04/09/2006
Claudio Carneiro
08/09/2006
— O patrão era amigo do meu pai. Naquela época, esse tipo de indicação era muito comum. E os estúdios faziam retratos — lembra.
Em 54, ele estreou na revista O Cruzeiro, onde atuou por 23 anos. Lá, trabalhou com o repórter David Nasser e tinha como colegas da Fotografia Indalécio Wanderley, Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto. Nessa fase, a inauguração de Brasília e o lançamento da missão da Apollo 11, que chegou à Lua, estão entre seus trabalhos mais importantes:
— O ano foi 1969. Eu e o Indalécio viajamos cobrir o concurso de Miss Universo. No intervalo, fomos até Cabo Canaveral, fotografamos o lançamento da espaçonave e voltamos para a grande final do concurso. Éramos dois fotógrafos, sem nenhum repórter. A imagem era mais importante que o texto em O Cruzeiro.
Uma missão que deu muito trabalho foi o treinamento de combate à guerrilha — em plena Amazônia — durante a ditadura. Viola se diverte ao contar que chegou a ganhar um certificado de conclusão de curso antiguerrilha dado pelos militares. E destaca que os anos de chumbo foram o período que rendeu os trabalhos mais importantes e arriscados:
— Os movimentos estudantis e o enterro do estudante paraense Edson Luís de Lima Souto — quando os militares confundiram a bandeira do Pará com a de Cuba — foram muito marcantes.
O fotógrafo acabou preso durante o embarque dos militantes de esquerda trocados pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick.
— Eu consegui entrar pelos fundos do aeroporto do Galeão, onde havia uma cerca meio aberta. Entrei por ali e fiz a foto. Os militares me viram. Fiquei preso por algumas horas e, depois, fui liberado. Esta foto que fiz não é aquela oficial, publicada em diversos jornais — para provar que os “subversivos”, entre eles Fernando Gabeira e José Dirceu, tinham embarcado. A que saiu no Cruzeiro é que era minha.
No JB, Viola trabalhou por 17 anos — “como você pode ver, não gosto muito de mudar de emprego”, brinca. Perguntado se ganhou algum prêmio na carreira, ele dispara:
— Nunca concorri a prêmio nenhum. Sempre fugi de duas coisas: concorrer a prêmios e dar entrevistas.
Polêmica
Durante o conflito Malvinas/Falklands, mesmo sem desembarcar no campo de guerra, Viola causou grande polêmica ao fotografar um bombardeiro inglês apreendido por invadir nosso espaço aéreo:
— O avião foi levado para o Galeão e a imprensa toda correu para lá. Peguei uma teleobjetiva de 500 milímetros e fiz a foto da varanda do aeroporto. Como a objetiva muito grande tende a juntar — ou “chapar”, como dizemos — os diferentes planos, dá a impressão de que o Pão de Açúcar estava colado no Galeão. Muita gente pensou até que a foto tivesse sido feita do Santos Dumont e dezenas de leitores escreveram para o jornal para dizer que a foto era mentirosa ou montada. O jornal teve de publicar uma nota explicando, tecnicamente, como ela fora tirada.
BR>Apesar dos muitos anos de carreira e das variadas coberturas que fez, Viola tem um arquivo pessoal muito modesto:
— Havia normas muito rígidas em O Cruzeiro. Eles não permitiam que ficássemos com fotos nossas. Tenho pouca coisa e não sei que fim levou o material da revista. Mas nunca tive essa preocupação. Sempre achei que iria embora e que O Cruzeiro e o JB ficariam para sempre. Acabou acontecendo o contrário.
Avaliando sua trajetória, ele acha que valeu a pena:
— Conheci o mundo inteiro e consegui viver e sobreviver graças à fotografia. Cobri a Copa do Mundo de 66, na Inglaterra, a inauguração em Portugal — pelo próprio Oliveira Salazar — da ponte sobre o rio Tejo. Estive também em Cuba, Estados Unidos, Áustria, Espanha, Itália, Suécia, Rússia, Irlanda, Argélia, Tunísia e outros países de que não me recordo agora.
Quanto aos avanços tecnológicos, como a fotografia digital e o envio de fotos pela Internet, Viola não esconde o entusiasmo:
.— Tudo ficou mais fácil! E este é o futuro. Os jornais precisam de muita agilidade na feitura das matérias e na edição. Antigamente, você ia para o jogo de futebol, fotografava os primeiros cinco minutos de jogo e mandava o que tinha feito pelo motorista. O material era revelado, ampliado e selecionado para publicar. Hoje, o fotógrafo faz tudo isso de dentro do campo, pelo celular ou pelo laptop. O processo ficou mais ágil. Acho até que o filme não vai acabar, nem a foto em preto e branco, mas as inovações vieram para ficar. Para a imprensa, o futuro é digital.
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