Glauber Rocha no Macunaíma


05/10/2021


Filme de Tendler sobre Glauber no Macunaíma

O Cineclube Macunaíma apresenta hoje, a partir das 10h até segunda-feira, Glauber, o filme – Labirinto do Brasil (2003), de Silvio Tendler, sobre o cineasta baiano Glauber Rocha cuja morte por complicações pulmonares, aos 42 anos, completa 40 anos em 2021. Glauber, diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol, entre outras obras célebres, tornou-se um mito do cinema nacional e revolucionou o Cinema Novo. Assista no link da Caliban do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=O1m0YQFrt5g .

Há imagens também do velório e enterro de Glauber no filme, além de 30 depoimentos de vários nomes importantes para o cinema e a cultura do Brasil, como Arnaldo Jabor, Nélson Pereira dos Santos, Hugo Carvana, José Celso Martinez Corrêa, Nélson Motta e João Ubaldo Ribeiro. Às 19h30, haverá debate sobre a obra com o diretor Silvio Tendler e os cineastas Joel Pizzini, Ana Maria Magalhães e Orlando Senna. O jornalista  Ricardo Cota é o mediador. Assista pelo canal da ABI do YouTube (link:bit.ly/3uZn84f).

GLAUBER

Glauber Rocha nasceu a14 de março de 1939, em  Vitória da Conquista, na Bahia, e morreu em 22 de agosto de 198, aos 42 anos de idade no Rio de Janeiro. Foi o símbolo do Cinema Novo e talvez o maior dos cineastas brasileiros. Duas décadas depois de sua morte, o cineasta Silvio Tendler, que pertence a uma geração posterior a de Glauber, fez o documentário Glauber Rocha – Labirinto do Brasil. Além das imagens do próprio funeral, e do enterro, o filme tem depoimentos de vários nomes importantes para o cinema e a cultura do Brasil. O projeto levou tanto tempo para virar realidade porque a família de Glauber demorou a autorizar a produção. Tendler teve a consultoria de Orlando Senna, muito próximo ao cineasta de Terra em Transe e o documentário, aliás, tem cenas de vários filmes de Glauber, incluindo o último deles, A Idade da Terra, mal recebido no Festival de Veneza de 1981.

Glauber foi preso, em novembro de 1965, por estar em um protesto contra os militares durante uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Rio de Janeiro e permaneceu 23 dias na prisão. Ele viveu no exílio entre os anos de 1971 e 1976, rodando filmes por Cuba, na Europa e África.

Cineasta de temperamento polêmico, Glauber Pedro de Andrade Rocha é considerado o grande nome do cinema novo. Abandonou o curso de Direito em Salvador para trabalhar como crítico de cinema e documentarista e, em 1959 dirigiu seu primeiro curta -metragem, O pátio, seguido de Barravento, em 1962. Ele tornou-se o líder de um movimento que pregava um cinema autenticamente nacional, de autor, voltado para uma temática social e com preocupações com a linguagem. No Rio de Janeiro, o grupo é encabeçado por Nelson Pereira dos Santos e Joaquim Pedro de Andrade, e, em São Paulo, por Roberto Santos.

A partir de 1964, Glauber Rocha já figura como o cineasta brasileiro de maior prestígio internacional. Seu filme Deus e o diabo na terra do sol (1964) é premiado no Festival de Cinema Livre de Porreta, na Itália. Terra em  transe (1967) recebe o prêmio Luís Buñuel no Festival de Cannes e O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro (1969) ganha o prêmio de melhor direção, também em Cannes. Na década de 70, filma no Quênia, África, O leão de sete cabeças, e na Espanha, Cabeças cortadas, que teve sua exibição no Brasil proibida pela censura até 1979.

Seus filmes, festejados pela crítica, não tiveram êxito comercial. Deus e o diabo na terra do sol mostra um Brasil faminto, oprimido, injustiçado e religioso, retratado de uma forma bastante inovadora do ponto de vista estético. Ele fez uma severa crítica ao populismo.

