Morre a jornalista Rosa Cass, pioneira no jornalismo econômico


10/06/2023


Do JORNAL DO BRASIL

Faleceu neste sábado (10), de insuficiência renal, a jornalista Rosa Cass, uma das pioneiras do jornalismo econômico brasileiro. Aos 97 anos, Rosa trabalhou nas redações do Jornal do Commércio, da Tribuna da Imprensa e Folha de São Paulo.

Nascida em Campos de Goytacazes, sua família veio da Moldávia, fugindo da perseguição aos judeus. Começou tardiamente no jornalismo, após fazer carreira como professora e pedagoga. Era considerada uma das mais combativas repórteres da área econômica e costumava questionar autoridades.

Especializou-se na cobertura do mercado financeiro, ajudou a formar uma geração de jovens jornalistas que estavam começando na carreira nos anos de 1980, 1990 e 2000. Rosa Cass ainda atuou como voluntária no Instituto Rogério Steinberg, onde treinou jovens carentes para refletir sobre o que acontecia – e editava o jornal do Instituto com matérias escritas por eles. Gostava muito de Literatura e era amiga pessoal de várias escritoras, como Clarice Lispector e Nélida Piñon, que a levou para assessorá-la em seu mandato na Academia Brasileira de Letras.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, jornalista Octávio Costa, conviveu com Rosa Cass e lamentou profundamente a sua morte. “Rosa Cass foi uma jornalista aguerrida, questionadora e à frente do seu tempo. Ajudou a formar uma geração de jovens jornalistas, especialmente mulheres que estavam chegando à editoria de Economia após a ditadura. Deixa legado de luta e compromisso com o jornalismo combativo”.

Seu diretor e editor no Jornal do Commércio por muitos anos, o jornalista Aziz Ahmed, se recorda da personalidade firme com autoridades, mas também doce com os amigos. “Conheci a Rosa desde os anos de chumbo, quando a cobertura econômica era a mais importante, até porque eram conhecidas as limitações da editoria política, no regime militar. O Brasil vivia o um período de pujante crescimento. E a cobertura econômica se concentrava no Rio de Janeiro. Trabalhávamos em jornais diferentes. Ela sempre chamou atenção pela ousadia, a aguçada curiosidade e a polêmica com os entrevistados. Uma excelente e respeitada repórter, numa época que o jornalismo econômico era raro de presença feminina. Anos mais tarde, início dos anos,1980, quando fui dirigir a redação do Jornal do Comércio, trouxe a Rosa para a nossa equipe, onde ela trabalhou por longo período e consolidou uma fraterna amizade, não só comigo, mas com todos, absolutamente todos os seus companheiros de trabalho”.

O jornalista Gilberto Menezes Côrtes, colunista de economia do Jornal do Brasil, conviveu com Rosa Cass desde o começo no jornalismo. “Rosa Cass foi uma das minhas referências femininas no jornalismo econômico. Aprendi muito com ela a não se intimidar diante de um ministro, presidente de Banco Central ou banqueiro e grande empresário. Para ela não havia constrangimento para obter uma resposta em nome do leitor.”

As jornalistas Sônia Araripe e Ana Fonseca prepararam um vídeo em homenagem à Rosa Cass pela passagem do recente aniversário dela, em abril de 2023. “Ela adorou a homenagem dos amigos de profissão e fontes. Ficou emocionada”, conta Ana Fonseca. Sônia Araripe, editora de Plurale, destaca o papel pioneiro de Rosa impulsionando outras mulheres jornalistas. “Ela era inspiradora. Cobrava muito das fontes, mas era suave nas cobranças. Me ensinou muito e também à outras colegas de redação”.

O velório está marcado para este domingo, dia 11 de junho, das 7h30 às 9h na Chevra Kadisha, na Rua Barão de Iguatemi 306, Praça da Bandeira, e o enterro será no Cemitério Israelita de Belford Roxo, às 10h30.