Entrevista – Mônica Waldvogel


04/09/2006


Jornalismo como prestação de serviço

Rodrigo Caixeta
08/09/06

Com mais de 20 anos de profissão, Mônica Waldvogel é hoje uma das mais conhecidas jornalistas da televisão brasileira. Influenciada por uma prima, decidiu que queria seguir a carreira quando tinha apenas 11 anos de idade. Começou no jornalismo diário em 1982, na extinta TV Manchete, onde foi repórter nas editorias de Cultura e Economia, e acumula passagens pelo SBT, a Record e a Rede Globo, onde assumiu, em março deste ano, a bancada paulista do “Jornal das dez”, do canal Globonews. Além disso, concilia o trabalho de jornalista ao de apresentadora do “Saia justa”, programa que vai ao ar no GNT e do qual é idealizadora e responsável pelo conteúdo editorial.

Nesta entrevista, Mônica comenta as diferenças entre as coberturas de economia e política, a experiência de ter testemunhado fatos históricos no período em que trabalhou em Brasília e a função do jornalista, independentemente de o profissional ser homem ou mulher. Fala também da adrenalina de fazer entrevistas ao vivo, diz que a reportagem é a nobreza do jornalismo, opina sobre a exigência do diploma para a prática da profissão e comenta as peculiaridades de apresentar um jornalístico e um programa de entretenimento.

ABI OnlineQuando despertou em você o interesse em se tornar jornalista e o que a motivou a escolher esta profissão?
Mônica Waldvogel — Comecei a me interessar pelo jornalismo aos 11 anos, conversando com uma prima que já estava prestando vestibular. Ela me disse que ser jornalista era estar onde as coisas estão acontecendo e contar para os outros. Essa definição me fascinou.

ABI OnlineVocê começou carreira como repórter de revistas especializadas em agricultura e comércio exterior e, no jornalismo diário, como repórter nas áreas de cultura e economia. Tem preferência por alguma editoria?
Mônica — Trabalhei muito tempo com economia e política. Gosto das duas áreas. Enquanto economia tem regras e normas, a política tem um lado muito humano, levanta questões importantes para todo o País, dissolve conflitos; há ali muitos sentimentos envolvidos que motivam o jornalista. 

ABI OnlineDos tempos como repórter, você saberia dizer qual foi a sua grande matéria ou aquela que tornou seu trabalho mais notório?
Mônica — Fiquei em Brasília entre 1987 e 1996, um período de muitos acontecimentos na História do Brasil. Cobri a promulgação da Constituinte e todos os planos econômicos, desde o Cruzado até o Real. Durante todo esse período, tive oportunidade de acompanhar a construção da obra da estabilidade econômica. O fim de uma era de um governo com uma cultura de gastos desenfreados, emissão de moedas sem controle, sindicatos fortes, passagem de diversos ministros da Fazenda, a criação da lei de responsabilidade fiscal. Passos importantes que foram dados pelo País e eu tive a oportunidade de contá-los.

ABI OnlineComo foi fazer este trabalho por tanto tempo na capital do País e de que forma essa experiência contribuiu para a sua carreira?
Mônica — Foi um privilégio. Acompanhei o Brasil com uma inflação de 85% ao mês, na Era Collor, e também com deflação. Cobri o impeachment do Collor e outras importantes CPIs, como a do orçamento.

ABI OnlineAo todo, são quantos anos dedicados ao jornalismo? Você chegou a ter outra profissão?
Mônica — São 26 anos. Formei-me em 1980 e desde 1982 estou na TV.

ABI OnlineAtualmente, você é uma das jornalistas mais conhecidas da TV brasileira. O fato de ser mulher exerceu alguma influência nessa trajetória de sucesso?
Mônica — Não houve influências nem positivas nem negativas. O jornalista tem que gostar do que faz, se entusiasmar, ir atrás da novidade, do fato, apurá-lo da melhor maneira possível. Não importa se é homem ou mulher. 

ABI OnlineO telejornalista adora estar ao vivo porque sempre há a possibilidade de arrancar algo inesperado do entrevistado. Mas como dosar essa autonomia para não deixar o entrevistado em situação embaraçosa ou constrangedora?
Mônica — O gostoso de estar ao vivo é a adrenalina tanto do jornalista como do entrevistado. Há um momento mágico, em que as palavras corretas são escolhidas, os dois ficam mais espertos. Quanto à autonomia, deve ser dosada pelo limite ético. Um entrevistado que ocupe um cargo público tem que saber que ele será cobrado ao dar uma entrevista. Ele deve prestar contas à sociedade. Em outras entrevistas, como com artistas, por exemplo, o jornalista não tem o direito de constrangê-lo, pois está ali para apresentar seu trabalho.

