Memória de uma grande paixão nacional


30/04/2008


José Reinaldo Marques
09/05/2008

 Solange Noronha

Em 39 anos de fotojornalismo, Wilson Alves passou pelos mais importantes jornais cariocas, como Última Hora, Tribuna da Imprensa, O Globo, JB e O Dia, e cobriu os mais variados assuntos. Entre eles, a maior paixão nacional nos esportes, tema de sua mais recente exposição, “Ídolos do futebol”, que esteve em cartaz no Espaço Cultural da Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Fesudeperj) em abril:
— Tive o privilégio de acompanhar em ação durante três décadas, dos anos 70 aos 90, alguns dos melhores jogadores brasileiros, como Paulo César Caju, Zico e o seu irmão Edu, Roberto Dinamite e Rivelino, um dos melhores que eu vi jogar — diz Wilson, de 62 anos e torcedor do América.

Wilson Alves estreou no jornalismo como estagiário em 1966, na agência de notícias Sport Press, trabalhando com o texto:
— Foi onde passei a apreciar a fotografia. Então, fui estudar a matéria e deixei a função de redator. De lá fui para o Jornal dos Sports, onde ainda trabalhei na redação, embora já tivesse encontrado o meu ideal.

As imagens, na verdade, o fascinaram desde a adolescência, quando devorava histórias em quadrinhos e se encantava com as imagens nos jornais que o pai levava para casa:
— Ele era leitor assíduo de títulos como o Diário de Notícias e o Correio da Manhã, que me despertaram para a profissão de jornalista.

Já formado pelo Liceu de Artes e Ofícios e a Sociedade Brasileira de Belas Artes, finalmente, em 1º de agosto de 1969, Wilson foi contratado como repórter-fotográfico do Jornal dos Sports, onde trabalhou até 1974, quando se transferiu para o Correio da Manhã. Em seguida, foi convidado para a Última Hora, de onde foi demitido, “acusado de envolvimento político”.

Censura

Em 1975, com outros fotojornalistas, integrou o movimento Póstuma, que reunia em cartazes fotos censuradas e recusadas pelos editores:
— Um deles foi o Nilo Dante, que achava que o meu trabalho comprometia o jornal e não o publicava. Fotografei um rapaz sendo torturado e a imagem dessa violência foi espalhada pela cidade. Fui convocado a depor na Polícia Federal e isso provocou minha demissão da Última Hora. Os Póstumas — chamado assim numa alusão a coisas mortas — eram distribuídos na sede da ABI, do Sindicato dos Jornalistas, em agências de notícia e de publicidade e nas redações dos jornais.

Com um trabalho “sempre fortemente relacionado à política e ousado”, o repórter-fotográfico conta que foi perseguido e ameaçado de morte três vezes:
— Uma delas pela Aeronáutica, quando me renderam com um fuzil. Só não me mataram porque eu entreguei a máquina para um sargento. Depois, em 1971, fui espancado fazendo uma cobertura boba no campo do Bangu. Um coronel, amigo do Castor de Andrade, que era contraventor e Presidente do clube, me agrediu, quebrou a minha máquina, alegando que eu havia entrado no estádio sem autorização, e ainda me acusou de subversivo.

Liberdade

Wilson diz que atualmente o repórter-fotográfico tem mais facilidade para trabalhar:
— Os fatos não são tão diferentes; eles acontecem e o bom fotojornalista documenta. Mas a liberdade hoje é muito grande, não há mais policiais correndo atrás de fotógrafo com cassetetes ou fazendo barreiras impedindo o profissional de registrar o que quer. Lembro que os fotógrafos eram proibidos de chegar perto do Médici no Maracanã, por exemplo. Tínhamos que usar teleobjetiva.

Depois de ganhar vários prêmios de fotografia da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e da Unesco, entre outros, Wilson agora é freelancer. Sobre seu talento para registrar momentos marcantes do futebol, Max Morrier, que foi editor da UH, resumiu um dia: “Em todas as pastas que eu abro do arquivo fotográfico da Última Hora, as grandes fotos esportivas são do Wilson Alves.” 


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