Homenagem ao gênio da folha seca


06/10/2009


Na passagem dos 81 anos de Waldir Pereira, o Didi, conversamos com o Péris Ribeiro autor da biografia do craque, cujo título é “O gênio da folha da seca”. Péris é campista, conterrâneo de Didi, jornalista, historiador e escritor.
Sobre a motivação que o levou a escrever sobre a vida de Didi, Péris respondeu:
“Para todos que gostam de futebol, o interesse teria que ser muito grande seja jornalista, escritor, como nós, por um gênio da bola. E isso Didi foi em toda sua plenitude. Mas, na realidade, o gancho maior foi o de sermos campista. Ambos nascemos em Campos e a amizade existia há muitos anos. O Didi sempre foi extremamente diplomático mesmo em suas visitas a Campos. Diziam que ele não ia terra, que ele jamais quis receber homenagem nenhuma de lá e aquela coisas todas. O Didi nunca deixou de ir lá. Eu fui apresentado ao Didi pelo Pinheiro e aí a amizade floresceu e fomos amigos pela vida toda até o Didi falecer. 

Fizemos a primeira edição do livro e eu muito respeitoso em relação a sérios temas que a Dona Guiomar sugeriu que não fossem colocados, como a separação do primeiro casamento, briga com Di Stéfano, no Real Madri, saída tumultuada do Fluminense. Em suma, o livro foi como uma prestação de homenagem ao gênio. Didi foi o maior jogador da Copa do Mundo de 1958 que para a felicidade nossa, campistas, nasceu lá.
Com o tempo tivemos a idéia de fazer a segunda edição. Aí um trabalho altamente profissional, sério contando toda a história de um dos jogadores mais importantes da história do futebol mundial de todos os tempos.
 
Infelizmente quando já tínhamos setenta por cento da obra a caminho, o Didi faleceu. Adoeceu e rapidamente faleceu. Eu fiquei um tanto ou quanto desmotivado naquele período. Mas a filha dele mais nova, a Liaebe, com quem tenho excelente relacionamento me estimulou muito a continuar, porque eu possuía todo o material com relação a repercussão da morte do Didi no mundo todo, inclusive material de jornais espanhóis, argentinos, revistas, como El Gráfico, jornais franceses, como L’Equipe, até hoje o jornal esportivo mais famoso do mundo, e o fundamental, uma matéria com foto tamanho, digamos destacado, num jornal sisudo como o New York Times. O New York Times não publica praticamente material sobre futebol. Saiu uma matéria extensa do Didi, com foto, e o principal entrevistado era o Pelé. Existia também um box com o professor Júlio Mazzei, que foi o treinador campeão de futebol dos Estados Unidos naquela época, treinando o Cosmos com Pelé, Carlos Alberto Torres e Beckenbauer em campo. Aí eu resolvi retomar a temática e quando o livro estava muito adiantado eu fui vitimado por um AVC e isso travou mais uma vez o livro. Quando eu senti que reunia alguma condição, mínima que fosse, eu me auto determinei a concluir o que poderia ter sido, digamos, uma promessa póstuma seja lá como for. O livro felizmente chegou ao bom termo. Concluímos a obra, o livro encorpou, saindo de dez para quinze capítulos. Tem capítulos inéditos. Hoje sou muito perguntado sobre a famosa briga do Didi com Di Stéfano, porque voltou a baila essa história dos galácticos do Real Madri com o retorno do Florentino Perez a presidência do clube. Com isso tudo a gente teve link ideal para que o livro realmente voltasse à boca de cena. 

Didi foi o homem que comandou o Brasil na sua caminhada segura ao primeiro título mundial, a ponto de ser eleito o maior jogador da Copa do Mundo da Suécia. Uma Copa na qual o Brasil lança Pelé e Garrincha. Outros craques estavam em campo como Labruna, da Argentina, Bozsic, da velha seleção húngara que encantou o mundo em 54, Masapust, da Tchecoslováquia, que veio a ser o segundo maior jogador da Copa de 62, no Chile. Tinha muito craque em campo e o Didi simplesmente foi eleito com mais de mil votos de vantagem sobre o Kopa, que veio a sagrar naquele ano o maior jogador da Europa e que foi tricampeão europeu pelo Real Madri.
Tudo isso é importante para que as novas gerações comecem a tomar conhecimento mais definitivamente de que o Brasil é isso tudo e que existiu gente muito melhor do que muita gente que engana hoje em dia ganhando milhões.
O livro teve um lançamento triunfal na Livraria Argumento, no Leblon, que é rainha daquele espaço da zona sul do Rio. Até meados do mês passado, em pesquisa feita pela Câmara Brasileira do Livro, o livro liderava a lista dos mais vendidos na área da literatura esportiva. 