 ABI OnlineVocê se formou pela USP e disse, numa entrevista, que, embora tenha aprendido a pensar e ler na escola, não saiu de lá jornalista. Você é contra o diploma de jornalismo?
Mônica — Não sou a favor. Acredito que ser jornalista não é simplesmente ter um diploma. As faculdades de Jornalismo têm se preocupado muito com a técnica e esquecido o conteúdo. O jornalista vive do contemporâneo, mas ele precisa saber o que ocorreu no passado, essa é a maneira de ele ser um bom profissional. As ferramentas, em pouco tempo você aprende a utilizar no ambiente de trabalho. Não quero dizer com isso que não existam excelentes jornalistas que saíram da faculdade de Comunicação. Acho apenas que o diploma não deve ser fator determinante. O jornalista tem que estudar, tem que saber ouvir e perguntar e saber contar o que ouviu. O jornalismo é uma prestação de serviço. 

 ABI OnlineVocê também já disse que a reportagem é o trabalho mais nobre do jornalismo. Hoje, no entanto, trabalha mais como apresentadora, embora tenha experiência em outros cargos no telejornalismo. Qual das funções você mais gosta de desempenhar na profissão? Por quê?
Mônica — Considero mesmo a reportagem a nobreza do jornalismo. Ela permite que você conheça pessoas diferentes e outras realidades e quebre antigos paradigmas. Ajuda também a treinar a compaixão, a tolerância. A edição também tem seu brilho. Você tem todas as notícias do dia em suas mãos, todos os fatos ali e precisa organizá-los da melhor maneira possível. Você precisa se preocupar com a linguagem em que você se comunica, tem que montar um quebra-cabeça, hierarquizar os fatos. E há bastante do trabalho de repórter também, você tem que mergulhar nas agências de notícias, apurar certos fatos com determinadas fontes. O espírito de repórter é mantido.

ABI OnlineRecentemente, você voltou ao jornalismo diário, à frente da bancada paulista do “Jornal das dez”, da Globonews. Como foi?
Mônica — Foi como voltar para casa. Depois de 48 horas, me sentia como se nunca tivesse saído do hard news.

ABI OnlineQuais as diferenças entre fazer jornalismo em TV aberta e num canal fechado?
Mônica — A principal diferença é a linguagem. Na TV fechada você sabe com que público está falando. No “Jornal das dez”, especificamente, o telespectador provavelmente já tem a notícia. O que nós precisamos apresentar é o novo: um ângulo diferente, uma análise diferenciada…

“Saia justa”: com Bete Lago, Luana Piovani e Márcia Tiburi

ABI OnlineEm que momento da sua vida você pensou em criar o “Saia justa”? Como você concebeu esta idéia?
Mônica — A idéia foi de um colega da redação. Ele acreditava que poderíamos fazer um programa como o “Manhattan connection”, mas só com mulheres. Gostei da idéia e pensei em trazer mulheres totalmente diferentes. O objetivo do “Saia justa” não era ser mais uma dessas revistas femininas e de beleza que dão todas as fórmulas para as mulheres serem felizes, mas sim mostrar que todas as mulheres estão perdidas e não concordam com nada. O programa é contrário aos de auto-ajuda.

ABI OnlineE qual é a principal diferença de postura entre a apresentadora do “Saia justa” e a do “Jornal das dez”?
Mônica — Enquanto no “Saia justa” eu discuto comportamento, valores, angústias e dores, no “Jornal das dez” sou jornalista. Não sei muito bem como isso se organiza na minha cabeça, mas tem dado certo. Agora que estou no “Jornal das dez”, percebi que tenho emitido menos opiniões políticas no “Saia justa”, tenho sido mais discreta.

ABI OnlineComo foi sua experiência como produtora independente do talk show “Dois a um”, que ia ao ar no SBT?
Mônica — Foi excelente. Fizemos mais de 80 entrevistas e conseguíamos boa audiência. Infelizmente, como negócio o programa não se pagava e por isso foi extinto. 

ABI OnlineComo você avalia a cobertura da mídia diante da crise política que afeta o País?
Mônica — Acredito que a mídia esteja caminhando muito bem. Por viverem em uma realidade extremamente competitiva, estão todos tentando fazer o melhor, pois sabem que a melhor cobertura de determinado fato será destacada. Com essas características, quem ganha é o público, que passa a ter informação com mais qualidade. Hoje em dia, notícias manipuladas são logo percebidas.

ABI OnlineQue tipo de relação você mantém com a ABI?
Mônica — Acompanho as ações da ABI e acredito que a Associação seja muito importante, por representar a liberdade de imprensa. Ela está sempre presente quando a democracia é ameaçada.