Ensinamento de pai para filho


12/11/2007


Marcia Martins
14/11/2007

Enquanto a maioria das crianças de 13 anos pensa em brincar ou trocar os primeiros beijos com as meninas, Wilton Júnior, com essa idade, já começava a desenhar seu futuro profissional. Filho de fotógrafo e com vários parentes na mesma profissão, não foi difícil escolher a carreira.

Ainda era muito novo quando contou a Wilton Souza que queria ser fotógrafo. A resposta foi um sorriso e a constatação de que teria que se virar sozinho: ”Nunca pedi nada a ninguém. Você vai ter que correr atrás” — disse o pai. E assim foi feito:
— Fui falar com o editor de Fotografia do Jornal dos Sports, Jair Mota, que eu já conhecia porque meu pai tinha trabalhado lá. Ele me disse que teria que falar Noene Horta, editor geral, mas ele estava viajando. Quando voltou, me deixou trabalhar no laboratório.

O trabalho não era bem o esperado. Antes de dar o primeiro clique, começou identificando o material que os outros fotógrafos traziam da rua e tinha também a função de deixar o laboratório limpo. Foi nessa época que aprendeu a fazer os cortes nas fotos.
— Fiquei no Jornal dos Sports sem ganhar nada. E ainda não podia ir para a rua, já que meu pai tinha pedido ao editor que não me deixasse fazer matérias enquanto não aprendesse tudo de laboratório.

Depois de algum tempo, Wilton Júnior passou a acompanhar os fotógrafos nas reportagens. Ele fazia fotos, mas depois revelava não apenas as suas imagens, como as dos colegas profissionais:
— Este foi o melhor curso que fiz na vida. Aprendi com fotógrafos experientes.

Pauta

Algumas vezes o rolo batido era carregado no bolso até a redação do Dia, onde o pai trabalhava. O editor Roberto Jacob sempre perguntava que pauta ele tinha feito naquele dia e deixava que o filme fosse revelado lá também:
— Ele sempre me mandava ir estudar, dizendo para eu largar a profissão. Mas para o meu pai dizia que não tinha jeito e que eu iria seguir o mesmo caminho dele.

Wilton também aprendeu a ter um olhar diferenciado para conseguir uma bela imagem. Em 1989, percebeu que o jogador Maurício Gonçalvez, do Botafogo, tinha cortado o cabelo da mesma forma que outro jogador. Sem compromisso de cobrir o treino, pôs os dois juntos e fez a foto — que acabou sendo publicada pelo Dia, mas sem crédito.

Após o período no Jornal dos Sports, Wilton foi ser colaborador na Folha Dirigida. Quando tirou o registro profissional, teve que ser “demitido”, uma vez que não tinha carteira assinada. Isso ocorreu quando estava com 18 anos, idade com que ingressou no Exército — e nem enquanto serviu ficou longe da câmeras. Descobriram que ele sabia fotografar e isso foi o suficiente para que os superiores determinassem que ele fotografasse os eventos da corporação:
— Eles me obrigavam a tirar as fotos e depois elas eram vendidas. Eu não ganhava nenhum centavo.

Quando largou o Exército, Wilton voltou a procurar emprego como fotógrafo. Após fazer frilas para O Dia e o Jornal dos Sports, está há seis anos no Estadão, onde cobre diversas editorias.

Para quem conheceu ainda muito jovem o universo da fotografia, com máquinas analógicas e laboratórios, a evolução tecnológica só trouxe agilidade e rapidez a todo o processo:
— Antes, quando tínhamos que fazer uma pauta em outra cidade, o laboratório tinha que ser levado na mochila e montado no banheiro. Agora é tudo mais ágil. A gente tira a foto e minutos depois ela já pode ser publicada, no site e no jornal.

Aos que estão iniciando carreira, sua dica é a mesma que recebeu do pai: correr atrás do que quer sozinho e não ficar esperando que as pessoas proporcionem as oportunidades.

Como projeto próximo, Wilton não pensa em exposições ou viagens mirabolantes. Ele parece lembrar o menino de 13 anos que começava a pensar em ser fotógrafo um dia:
— Quero cobrir uma Copa do Mundo. É tudo o que quero hoje — afirma, com o mesmo entusiasmo infanto-juvenil.


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