…”

“Em setembro de 87, trabalhava…”

“Estava
em Brasília, cobrindo…”

“Este registro
foi feito
para uma…”

“Isto aqui
 é um
‘ninho’ de…”

“Estava novamente
na Praça…”

“Em 1988, Barbosa
Lima…”

“Fotógrafos
são bons observadores…”

“Em 92,
fui contratado
para…”