A cidade de Campos sempre foi um celeiro de craques, como Amarildo, Pinheiro, Tite, Denilson, Acácio, Evaldo. O gênio da folha seca, sem dúvida, foi o maior deles e Péris nos diz da importância da biografia de Didi para a história do futebol:
“É um documento valioso para quem, inclusive, estuda um pouco também da cultura brasileira, porque as duas maiores manifestações culturais que esse país tem em termos de respeitabilidade mundial é o futebol e a música. Lá fora é futebol brasileiro e bossa nova. São os momentos máximos em que o Brasil, realmente, é visto, pelo menos de alguma maneira, como primeiro mundo. O tempo passa, já tivemos a comemoração dos cinqüenta anos do título de 58, dos cinqüenta anos da bossa nova e esses marcos continuam. O Brasil infelizmente vive, afora esses dois marcos, de um maneira global de valores individuais como seria o caso de ir lá bem atrás pegar Santos Dumont e chegar a Dom Hélder Câmara, Oscar Niemayer e vai por aí. Seriam gênios individuais e no coletivo o futebol e a música.
O brasileiro não dá bola, não resgata. Parece um povo anestesiado em ver a sua própria grandeza. Adquirir a biografia de Didi é ler sobre a história de um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. O Brasil de Didi venceu uma final de goleada contra o time dono da casa e ganhou a Copa no continente adversário. 

A briga de Didi com Di Stéfano no Real Madri de todos os tempos. Aquele sim que foi o Real Madri galáctico sem ser chamado de galáctico, porque o Dom Santiago Bernabeu criou ali uma verdadeira legião estrangeira e ganhou tudo. Foi o primeiro campeão mundial de clubes, verdadeiramente pentacampeão da Europa, cinco vezes consecutivas, venceu os torneios mais importantes como o Ramon de Carranza, o Pequeno Mundial de Caracas, Taça Tereza Herrera. Esse mundial da FIFA é ridículo. O time vai e faz dois jogos.” 

Didi nos clubes 

O início no Madureira: 

Em fevereiro de 1949, o Madureira jogou na cidade colombiana de Baranquilha e venceu o Atlético Júnior por 3 a 2. Time antes da partida: em pé, Nenem, Arati, Hermínio, Eunápio, Mineiro e Danilo; agachados, Betinho, Didi, Vaguinho, Jorge e Hélio.

Numa excursão do Madureira, Didi na fase inicial da sua carreira proffisonal, integra a equipe do tricolor suburbano, em Viçosa: em pé, Arati, Enock, Mineiro, Danilo, Nenem, Hermínio e Plácido; agachados, Lupércio, Didi, Jorge, Benedito e Betinho. 
 

Oito anos no Fluminense:
 

Didi, grande revelação do Madureira, e o zagueiro Lorenzo, do Nacional e da seleção uruguaia, foram duas importantes contratações do Fluminense para a temporada de 1949. 

Integrado ao time titular, Didi numa das formações do Fluminense na temporada de 1949: em pé, Índio, Píndaro, Castilho, Pinheiro, Pé de Valsa e Bigode; agachados, Santo Cristo, Carlyle, Silas, Didi e 109. 

Em junho de 1950, o Fluminense empatou duas vezes com a seleção uruguaia que se preparava para a Copa do Mundo. Time tricolor que empatou com o Uruguai, no Estádio Centenário: em pé, Pinheiro, Veludo, Píndaro, Pé de Valsa, Waldir e Mário; agachados, Santo Cristo, Didi, Silas, Carlyle e Tite. 

Em 1951 o Fluminense conquistou o campeonato carioca com o chamado “timinho” dirigido por Zezé Moreira. Na 5ª rodada do turno, o tricolor ganhou do Bangu por 5 a 3 e Didi marcou, segundo ele, o gol mais bonito de sua carreira, o 5º de seu time. 

No ano de seu cinqüentenário, 1952, o Fluminense se sagrou campeão da I Taça Rio e Didi era um dos destaques do elenco tricolor: em pé, Píndaro, Jair Santana, Marinho, Nestor, Pinheiro, Castilho, Villalobos, Edson e Zé Moreira; agachados, Robson, Didi, Telê, Simões, Orlando, Quincas e Bigode. 

Depois do jogo Fluminense 0 x Nacional 0 válido pela Copa Montevidéu, em 1953, o ônibus da delegação tricolor foi apedrejado a caminho do hotel. Didi foi atingido no supercílio direito. 

Na concentração do Hotel Paysandu, em 1953, Didi conversa com Pinheiro e Castilho, seus companheiros de clube e de seleções carioca e brasileira. 

Em 1955, ano anterior a sua saída do Fluminense, Didi na equipe que disputou o Torneio Rio-São: em pé, Getúlio, Edson, Pinheiro, Veludo, Lafaiete e Vistor; agachados, Telê, Robson, Valdo, Didi e Escurinho. 

A charge de Kleber Guimarães e Rubens A. Sixel mostra o retorno de Didi ao Fluminense 20 anos depois, quando assumiu a direção técnica da “máquina”, em 1975, vindo da Turquia. 

Na parte II da homenagem aos “81 anos do gênio da folha seca”, apresentaremos imagens de Didi com as camisas do Botafogo, do Real Madri e do São Paulo. 

Centro Histórico-Esportivo 

O próximo evento da série “Futebol-Arte: A Arte do Futebol” será no dia 3 de novembro, terça-feira, às 18 horas, no 7º andar da Associação Brasileira de Imprensa, na Rua Araújo Porto Alegre, 71. Os palestrantes falarão sobre “Futebol e Dança”.