Glauber, no início da década de 1970, no exterior, realizou filmes sobre movimentos populares. Em As armas e o povo documenta as ruas de Portugal durante a revolução de 25 de abril de 1974, que derrubou o regime fascista iniciado nos anos 1920 por Antonio Salazar, e destaca-se na frente das câmeras, como entrevistador. Atuou também no longa O rei do milagre, um de seus raros trabalhos como ator. O filme foi realizado, em 1971, na praia de Tarituba (RJ) pelo “Grupo Glauber”, integrado pelo ator Joel Barcellos, pelo cartunista italiano Francesco Tulio Altan e pelo produtor italiano Gianni Barcelloni.

Como jornalista, Glauber colaborou com o Pasquim, Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, entre outros, além de uma breve passagem pela televisão, no programa Abertura da Rede Bandeirantes, em meados dos anos 1970. Publicou o romance Riverão Suassuna, em 1977, e realizou os documentários Di Cavalcanti Jorge Amado no cinema, sendo o primeiro filmado durante o velório do pintor Emiliano di Cavalcanti no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em outubro de 1976, e premiado em Cannes, no mesmo ano, com o prêmio Especial do Júri. O seu último filme é A idade da terra, de 1980. Em agosto de 1981, é internado em Lisboa com problemas broncopulmonares e, já em coma, foi transferido para o Rio de Janeiro onde morreu no mesmo mês.

Sobre o cineasta e sua obra já foram publicados diversos livros, dentre eles, Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome, de Ismail Xavier; Glauber Rocha – Textos e entrevistas com Glauber Rocha, de Sylvie Pierre e Glauber Rocha – Cartas ao mundo, de Ivana Bentes. Foram ainda produzidos os vídeos Glauber Rocha – Quando o cinema virou samba, dirigido por José Roberto Torero, e que Que viva Glauber, de  Aurélio Michiles.

SILVIO TENDLER

Silvio Tendler possui as três maiores bilheterias do documentário brasileiro (“Os anos JK – Uma trajetória política”, “O Mundo Mágico dos Trapalhões” e “Jango”) e mais de sessenta prêmios, dentre eles seis Margaridas de Prata – C.N.B.B e o Prêmio Salvador Allende no Festival de Trieste, Itália, pelo conjunto da obra. Sua trajetória revela décadas de pesquisas que deram origem a seu acervo particular de imagens, com mais de 80.000 (oitenta mil) títulos sobre a História do Brasil e do Mundo dos últimos 60 anos, sendo, possivelmente, o maior do gênero existente no Brasil. Ele iniciou sua trajetória no cinema através do Movimento Cineclubista, quando em 1968, assume a Presidência da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro e, no mesmo ano, realiza seu primeiro filme sobre a Revolta da Chibata, após conhecer o marinheiro João Cândido, mas os negativos originais de seu filme foram queimados.

Ao abandonar o curso de Direito na PUC/RJ, em 1969, para dedicar-se ao cinema virou réu em um IPM quando um amigo sequestra um avião para Cuba. Ao se desvincular das acusações, exilou-se no Chile, onde fica por dois anos, realizando filmes. Em 1972, vai para a França estudar cinema, especializando-se em Cinema Documental e, no ano seguinte, integra um coletivo para realizar  “La Spirale”,  sobre a eleição de Salvador Allende  até sua violenta derrubada três anos depois.

Em 1975, forma-se em História, pela Université de Paris VII e participa da primeira turma do Curso de Cinema e História orientada por Marc Ferro. Em 1976, finaliza seu Mestrado em Cinema e História pela École des Hautes-Études/Paris VII – Sorbonne. No mesmo ano retorna ao Brasil e dá início à realização de seu primeiro longa-metragem, “Os anos JK – Uma trajetória política”. Em 1977, passa a integrar o corpo docente do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, onde leciona até os dias de hoje. Em 1980, lança o filme “Os anos JK – Uma trajetória política”.

Dirigiu ainda os seguintes filmes: “A Era JK” “O Mundo Mágico dos Trapalhões” “Jango”, sobre a carreira política de João Belchior Marques Goulart, presidente deposto pelos militares em 1º de abril de 1964, quando criou Caliban Produções Cinematográficas, empresa especializada na produção de biografias históricas de cunho social. Lança “Jango”, em 1984. No mesmo ano recebe a Medalha Pedro Ernesto, do Município do Rio de Janeiro. Silvio contribuiu para a Fundação do Novo Cinema Latino-americano, Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano e do Comitê de Cineastas da América Latina, dirigiu a Fundação Rio (RIO ARTE). De 1995 a 1996, foi Secretário de Cultura e Esporte, no Distrito Federal. Dirigiu a TV Brasília e o seriado “Anos Rebeldes” na TV Globo.

