Morre no Rio Lóris Baena, sócio mais antigo da ABI


05/03/2021


Morre no Rio, aos 97 anos, o jornalista Lóris Baena, sócio mais antigo da ABI

Mais antigo sócio da ABI – Associação Brasileira de Imprensa e membro suplente do Conselho Deliberativo (2018-2021), o jornalista esportivo Lóris Baena Cunha, de 97 anos, morreu nesta sexta-feira (5/3), Dia do Cronista Esportivo, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, zona sul do Rio de Janeiro. Ele lutou bravamente durante duas semanas contra uma pneumonia aguda que o deixou em estado grave na UTI – Unidade de Terapia Intensiva..

Lóris Baena

A causa da morte foi declarada como insuficiência respiratória, pneumonia broncoaspirativa, disfagia compressiva, osteófito cervical e hipertensão arterial. Não foi confirmada infecção por Covid-19. O velório vai ocorrer às 13 horas e o sepultamento às 15h deste sábado (6/3) no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. Ele deixa a esposa Íris, a filha Leocy Maria, quatro netos e dois bisnetos. Sua segunda filha, Lorília, é falecida.

O jornalista estava internado desde o último dia 19 de fevereiro, de acordo com a família. Por conta de um problema ortopédico que afetou a deglutição, respiração e alimentação (uma vértebra estava pressionando a laringe), ele precisou ser intubado no dia 22 de fevereiro. Lóris Baena chegou a ter uma boa recuperação esta semana, mas seu quadro piorou e ele faleceu por volta de meio-dia desta sexta. No dia 11 de março, Lóris completaria 98 anos.

O último fundador vivo da Acerj

Lóris era o último sócio-fundador ainda vivo da Associação de Cronistas Esportivos do Estado do Rio de Janeiro (Acerj), que completa nesta sexta 104 anos.“Cumpro o doloroso dever de informar o falecimento do sr. Lóris Baena Cunha. Morre no dia do aniversário da Acerj, era o último sócio-fundador vivo”, anunciou o presidente da Acerj e ex-conselheiro da ABI, Eraldo Leite. Muito amigo de Lóris, Leite vinha acompanhando seu quadro de saúde, junto à familia nas duas últimas semanas.

“Lóris ‘escolheu’ morrer no dia da fundação da Acerj, entidade que ajudou a fundar e pela qual lutou sua vida inteira. Foi incansável na aquisição do jazigo onde vai ser sepultado e que se transformará, em breve, no Mausoléu do Cronista Esportivo, no Cemitério do Caju. Como jornalista foi um exemplo de profissional que busca a notícia exclusiva, a entrevista inédita. Como dirigente de classe, um modelo de perseverança na luta pelos direitos dos cronistas esportivos. Sua partida vai deixar uma enorme lacuna em nossa classe”, escreveu Eraldo Leite.

66 anos como sócio da ABI

Temas da Vida, lançado na ABI, em 2015

Lóris associou-se à ABI em 1955, na gestão do então presidente Herbert Moses, e fez parte intensamente da rotina da casa, para a qual dedicou parte de sua vida, de forma voluntária. Integrou o Conselho Deliberativo em outras ocasiões, além de fazer parte do Conselho Fiscal e diversas comissões eleitorais. Chegou ainda a atuar na cobertura na cobertura do Ambulatório de Saúde no sexto andar da sede da entidade, no Centro do Rio, a convite de Moses.

De acordo com seu neto, Lóris Neto, o cronista esportivo nutria grande afeição pela ‘casa do jornalista’. “Meu avô tem muito carinho pela ABI. E no hospital, antes da intubação, lembro dele falando do saudoso Barbosa Lima Sobrinho (ex-presidente da casa)”, contou poucos dias antes da morte. Ele também agradeceu a atenção recebida durante a hospitalização. “A família está muito sensibilizada pelo carinho da ABI e da Acerj, na pessoa do Eraldo Leite. E reafirmo o carinho do vovô também com a ABI, que é uma casa para ele”.

Vida e obra do velho cronista esportivo

Natural de Belém (PA), o jornalista Lóris Baena Cunha começou sua carreira em 1945 no jornal Folha do Norte e na Rádio Clube do Pará. Em 1947, veio para o Rio de Janeiro, onde atuou no jornal Folha Carioca. Mudou-se em seguida para São Paulo, onde atuou no Mundo Esportivo. Em 1955, de volta ao Rio, trabalhou na Luta Democrática, quando filiou-se à ABI.
Como cronista esportivo, Lóris tinha orgulho de ter assistido ao primeiro gol de Pelé pelo time do Santos, em 7 de setembro de 1956, contra o Corinthians de Santo André. Mas sua maior alegria era ter entrevistado Charles Muller, o introdutor do futebol no Brasil, entre outros grandes craques e centenas de jogadores, dirigentes e técnicos de grandes times e seleções.
Em 1963, Lóris Baena fundou a Organização Brasileira Esportiva (OBE), uma agência de notícias dedicada ao mundo dos esportes que dirigiu durante 30 anos. Ainda na década de 70, foi representante da Rádio Brasil de Campinas. Detentor de diversos diplomas no jornalismo esportivo, representou a crônica esportiva em mais de 20 congressos pelo país.
Além de fundar a Acerj, foi sócio-fundador da Aceb – Associação de Cronistas Esportivos do Brasil e da Abrace – Associação Brasileira de Cronistas Esportivos. Foi sete vezes agraciado com a Bola de Ouro, importante prêmio da crônica esportiva, além do Troféu Mané Garrincha e da Comenda Mauro Pinheiro.
O trabalho de Lóris não se limitava à crônica esportiva no rádio. Ele ainda escreveu diversos livros sobre esportes e poesias, como ‘Sonhos de Amor’ e ‘Temas da Vida’ – este último, sobre os clubes de futebol cariocas. Suas poesias também estão estampadas desde 2010 na Sala de Memória do Futebol Brasileiro, no Estádio do Maracanã.

