Fotojornalismo como forma de interpretar o mundo


14/10/2008


Bernardo Costa
17/10/2008

 Erika Ferreira


O recifense José Otavio de Souza entrou na Universidade Católica de Pernambuco em 1980 para cursar Comunicação, com opção em Jornalismo. Não demorou muito para perceber que encontrava mais facilidade para se expressar por imagens do que por texto:
— Apesar de ser uma das linguagens mais complexas do mundo, a fotografia consegue uma comunicação imediata. Já na infância eu ficava fascinado com uma caixa que minha mãe guardava, cheia de fotografias da família, de viagens, da nossa cidade… Eram verdadeiras raridades e só de vez em quando ela deixava que eu as visse.

Como na época da faculdade não havia uma cadeira dedicada à Fotografia, Otavio tornou-se autodidata: comprou uma máquina e diversos manuais e começou a praticar. Em 1984, surgiu uma oportunidade de estagiar no Laboratório Acê Filmes, de Alcir Lacerda:
— Foi uma excelente chance para aprender mais com o Alcir, um excelente fotógrafo pernambucano, com mais de 50 anos de profissão e na ativa até hoje. Tive sorte de conhecer pessoas que ajudaram muito em minha carreira, e ele foi uma delas.

Outra pessoa importante foi a ex-professora Vera Ferraz, que, percebendo a afinidade de Otavio com as artes visuais, o levou para fazer um curso de edição de imagem na Rede Globo Nordeste, em 1988:
— Foi importante e só não segui carreira na TV porque já estava muito envolvido com a fotografia. Por coincidência, o marido dela, Vladimir Barbosa, era o editor da área no Jornal do Commercio de Recife e estava precisando de fotojornalista. A Vera me indicou e eu fiquei lá por dois anos.

Em sua matéria de estréia, Otavio lembra que não teve as fotos creditadas, apesar de elas terem saído na primeira página:
— A reportagem era sobre uma feira de livros usados que acontece até hoje em Recife. Naquele tempo, as pessoas não tinham o cuidado de hoje e minhas imagens saíram com o nome de outro colega.

Frila

Quando saiu do Jornal do Commercio, Otavio montou um laboratório nos fundos de casa e começou a trabalhar como freelancer:
— Fiz de tudo, até assessoria de imprensa e casamentos. Foi outra experiência importante para mim, pois a cada dia aprendia mais sobre revelar, ampliar e manipular imagens. Hoje, com a tecnologia digital, os jovens não têm contato com estes processos da fotografia analógica. Muitas etapas são queimadas e eles não aprendem como deveriam.

O repórter-fotográfico, porém, não vê qualquer outra limitação nos novos equipamentos:
— Acho apenas que o profissional deve conhecer e estudar a história e todos os processos de captação de imagens, para se tornar um fotógrafo melhor. Sem dúvida, a máquina digital é um avanço e permite uma velocidade de comunicação muito maior. Recentemente, por exemplo, estava vendo ao vivo, pela TV, o treino de uma etapa do circuito de F-1, e os comentaristas falavam sobre a renovação do contrato de Raikkonen com a Ferrari. Horas antes, porém, eu já tinha visto na internet uma foto do piloto no mesmo treino e uma matéria sobre a renovação do contrato.

Em 1991, Otavio trocou os frilas pelo Diário de Pernambuco:
— Conheci outra pessoa importante na minha carreira, o José Maria Garcia, que na época era o secretário gráfico de lá, o que hoje corresponderia a editor de arte. Ele me levou para o jornal. onde trabalhei 16 anos, nove dos quais como editor de Fotografia.

Segundo ele, seu olhar é o mesmo para fotografar ou editar uma imagem:
— Quando estou editando, é como se eu estivesse com a câmera no olho. E o mais legal e misterioso é quando eu vejo que o profissional fez a foto exatamente da maneira como eu faria.

Política

Um dos temas prediletos de Otavio são as coberturas políticas, pelo desafio que apresentam:
— É um exercício democrático em que a foto é o meu discurso, pois ela contém, inevitavelmente, minha posição diante do fato. O homem é um ser político, mas o profissional de comunicação não deve, em hipótese alguma, revelar suas preferências políticas, deve saber separar a opinião do trabalho. Por mais que a fotografia e seus elementos mostrem subliminarmente suas convicções, ele deve procurar manter sempre o distanciamento necessário para a reportagem isenta.

Em 2007, Otavio voltou a atuar como frila e conta que um de seus últimos trabalhos foi a cobertura do Festival do Frio, que percorre várias cidades do interior pernambucano, em uma semana de atividades culturais:
— Fui contratado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e fotografei o evento quando ele passou pela cidade de Triunfo.

Agora, está envolvido em outro projeto, também da Fundarpe, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, o Comunicando Cultura, iniciativa que oferece formação artística a 108 jovens de comunidades carentes do Recife:
— Eles têm aulas dos mais diversos tipos de arte e quem me convidou foi o fotógrafo Fred Jordão, coordenador do projeto. No primeiro dia, falei das diferenças entre fotografia digital e analógica e estou animado com mais esta gratificante experiência, já preparando as próximas aulas.

Profissão

Mesmo já tendo participado de algumas mostras — como “Postais do Recife” e outra sobre o carnaval da cidade —, Otavio ainda acredita que a melhor exposição para um fotojornalista é a publicação diária de seu trabalho em qualquer mídia. Diz também que a profissão contribui para aprimorar a forma de ver e de interpretar o mundo:
— Além de nos dar a oportunidade de conhecer lugares diferentes. Em 15 anos, percorri todas as regiões do meu estado e outras tantas do Brasil. Também fui a Nova York em 1996, como prêmio por vencer um concurso fotográfico no Recife.

Para definir a boa foto, ele cita o filósofo francês Roland Barthes: “Uma fotografia tem que ter um ponto que é percebido e que mexe com a emoção de quem observa.”. E acrescenta, para quem deseja ingressar na profissão, que ela exige trabalho duro e constante:
— No fotojornalismo, você aprende a cada dia, com cada pauta cumprida, aprimorando o olhar permanentemente. Sem esquecer que é fundamental ser ético e respeitar os personagens que entrarem na mira de sua câmera. 

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