Assumiu a Coordenação de Audiovisual para o Brasil e o Mercosul da Unesco, organismo vinculado às Nações Unidas voltado para a Educação e Cultura, em 1997. E, em 1998 realiza o filme “Castro Alves – Retrato falado do poeta” e, em 2000, produz “Rio Republicano” e “Dr. Getúlio” , além de “Bósnia”, uma série de quatro filmes.

Em 2001, o cineasta realiza os filmes “Marighella, Retrato falado do guerrilheiro”“Milton Santos, pensador do Brasil” e “Entrevista completa de Milton Santos; em. 2002 ,“JK – O menino que sonhou um país”,; e, em 2003, recebeu a Medalha JK – Centenário JK, do Ministério da Cultura. No mesmo ano foi homenageado com inauguração da Sala de Cinema Silvio Tendler, em São João de Meriti, produzindo ainda longa e o média-metragem “Glauber – O Filme, Labirinto do Brasil”,“ 30 Anos do Golpe no Chile”, “Paulo Carneiro: Espelho e Memória”; “Memória, Paz e Inclusão Digital”, para a UNESCO.

Silvio foi homenageado pelo Governo de Minas Gerais pela participação na campanha pelas Diretas Já,  recebeu o Prêmio Golfinho de Ouro pelo conjunto da obra, a Medalha Tiradentes uma homenagem retrospectiva no X Festival de Cinema de Paris. Em 2009, recebe o Diploma de Honra ao Mérito da PUC/RJ e, em 2010, produz a videoinstalação “Há muitas noites na noite – Poema Sujo Ferreira Gullar” no Oi Futuro Ipanema e o curta-metragem “Carta a Zelito Vianna – Ao mestre com carinho”. Em 2011, recebeu o Notório Saber, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No mesmo ano foi homenageado com uma Mostra de Cinema “O Documentário Segundo Silvio Tendler” realizada pela IBRACINE – Ibero Brasil Cine Festival. Realiza ainda os filmes “Tancredo, A Travessia”“O Veneno está na mesa”“Matzeiva, Juliano” “Giap, Memórias Centenárias de Resistência”.

Em 2012, recebeu o Prêmio Parceiros da Paz e da Sustentabilidade 2012 – 2016 e foi homenageado no Festival do Audiovisual Luso Afro Brasileiro, FestFilmes. Em 2013, foi homenageado pelo Talento em traduzir a identidade brasileira, pela COPPE-UFRJ e no Festival Internacional de Biografias; recebeu o Título de Cidadão de Niterói e, no mesmo ano a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedida pela ABI.

Em 2014, ganha oo Troféu Fundação Memorial da América Latina, do IX Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo e realiza os filmes “Agricultura Tamanho Família – Uma alternativa ao agronegócio”“J. Carlos – O Cronista do Rio”“O Veneno está na Mesa II”“Militares da Democracia: os militares que disseram Não”“Os Advogados contra a Ditadura: Por uma questão de Justiça” e “Privatizações: a Distopia do Capital”; além das séries “Brasil Místico”“Os Advogados contra a Ditadura” e “Militares da Democracia: As histórias dos militares que resistiram ao golpe de 64”.

Em 2015, Silvio recebeu, das mãos de Victor Álvarez, filho de Santiago Álvarez, o “Prêmio Noticiário ICAIC”, por sua obra e, sobretudo, por ter dedicado sua vida inteira à Revolução Latino-americana e por sua aproximação com os artistas e a cultura cubana, em especial com Santiago Álvarez. Entre 2015 e 2019, Silvio Tendler produziu as séries “Sonhos Interrompidos”“Caçadores da Alma III” e “Brasil, Travessias”; oito longas-metragens, “Alma Imoral”“Há muitas noites na noite”“Sonhos Interrompidos”“Dedo na Ferida”“Fio da Meada”“Ferreira Gullar, Arqueologia do Poeta”“Santiago das Américas ou o olho do Terceiro Mundo”“Ibiúna, Primavara Brasileira”, e o curta “Castro Maya”. Em 2020, lançou “Em Busca de Carlos Zéfiro” e “Nas Asas da PanAm”, “Chico Mário” e a série “Arte Urbana”. Em 2021, A bolsa ou a vida.