Política perde a graça com morte de Jorge Moreno


14/06/2017


O jornalista Jorge (Bastos Moreno (Imagem: O Globo)

O jornalista Jorge Bastos Moreno, colunista do Globo, morreu no início da madrugada desta quarta-feira (14), no Rio de Janeiro, aos 63 anos.

O corpo do jornalista foi velado nesta tarde no cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio.

A família ainda não decidiu se o corpo de Moreno será sepultado no Rio de Janeiro ou em Cuiabá, onde nasceu.

Moreno morreu à 1h, de edema agudo de pulmão decorrente de complicações cardiovasculares, conforme informou o Globo. Um dos mais respeitados repórteres políticos do Brasil, Moreno nasceu em Cuiabá e viveu em Brasília desde a década de 1970. Há 10 anos morava no Rio.

Moreno tinha mais de 40 anos de carreira. Trabalhou no jornal O Globo por cerca de 35 anos, onde chegou a dirigir a sucursal de Brasília. Nas redes sociais, amigos do jornalista lamentaram a morte do colega de trabalho.

O presidente Michel Temer lamentou nesta a morte do jornalista. Em nota, o peemedebista o chamou de amigo e lembrou que conviveu com ele por 30 anos. Segundo o presidente, o jornalismo brasileiro “perdeu uma de suas maiores referências”.

“Arguto observador, irônico com maestria, crítico ferino, insistente apurador de fatos e bastidores, Moreno construiu uma das carreiras mais brilhantes e respeitadas nas redações do país”, disse.

O peemedebista prestou solidariedade aos familiares e amigos de um “excelente profissional que nos deixa de maneira tão repentina”.

Furos de reportagens

Seu primeiro grande furo de reportagem foi no “Jornal de Brasília”: a nomeação do general João Figueiredo como sucessor do general Ernesto Geisel.

Durante o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, quando a própria CPI do PC procurava uma prova cabal que ligasse o presidente aos cheques de “fantasmas” que vinham do esquema PC, foi Moreno que revelou que um Fiat Elba de propriedade do presidente tinha sido comprado pelo “fantasma” José Carlos Bonfim. Uma informação que ainda não era do conhecimento nem do relator da CPI, deputado Benito Gama, nem de seu presidente Amir Lando. A manchete do Globo selava o destino do presidente.

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Gilmar Mendes, lamentou a morte do jornalista e expressou condolências aos familiares. Em nota, afirmou que Moreno foi um dos mais respeitados repórteres de política do país e também atuava em outras áreas do jornalismo, como economia e Judiciário brasileiro, “sempre com profundo conhecimento dos temas abordados nas reportagens.”

Mendes contou sobre coincidências entre os dois, como por exemplo o mesmo período em que moravam em Brasília, na década de 1970. Diz a nota que os dois eram mato-grossenses e mantinham uma amizade de longos anos. Para o presidente do TSE, o jornalista fará falta não apenas como profissional, mas também como pessoa ímpar e especial

Prêmio Esso

Moreno venceu o Prêmio Esso de Informação Econômica de 1999 com a notícia da queda do então presidente do Banco Central Gustavo Franco e a consequente desvalorização do real.

No fim da década de 1990, estreou sua coluna de sábado. Publicada até o último sábado (10), passou há alguns anos a levar o nome do próprio Moreno.

Desde 10 de março, comandava o talk show “Moreno no Rádio”, na CBN, às sextas-feiras à tarde. Era também o âncora do programa “Preto no Branco”, do Canal Brasil. E mantinha aparições frequentes na GloboNews.

Também em março, lançou o livro “Ascensão e queda de Dilma Rousseff”. É autor de “A história de Mora – a saga de Ulysses Guimarães”, lançado em 2013.

 Nas redes sociais, familiares, amigos e colegas lamentam a morte do jornalista

 

Willian Bonner

Pausa no silêncio.

“Se o Jornalismo pudesse escolher a hora do descanso de seus ícones, não teria levado o Moreno num momento desses”.

