Funcionários condenam fim de Diário de São Paulo


06/02/2018


Última edição de O Diário de S. Paulo

Os jornalistas do Diário de S. Paulo tornaram público o repúdio à interrupção da circulação do impresso, que foi fechado por determinação da Justiça em extensão de falência promovido em processo da Editora Minuano. O caso se trata de grande confusão societária envolvendo o jornal e as marcas Editora Fontana, Editora Minuano e Cereja Serviços de Mídia. A decisão de fechar o diário foi do juiz Marcelo Barbosa Sacramone, da 2ª Vara de Falências de São Paulo.

No comunicado assinado pela redação, comercial, Opec, distribuição e administrativo do diário, os profissionais questionam os desdobramentos da intervenção judicial. “Que fique claro, não se trata de defender nada errado. Se sócios ou administradores de gestões anteriores ou atuais cometeram malfeitos, que sejam cobrados e punidos por isso. Mas era necessário o fechamento de uma instituição centenária e que garantia o sustento de cerca de 70 famílias? Não seria possível tentar encontrar uma alternativa para salvar as dezenas de postos de trabalho?”, perguntam.

Quando a decisão saiu, o juiz explicou que as atividades estavam suspensas por cinco dias, período em que a administradora judicial poderia indicar um gestor para a atividade do veículo. Sendo assim, o jornal poderia continuar circulando, já que o juiz considera que a massa falida tem mais benefícios ao alienar um negócio que está na ativa do que um que esteja paralisado. Com relação a este ponto, os colaboradores questionam se a interventora, Dra. Joice Ruiz, cumpriu apenas parte da sentença. “Que se cumpra a determinação do juiz e que se coloque o jornal em circulação! Afinal, a cada dia sem circular, o Diário de S.Paulo perde leitores, audiência e consequentemente recursos para saldar salários, pendências e credores”.

A reportagem do Portal Comunique-se conversou com a Dr. Joice Ruiz, que explicou a situação. “Não é uma tarefa simples nomear um gestor. Essa pessoa vai assumir todas as responsabilidades do negócio e, por ora, não existe nenhuma pessoa física ou jurídica interessada. Todas as contatadas estão avaliando tanto pelo estado do jornal quanto pela responsabilidade que será atribuída”. A doutora conta que existe avaliação rigorosa e mútua, de modo que ela também está avaliando se os candidatos estão aptos a cuidar do negócio. Ela não revela os nomes das pessoas e empresas interessadas, mas afirma que segue na busca.

Ainda na carta, os jornalistas afirmam que a Justiça poderia ter feito uma apuração mais cuidadosa e eficiente, levando em conta os relatos dos funcionários que diariamente estavam trabalhando exclusivamente para o impresso. “O trabalho seguia seu ritmo normal e, melhor, os atrasos de salários, que chegaram a quase 3 meses em anos anteriores, estavam sendo reduzidos e muito perto de ficarem em dia. Não teria sido mais correto a Justiça ter ouvido o testemunho de alguns funcionários da empresa que vinham dando expediente diariamente? Na prática, nenhuma das dezenas de pessoas que subscrevem esse comunicado foram procuradas ou ouvidas”.

Redação do Diário fechada e equipamentos presos

A história do Diário de S. Paulo vai além do fechamento da sede da empresa. Com a decisão, o poder Judiciário não permite retirar objetos do prédio. Assim, os equipamentos pessoais do fotojornalista Nelson Coelho ficaram retidos, impossibilitando-o de exercer seu trabalho de forma autônoma. “Isso sim [é] uma verdadeira vergonha por parte da Justiça”, escrevem os funcionários.

O que diz o jornal

Proprietário do Diário de S. Paulo, Luiz Cesar Romera Garcia declarou que está decepcionado com a decisão da Justiça em estender o pedido de falência da Editora Minuano para o Diário de S. Paulo. “Respeito a decisão do Judiciário, mas não concordo pois nunca desvie nenhum centavo, fazendo de tudo para o bem do jornal. Ao longo dos últimos meses fizemos de tudo para mostrar à Justiça a boa fé. Mostramos que a nova administração não tinha nenhum tipo de relação com as empresas causadoras da falência. Todos os atuais funcionários e prestadores de serviço atuavam somente para o Diário SP. Após meses de extrema dificuldade, vínhamos conseguindo colocar a empresa em ordem”, relata. O executivo afirma que tenta solucionar juridicamente a situação e aguarda que a sentença do juiz seja cumprida pela interventora judicial em sua totalidade, ou seja, que o Diário de S. Paulo volte a circular.

Veja a íntegra do comunicado de Luiz Cesar Romera Garcia

Na condição de proprietário do Diário de S.Paulo, gostaria de deixar registrado minha profunda tristeza e decepção com a recente decisão da Justiça de estender o pedido de falência da Editora Minuano para o Diário de São Paulo, que acabou tendo a sua sede lacrada na última terça-feira, 23/1, e está temporariamente fechado.

Respeito a decisão do Judiciário, mas não concordo pois nunca desvie nenhum centavo, fazendo de tudo para o bem do jornal.

Ao longo dos últimos meses fizemos de tudo para mostrar à Justiça a boa fé. Mostramos que a nova administração não tinha nenhum tipo de relação com as empresas causadoras da falência. Todos os atuais funcionários e prestadores de serviço atuavam somente para o Diário SP. Após meses de extrema dificuldade, vínhamos conseguindo colocar a empresa em ordem. Com a compreensão e dedicação de nossos funcionários e colaboradores, estávamos colocando os salários em dia. Basta a Justiça ouvir qualquer um deles para saber a realidade dos fatos. Não foi o que aconteceu. O resultado disso foi uma medida precipitada e equivocada, que na prática está acabando com uma instituição centenária e deixando cerca de 70 famílias desempregadas.

No momento, seguimos tentando uma solução jurídica para o Diário não morrer. E também seguimos aguardando ansiosamente que a própria sentença do juiz seja cumprida pela interventora judicial em sua totalidade, ou seja, que o Diário de SP volte a circular.

Atenciosamente,
Luiz Cesar Romera Garcia

Veja a íntegra da carta dos funcionários do Diário de S. Paulo

Assinado: funcionários e colaboradores do Diário de S.Paulo