Lembranças com Lóris Baena

Em maio do ano passado, a Comissão de Assistência Social prestou homenagem a Lóris Baena, com uma reportagem sobre a sua vida na estreia do projeto Pratas da Casa, que tem como objetivo valorizar a memória viva dos ‘imortais’ da ABI – veja aqui: http://www.abi.org.br/aos-97-anos-loris-baena-e-personagem-vivo-da-historia-da-abi/

A entrevista fora concedida à então mais jovem conselheira da ABI, a jornalista e escritora Ana Helena Tavares. Ao receber a notícia, Ana Helena lembrou que fotografou Lóris para a reportagem exatamente no dia 5 de março de 2020, um ano antes de sua morte.

“Parece incrível, mas faz hoje um ano que tirei essas fotos do Lóris: 5 de março de 2020. Foi nesse dia que, me vendo lá no 11º andar trabalhando, Lóris saiu, foi comprar biscoitos amanteigados, e voltou para me dar um pacote. Das melhores pessoas que conheci na ABI. Certamente, está agora num lugar mais bonito do que esse nosso”, escreveu Ana Helena.

O professor Ivan Cavalcanti Proença, ex-presidente e atual membro do Conselho Deliberativo, também lamentou a morte do amigo. “Um pouco antes de adoecer Loris me ligou dizendo que ia visitar-me para mais um papo amigo. Não deu. Sócio mais antigo da ABI, apaixonado por futebol, fundador da Associação de Cronistas Esportivos, autor de inúmeros livros sobre futebol, inclusive Copa do Mundo e histórico dos times de futebol de Belém do seu Pará. Perdemos um grande jornalista e um grande companheiro”, escreveu.

O também conselheiro e paraense Luiz Carlos Taveira lembrou dos momentos com Lóris Baena na ABI. “O conterrâneo lòris Baena me recebeu muito bem na ABI. Ficou feliz em conhecer um neto de Miguel e filho de Bernardo, amigos que ele deixou ao sair de Belém do Pará rumo ao Rio de Janeiro. Cheguei a falar sobre ele à Ana Carolina Proença, neta de Edgar Proença, o homem que o empregou na Rádio Clube do Pará e o incentivou a filiar-se na ABI”, contou.

Lóris lhe disse que aprendeu as manhas de rádio e da crônica esportiva com o velho Edgar. No Rio, lembrou Taveira, Lóris foi o amigo da hora derradeira de Syn De Conde, paraense que fez sucesso no cinema mudo. “Com Lóris, vão as histórias gostosas com sabor de tucupi com pimenta de cheiro que eu amava escutar antes das reuniões do Conselho, sob o olhar feliz do professor e general Ivan Cavalcanti Proença. Augusto Frederico Schmidt dizia: “Os que se vão, vão depressa. Só no coração do poeta não vão depressa os que se vão””.

Família ABI lamenta a morte

Ao longo do dia, associados, conselheiros, diretores e funcionários manifestaram seu pesar com a morte de Lóris Baena:

“Estávamos com esperança que fosse desintubado nesta sexta-feira. É uma grande perda para a ABI. Lóris é parte da memória viva da casa do jornalista que se vai”, disse Rosayne Macedo, diretora de Assistência Social da ABI.

“Faremos uma homenagem póstuma ao querido Loris na próxima reunião do Conselho Deliberativo, dia 15”, informou o também conselheiro Vitor Iório, primeiro-secretário do CD.

“Lamento muito mesmo. Um associado que fazia parte da história da ABI, uma pessoa simpática, de boa convivência. Vai fazer falta”, comentou Rogério Marques, conselheiro da ABI.

“Nosso querido Lóris. A esperança de tê-lo entre nós, infelizmente, terminou. A família, minhas sinceras condolências”, escreveu Paulo Marinho.

“Nossas condolências. Vá em paz e nos aguarde nos céus”, destacou o associado Nilo Sérgio.

“Que tristeza! Um abraço fraterno para a familia. Que Deus conforte o coração de todos”, lamentou a funcionária Queli Delgado.

Mais sobre os 104 anos da Acerj

A Acerj foi fundada em 1917 por Lóris Baena e outros integrantes com o nome de ACD – Associação de Cronistas Desportivos. Em 1967, fundiu-se com o Departamento de Imprensa Esportiva (DIE) da ABI, surgindo então a Aceg (Associação de Cronistas Esportivos da Guanabara).

Em 5 de março de 1975, com a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, tornou-se Acerj (Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro). Em razão disso, comemora-se nesta data, no Estado do Rio, o Dia do Cronista Esportivo.

A ABI também saúda todos os profissionais da crônica esportiva e os associados da Acerj.