O estudante João Pedro, morto quando jogava videogame dentro de casa: um ano de impunidade


18/05/2021


Por Rogério Marques, conselheiro da ABI


Foto: reprodução Facebook

Há exatamente um ano, no dia 18 de maio de 2020, João Pedro Mattos Pinto jogava videogame na casa de um primo, na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, RJ, quando foi alvejado por um tiro na barriga.  O disparo partiu de um helicóptero da Polícia Civil que dava cobertura a policiais federais que cumpriam mandados de prisão na comunidade, contra dois acusados de tráfico de drogas.

João Pedro tinha 14 anos, era estudante. Foi levado para um hospital no mesmo helicóptero da polícia. Mais tarde os policiais disseram que dispararam 29 tiros porque viram homens armados junto à casa em que o adolescente brincava com o primo.

Um ano depois, as investigações pouco avançaram. Em outubro de 2020 houve uma reconstituição do caso. Na época a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que atua em nome dos pais de João Pedro, declarou que houve falhas graves da polícia que dificultam o esclarecimento do caso. Os defensores citaram, por exemplo, a remoção da vítima, provavelmente já morta, e a falta de isolamento do local do crime.

O crime, de repercussão nacional, foi mais um entre tantos que atingem jovens de comunidades pobres, quase sempre negros, no Rio e na Região Metropolitana da cidade. No dia seis de maio a mesma Polícia Civil esteve à frente da operação que resultou no massacre da favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Foi mais violenta ação policial do Rio de Janeiro, com um saldo de 28 mortos, entre eles um policial.

Ouvidos pelo Ministério Público do Rio, parentes e outras testemunhas afirmam que algumas vítimas tentaram se entregar mas foram executadas. Alguns presos na operação dizem que foram agredidos e obrigados a carregar corpos para o “Caveirão”, veículo blindado da polícia, o que desfaz a cena do crime para perícia.

Em dezembro de 2020, um estudo da Rede de Observatórios da Segurança, uma organização não governamental, mostrou que 86% das pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro, em 2019, eram negras. Muitas vítimas são crianças e adolescentes atingidos em operações sem qualquer planejamento, sem qualquer critério. Como a que resultou na morte do estudante João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, baleado dentro de casa, em São Gonçalo, um crime até hoje impune.