Alexandre Garcia

“Como será que o Moreno vai explicar ao Doutor Ulysses a confusão em que está metida a política brasileira?”

Gilberto Gil

“Meu amigo Jorge Bastos Moreno, sempre rodeado de amigos, da laje ao cafofo, você vai fazer falta. Muita falta”.

 Jorge Viana (PT-AC), senador

“Era uma das figuras mais brilhantes do jornalismo brasileiro.”

Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), senador

“É uma pena que um jornalista como este, que escrevia com tanta criatividade, e trazia senso de humor mesmo nos momentos mais difíceis que o Brasil atravessava, desapareça de nosso meio deixando essa falta entre os colunistas, entre aqueles que como nós o admiravam.

Paulo Hartung (PMDB), governador do ES

“O Brasil perde um dos seus grandes nomes com a morte do jornalista Jorge Bastos Moreno. Dono de um texto peculiar e de comentários que misturavam crítica e ironia, ele escreveu história na imprensa, em especial no jornalismo político. Com seu trabalho, retratou fatos importantes do país ao longo dos seus 40 anos de carreira. Vai fazer falta para seus leitores, admiradores e amigos. Deixo aqui meus sentimentos à família.”

Rodrigo Rollemberg (PSB), governador do DF

“A morte do jornalista Jorge Bastos Moreno é irreparável para o jornalismo brasileiro. Competente, irônico, sagaz, Moreno nunca perdeu a alegria ao reproduzir as informações para o seu grande público, cativo e fiel. Moreno praticou o jornalismo da mais alta qualidade, com precisão e picardia. Brasília teve a honra de tê-lo como morador desde a década de 70, quando chegou aqui para estudar na Universidade de Brasília. Meus sentimentos a toda a sua família e a imensa legião de amigos e de leitores que hoje amanheceram mais tristes.”

Fernando Pimentel (PT), governador de MG

“Recebi com muita tristeza a notícia do falecimento de Jorge Bastos Moreno, um dos mais respeitados e premiados jornalistas brasileiros. Com humor e fidelidade no trato da notícia, Moreno vivenciou parte importante da nossa História e retratou como poucos a cena política, econômica e social do país nas últimas décadas. Tive com ele relação de amizade, ao tempo em que residi em Brasília, e guardo com carinho nossa convivência e nossas conversas, sempre afetuosas, como era do seu estilo. Aos familiares e amigos, deixo a minha solidariedade.”

Rui Costa (PT), governador da BA

“Sua história se confunde com a própria história da política nacional nas últimas décadas. Espero que Deus conforte sua família e amigos nesse momento.

A Associação Brasileira de Imprensa divulgou Nota Oficial, expressando profundo pesar pelo falecimento do colunista Jorge Bastos Moreno e solidarizando-se com sua família, e o jornal O Globo, no qual trabalhou durante 35 anos. A entidade decretou luto oficial de três dias diante dessa perda irreparável.

Segue a Nota Oficial:

Rio de Janeiro, 14 de junho de 2017.

NOTA OFICIAL

A Associação Brasileira de Imprensa expressa profundo pesar pelo falecimento do colunista Jorge Bastos Moreno, solidariza-se com sua família, e o jornal O Globo, no qual trabalhou durante 35 anos e decreta luto oficial de três dias diante dessa perda irreparável.

A morte de Moreno comoveu sua imensa legião de amigos, leitores e colegas de trabalho que um dia tiveram o privilégio de conviver com ele, além de desfrutar das suas histórias picantes sobre os inquilinos do poder com os quais sempre mimoseava os mais próximos.

Foi um profissional extraordinário que conseguia trafegar pelas mais diferentes tribos políticas com elegância e bom-humor. Moreno era também um exemplo de lhaneza de caráter no qual se espelharam jornalistas de várias gerações.

Ao nos deixar, com aquele sorriso inconfundível, nosso querido Moreno, a exemplo de José Saramago, também não partiu sozinho. Carregava pela mão o menino travesso que sempre existiu dentro dele.

Domingos Meirelles
Presidente da ABI