Luiz Gama vive!


21/06/2022


Fátima Lacerda, da Comissão de Igualdade Étnico-Racial da ABI

Hoje, 21 de junho, é o aniversário de um dos mais notáveis brasileiros, Luiz  Gonzaga Pinto da Gama, o Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. Filho de Luísa Mahin e de um branco, foi analfabeto até os 17 anos. Autodidata e dono de uma inteligência prodigiosa, em pouco tempo Luiz Gama se tornaria jornalista, advogado, escritor, poeta e o maior líder abolicionista de seu tempo. Depois de alforriado, estudou Direito e libertou centenas de escravos nos tribunais. No entanto, só seria oficialmente reconhecido como advogado em 2015! Em vida, atuou como “rábula”, obtendo licença para advogar. Por ser negro,  sua matrícula na universidade, no Largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, foi recusada, o que não o impediu de assistir a todas as aulas, como ouvinte.

Como jornalista, criou vários jornais. Entre os quais, o Diabo Coxo (1864), em São Paulo, ao lado do ilustrador Ângelo Agostini. Foi o primeiro jornal de humor de que se tem notícia. A novidade eram as caricaturas que ilustravam a conjuntura política, social e econômica com humor crítico e mordaz, permitindo, mesmo àqueles que não sabiam ler, o entendimento dos fatos. Em 1869, fundou o Jornal Paulistano, com Rui Barbosa. Outros viriam. Seus poemas, artigos, cartas e máximas estão reunidos no livro “Com a palavra Luiz Gama”, de Lígia Fonseca Ferreira.  É o patrono da cadeira número 15 da Academia Paulista de Letras.

Filho de mãe alforriada, Luiz Gama nasceu livre, no ano de 1830, em Salvador, na Bahia. Ainda menino, Luísa Mahin o deixa aos cuidados do pai e vai organizar a Revolta dos Malês (1835), depois a Sabinada (1837). O pai, um jogador inveterado, vende o próprio filho como escravo, em troca do pagamento de dívidas. Nunca mais o menino  veria sua mãe. Já escravizado, segue para São Paulo. Assim que aprendeu a ler e a escrever, com a ajuda do estudante Antonio Rodrigues do Prado, fugiu da fazenda onde vivia como escravo e tratou de provar na justiça que nasceu livre, portanto, sua escravização era ilegal. A partir daí engajou-se no movimento abolicionista. Atuou na legalidade e na clandestinidade. Um dos seus codinomes foi Spartacus, gladiador e libertador de escravos romanos. Em 1873, participou da Convenção de Itu, tendo sido um dos fundadores do Partido Republicano Paulista. Ao perceber que naquele ambiente dominado por fazendeiros não haveria espaço para suas ideias abolicionistas, afastou-se, tornando-se, em 1880, o líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.

A história de Luiz Gama é tão rica que nunca serão suficientes as homenagens e o reconhecimento do seu legado. A paixão e o amor pela liberdade moviam o filho da igualmente lendária Luísa Mahin. Luiz Gama foi casado com Claudina Gama, com quem teve um filho.  Morre em 1882, aos 52 anos.  Nesta data tão significativa, o GT pela Igualdade Étnico-Racial da ABI não poderia deixar de registrar sua homenagem: Luiz Gama vive em nossos corações, como exemplo a ser seguido, até a conquista da efetiva democracia étnico-racial, nesse país tão desigual.

Assim como Luiz Gama, o maior escritor brasileiro e um dos maiores em língua portuguesa, Machado de Assis, também nasceu em 21 de junho, nove anos depois de Gama.  Afro-descendente, filho de uma lavadeira e de um pedreiro, muito cedo ficou órfão. Aprendeu a ler, acompanhando a madrasta ao trabalho. Ela fazia a limpeza da escola enquanto Machado de Assis, do lado de fora da sala de aula, colhia as lições da janela. A elite tentou de todas as formas embranquecê-lo. O maior entre todos os nossos escritores era um homem negro e também se destacou como um grande jornalista.