Hélio Doyle deixa a presidência da EBC


19/10/2023


Com informações da Agência Brasil e O Globo

O jornalista Hélio Doyle deixou na quarta-feira (18) a presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Em nota encaminhada aos funcionários, Doyle afirma que pediu desligamento ao ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, após a repercussão negativa sobre uma postagem na rede social X. Ele agradeceu ainda a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante os meses em que ficou à frente da empresa pública de comunicação.

“O ministro Paulo Pimenta me manifestou hoje seu descontentamento por eu ter repostado, no X , postagem de terceiro acerca do conflito no Oriente Médio. Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo, que mantém posição de neutralidade no conflito, em busca da paz e da proteção aos cidadãos brasileiros. Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), agradecendo ao ministro Pimenta e ao presidente Lula pela confiança em mim depositada por todos esses meses”, diz a nota.

Nesta quinta-feira (19), Doyle enviou uma mensagem de despedida e de agradecimento aos empregados da EBC:

“As circunstâncias me levaram a deixar a presidência da empresa com apenas oito meses de gestão. Infelizmente não poderei me despedir de cada um e cada uma de vocês, por isso faço isso como minha última mensagem por esse canal.

Nesses oito meses aprendi muito com vocês e com a EBC. Foram muitas dificuldades, que enfrentei com forte disposição de trabalho e vontade de acertar. Mas também foram muitas conquistas. Errei muitas vezes, naturalmente, mas sempre procurei manter o diálogo e o entendimento como método.

A comunicação pública no Brasil é um projeto em construção, e tenho orgulho de ter participado dele. Há muitas incompreensões sobre o tema e pesada oposição dos que não a aceitam. Mas devemos seguir lutando, porque um dia, certamente, a comunicação pública será uma realidade em nosso país.

Despeço-me desejando que a EBC cresça e se consolide, o que não acontecerá se vocês não estiverem engajados nessa luta”, diz a nota.

Doyle foi nomeado como diretor-presidente da EBC no dia 14 de fevereiro. Ao todo, ele ficou pouco mais de oito meses no cargo.

Ao longo de uma extensa carreira, Doyle trabalhou como repórter, editor e chefe de redação em veículos como Correio Braziliense, O Estado de S. Paulo, Jornal de Brasília, Opinião, Folha de S.Paulo, Rede Globo, Veja, Isto É, Brasil Extra, Zero Hora e Jornal do Brasil. Durante 28 anos, foi professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Atuou ainda como chefe da assessoria de imprensa no Governo do Distrito Federal. É autor dos livros Assim é a velha política e Interregno – o feitiço de Tobago.

Hélio Doyle afirmou ao Globo que o ministro da Secretaria de Comunicação Paulo Pimenta o procurou após ele ter repostado uma mensagem em suas redes sociais em que chamava os apoiadores de Israel na guerra de idiotas. De acordo com o jornalista, Pimenta disse que seu posicionamento causou “constrangimentos ao governo”.

Mais cedo, ao GLOBO, o jornalista havia afirmado defender a coexistência pacífica entre israelenses e palestinos:

“Condeno a ocupação de territórios palestinos por Israel, assim como qualquer violência contra civis praticada por qualquer um dos lados. Isso significa que, em relação aos fatos recentes, condeno tanto o Hamas quanto o governo de Israel. Ao compartilhar o post, o apoio a Israel ao qual me refiro é quanto aos ataques indiscriminados contra a população de Gaza” disse.

Em relação ao seu então cargo na EBC, o ex-presidente havia afirmado que apoia a posição de neutralidade adotada pelo presidente Lula e que a linha jornalística da EBC se manteria imparcial — em reuniões com a equipe, disse ter solicitado que todo o conteúdo sobre a guerra escutasse os dois lados: “O compartilhamento (da postagem) reflete minha posição, de protesto contra os ataques a civis, venham de um lado ou de outro. Talvez tenha também sido motivado pelo que considero hipocrisia dos que protestam justificadamente contra o ataque a israelenses mas justificam os ataques a palestinos”, acrescentou.